Futuro da Europa e Governo português: ausência e indiferença

Poucos têm noção dos danos que esta posição política está a causar à imagem — tradicionalmente pró-europeia e europeísta — de Portugal.

1. Ninguém tem falado disso, mas, em matéria europeia, há uma falha política incompreensível, inexplicável e inaceitável do Governo português. Confesso que ando há seis meses para escrever este artigo, mas, sempre com a esperança de não ter de o escrever, fui adiando até hoje. Já que o Governo de Costa não o fazia por iniciativa própria, tinha a confiança de que, através dos canais diplomáticos e políticos, conseguiria convencê-lo a pôr na sua agenda — na nossa agenda — a Conferência sobre o Futuro da Europa. Fui fazendo essa pedagogia a espaços, visivelmente sem resultados e sem êxito. Em intervenções pontuais, na comunicação social ou em reuniões europeias, de modo mais frontal e veemente, fui fazendo a crítica à total indiferença a que o Governo de Lisboa votou a dita conferência. Julgava que, espicaçado pelo aguilhão da crítica, ainda assim discreta e contida, o ministério liderado por Santos Silva mudaria a sua atitude e a linha política de absoluta desvalorização deste evento. Com o advento da pandemia, justificava-se nova tolerância. Entretanto, o tempo foi passando e a preparação da presidência portuguesa de 2021 aproxima-se a passos largos. Mas, a respeito da Conferência sobre o Futuro da Europa, reina o maior mutismo. Por isso, na sede própria — em audição na Comissão de Assuntos Europeus da Assembleia da República —, denunciei esta grave falha do Governo português. Com efeito, no programa das próximas três presidências — alemã, portuguesa e eslovena — não há espaço para contemplar a Conferência. E nessa lacuna, atento o contraste de posições entre a chanceler Merkel e o primeiro-ministro Costa, é clara a influência portuguesa. Poucos têm noção dos danos que esta posição política está a causar à imagem — tradicionalmente pró-europeia e europeísta — de Portugal. Estou em crer que o próprio Governo, incapaz de ver para lá dos corredores estreitos e espelhados do Conselho, não terá uma ideia do dano reputacional em que está a incorrer.

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1. Ninguém tem falado disso, mas, em matéria europeia, há uma falha política incompreensível, inexplicável e inaceitável do Governo português. Confesso que ando há seis meses para escrever este artigo, mas, sempre com a esperança de não ter de o escrever, fui adiando até hoje. Já que o Governo de Costa não o fazia por iniciativa própria, tinha a confiança de que, através dos canais diplomáticos e políticos, conseguiria convencê-lo a pôr na sua agenda — na nossa agenda — a Conferência sobre o Futuro da Europa. Fui fazendo essa pedagogia a espaços, visivelmente sem resultados e sem êxito. Em intervenções pontuais, na comunicação social ou em reuniões europeias, de modo mais frontal e veemente, fui fazendo a crítica à total indiferença a que o Governo de Lisboa votou a dita conferência. Julgava que, espicaçado pelo aguilhão da crítica, ainda assim discreta e contida, o ministério liderado por Santos Silva mudaria a sua atitude e a linha política de absoluta desvalorização deste evento. Com o advento da pandemia, justificava-se nova tolerância. Entretanto, o tempo foi passando e a preparação da presidência portuguesa de 2021 aproxima-se a passos largos. Mas, a respeito da Conferência sobre o Futuro da Europa, reina o maior mutismo. Por isso, na sede própria — em audição na Comissão de Assuntos Europeus da Assembleia da República —, denunciei esta grave falha do Governo português. Com efeito, no programa das próximas três presidências — alemã, portuguesa e eslovena — não há espaço para contemplar a Conferência. E nessa lacuna, atento o contraste de posições entre a chanceler Merkel e o primeiro-ministro Costa, é clara a influência portuguesa. Poucos têm noção dos danos que esta posição política está a causar à imagem — tradicionalmente pró-europeia e europeísta — de Portugal. Estou em crer que o próprio Governo, incapaz de ver para lá dos corredores estreitos e espelhados do Conselho, não terá uma ideia do dano reputacional em que está a incorrer.