Com a liberdade de Yoko Ono, num museu triste

Em Serralves, uma viagem a um universo artístico em que o fazer poético foi sempre político, confiante na imaginação espiritual do espectador.

Foto
nelson garrido

É a imagem de uma ironia triste a que se pode ver nas exposições de Yoko Ono e Arthur Jafa, em Serralves. É domingo e nas salas, pelos corredores, à volta das obras, circulam poucas pessoas. Um casal ali, duas amigas acolá, uma família em passo rápido. As circunstâncias atenuam este cenário melancólico, mas o paradoxo é penoso, quase insuportável. As obras dos dois artistas incitam ao movimento dos corpos, a um envolvimento desprendido e curioso. A uma espontaneidade imperfeita, mas a uma espontaneidade. Ora, não há espontaneidade sem rostos abertos, quando o medo e a incerteza se insinuam, invisíveis e tangíveis. Nestas condições, a arquitectura de Siza Vieira transfigura-se: revela-se mais dura, quase inumana. Um museu cheio de obras, mas sem aqueles que o amam, corre o risco de deixar de ser um museu. Tornar-se-á outra coisa, mas não um museu na sua acepção mais humanizada. Diga-se: deixará de ser um museu, para ser um receptáculo de coisas. Certamente que este cenário hipotético não deleitaria Yoko Ono. Afinal a sua exposição retrospectiva chama-se Jardim da Aprendizagem da Liberdade. Instalações, palavras, filmes, sons distribuem-se pelas salas do museu, numa sequência de reptos inesperados, por vezes violentos, por vezes delicados, inscritos em letras grandes nas paredes brancas: Liberdade para a Humanidade, Peace is Power, Fly, War is Over.

A verdade faz-nos mais fortes

Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.

É a imagem de uma ironia triste a que se pode ver nas exposições de Yoko Ono e Arthur Jafa, em Serralves. É domingo e nas salas, pelos corredores, à volta das obras, circulam poucas pessoas. Um casal ali, duas amigas acolá, uma família em passo rápido. As circunstâncias atenuam este cenário melancólico, mas o paradoxo é penoso, quase insuportável. As obras dos dois artistas incitam ao movimento dos corpos, a um envolvimento desprendido e curioso. A uma espontaneidade imperfeita, mas a uma espontaneidade. Ora, não há espontaneidade sem rostos abertos, quando o medo e a incerteza se insinuam, invisíveis e tangíveis. Nestas condições, a arquitectura de Siza Vieira transfigura-se: revela-se mais dura, quase inumana. Um museu cheio de obras, mas sem aqueles que o amam, corre o risco de deixar de ser um museu. Tornar-se-á outra coisa, mas não um museu na sua acepção mais humanizada. Diga-se: deixará de ser um museu, para ser um receptáculo de coisas. Certamente que este cenário hipotético não deleitaria Yoko Ono. Afinal a sua exposição retrospectiva chama-se Jardim da Aprendizagem da Liberdade. Instalações, palavras, filmes, sons distribuem-se pelas salas do museu, numa sequência de reptos inesperados, por vezes violentos, por vezes delicados, inscritos em letras grandes nas paredes brancas: Liberdade para a Humanidade, Peace is Power, Fly, War is Over.