Sucedem-se os protestos contra a demolição do edifício Y-blokka, em Oslo

É uma história antiga, a da demolição deste bloco em forma de “Y”, um projecto do arquitecto Erling Viksjø, que tem obras de Picasso e do escultor Carl Nesjar. A câmara de Oslo e o governo norueguês estão divididas acerca do assunto e há um abaixo-assinado a pedir que se encontrem outras soluções.

Foto

Um protesto contra a demolição do edifício Y-blokka, construído em 1969 no Regjeringskvartalet, o “bairro do governo”, realizou-se na noite de sábado em Oslo, na Noruega. Os manifestantes protestaram também contra a retirada, para recolocação num outro lugar, da obra O Pescador, desenhada por Pablo Picasso e executada pelo escultor norueguês Carl Nesjar no exterior do edifício, virado para uma praça pública, e de A Gaivota, desenhada também por Picasso e instalada no átrio. Paralelamente às acções de protesto, corre um abaixo-assinado a exigir alternativas à demolição, um documento que esta segunda-feira contava já mais de 47 mil assinaturas. 

A verdade faz-nos mais fortes

Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.

Um protesto contra a demolição do edifício Y-blokka, construído em 1969 no Regjeringskvartalet, o “bairro do governo”, realizou-se na noite de sábado em Oslo, na Noruega. Os manifestantes protestaram também contra a retirada, para recolocação num outro lugar, da obra O Pescador, desenhada por Pablo Picasso e executada pelo escultor norueguês Carl Nesjar no exterior do edifício, virado para uma praça pública, e de A Gaivota, desenhada também por Picasso e instalada no átrio. Paralelamente às acções de protesto, corre um abaixo-assinado a exigir alternativas à demolição, um documento que esta segunda-feira contava já mais de 47 mil assinaturas. 

É uma história antiga, a da demolição deste edifício em forma de “Y”, projecto do arquitecto norueguês Erling Viksjø integrado num conjunto arquitectónico que inclui também o Høyblokka, o Bloco H, também por si desenhado e construído anos antes, em 1959. Ambos sofreram danos com as explosões do ataque terrorista do radical de extrema-direita Anders Breivik, que matou 77 pessoas a 22 de Julho de 2011.

Desde 2014 que o governo norueguês defende que o Y-blokka tem de ser demolido por questões de segurança causadas pelos estragos do atentado, e nessa altura a Câmara de Oslo concordava com esta decisão, tendo recentemente mudado de ideias. Mas de nada servirá, pois o governo norueguês está a levar avante a demolição, só tendo aceitado que as obras de arte de Carl Nesjar e de Pablo Picasso devem ser preservadas.

“Vamos mostrar o nosso desgosto perante a demolição sem sentido do edifício Y-blokka e com o poder estatal, que, com a sua arrogância, não nos ouvirá nem verá outras soluções. Desenhe, pinte, escreva em cartazes que possam ser pendurados na cerca”, lia-se na página da manifestação criada no Facebook. Os organizadores pediam que, em tempo de covid- 19, os participantes obedecessem a regras como a presença de um máximo de cinco pessoas de cada vez e mostrassem respeito pelo local, sem vandalismo.

Durante os últimos dias muitos têm sido os protestos, como o de Ellen de Vibe, a ex-presidente da Câmara de Oslo, que se sentou em frente do edifício e foi retirada e arrastada pela polícia, conta ao PÚBLICO a arquitecta Margarida Pais, formada na Faculdade de Arquitectura da Universidade do Porto (FAUP), que vive e trabalha em Ålesund, na Noruega, onde tem um atelier.

Há também artistas e cidadãos que deixam flores ou pintam mensagens na cerca que rodeia o edifício. Um deles foi  AFK, que em protesto pintou na cerca um Picasso, com a sua típica camisola às riscas com a gola em forma de ípsilon. Tem o braço esticado, com a mão aberta em sinal de “stop”, reclamando o fim da demolição. Conta a arquitecta que passadas algumas horas o desenho foi retirado, só restando agora uma orelha do Picasso original. “Muita gente luta contra o governo para parar esta calamidade”, acrescenta Margarida Pais.

Ver esta publicação no Instagram

It’s exactly in times like these, of uncertainty and unease, that we should be cherishing everything that is symbolic of our best values, not tearing them down. Y Block is a symbol of Social Democracy and a reminder of a time when we triumphed over fascism. It was a fascist who tried to destroy it on the 22nd of july 2011, but unknown to most people, it suffered no structural damage… it was built to stand for a thousand years! I can’t help but feel a little queasy with the thought of this exquisite work of art being razed, only to be replaced by more neoliberal architecture. What does that say about symbolic significance? I’m sure Pablo Picasso will be turning in his grave with the thought of this work hanging anywhere other than where he had intended:( #Y-Blokka #laystå #Oslo #PabloPicasso #TheFishermen #CarlNesjar #ErlingViksjø #SocialDemocracy #Gatekunst #Streetart #AFK

Uma publicação partilhada por Afk Artwork (@afk_artworks) a

Sucedem-se também os debates nos canais de televisão e noutros meios acerca da insistência do governo norueguês em levar avante esta decisão apesar de três organizações, entre as quais a Ordem dos Arquitectos, terem anunciado a 13 de Fevereiro a sua intenção de pôr o caso em tribunal e estarem agora a pedir que a retirada das obras de arte seja adiada até à decisão judicial. O governo rejeitou o pedido, alegando custos financeiros e o atraso das obras que para ali já estão aprovadas. O projecto de renovação do quarteirão propõe a construção de quatro novos edifíciosA 20 de Fevereiro, o Ministério de Administração Interna e da Modernização deu o aval para que se iniciasse a demolição. E o baixo-relevo O Pescador já está tapado com um pano. 

Em Outubro do ano passado, Gudmund Stokke, o arquitecto responsável pelo novo projecto arquitectónico no Regjeringskvartalet, que deverá estar pronto em 2025, explicava ao Ípsilon que a decisão de demolir o Y-blokka tinha sido prévia ao concurso que o seu atelier, o Nordic, ganhou para a requalificação do bairro. 

Actualização às 20h48  com a especificação das razões de segurança que levam a que o governo norueguês queira demolir o edifício desde 2014