Autoridades de Hong Kong proibem vigília sobre Tiananmen pela primeira vez em 30 anos

A polícia da região administrativa especial argumentou com o risco de contágio de covid-19. Movimento pró-democracia contesta e diz que número de casos não justifica decisão “irrazoável e sem base científica”.

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Vigília em memória das vítimas do massacre de Tiananmen celebrada em 2017 JEROME FAVRE/LUSA

As autoridades de Hong Kong proibiram a maior vigília em memória das vítimas da repressão na Praça de Tiananmen, em 1989, argumentando com o risco de contágio de covid-19. Há 30 anos que a celebração se realizava anualmente e o seu cancelamento está a ser encarado como mais um sinal do endurecimento do controlo da China sobre a região administrativa especial. 

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As autoridades de Hong Kong proibiram a maior vigília em memória das vítimas da repressão na Praça de Tiananmen, em 1989, argumentando com o risco de contágio de covid-19. Há 30 anos que a celebração se realizava anualmente e o seu cancelamento está a ser encarado como mais um sinal do endurecimento do controlo da China sobre a região administrativa especial. 

“Este ano, no 31.º aniversário [da revolta na Praça Tiananmen em Pequim], sem que a lei de segurança nacional esteja em vigor, a vigília foi proibida pela polícia por causa do vírus”, disse esta segunda-feira Lee Cheuk-yan, presidente da Aliança de Hong Kong em Apoio ao Movimento Democrático e Patriótico da China, organizadora do evento. “Acreditamos que é totalmente irrazoável e sem base científica, por tudo estar normal em Hong Kong. Estão a usar esta desculpa [o vírus] para impedir a concentração”, criticou em conferência de imprensa. 

As autoridades de Hong Kong registaram na segunda-feira três novas infecções, perfazendo um total de cinco nos últimos dois dias, depois de duas semanas sem se identificarem casos, diz o South China Morning Post. Mas os argumentos das forças de segurança não são suficientes para aplacar os receios e medos dos manifestantes pró-democracia, por verem a proibição como primeiro passo para uma definitiva – era o único local na China a realizar semelhante evento, para além de Macau. A vigília tornou-se conhecida por ser um momento de oposição ao regime de partido único e as palavras de ordem contra ele tornaram-se comuns.

Além disso, a inédita proibição acontece depois de Pequim ter imposto uma lei de segurança nacional à região, contornando o seu Conselho Legislativo, bloqueado pela oposição pró-democracia. A nova lei vai proibir qualquer acto de traição, secessão, sedição e subversão contra o Governo central de Pequim e o movimento pró-democracia vê-a como ameaça directa ao direito de manifestação e contestação da crescente influência chinesa, no que diz ser uma desvirtuação do principio “um país, dois sistemas”. Já Pequim argumenta estar a exercer o seu direito soberano e a combater o caos que desde Junho do ano passado diz ter-se instalado em Hong Kong.

Em alternativa, a organização da vigília pediu a quem queira participar que acenda velas nas janelas e que se junte a celebrações na Internet. Alguns elementos da organização vão marcar presença no Parque Victoria, no centro de Hong Kong, para um minuto de silêncio em memória das vítimas da repressão do exército da revolta dos estudantes universitários chineses a 4 de Junho de 1989