Milo Manara deixou o erotismo (por momentos) para homenagear as “guerreiras” da covid-19

Com a devastação causada em Itália pelo covid-19, as mulheres de Manara passaram de mitos eróticos a heroínas da pandemia.

Foto

A 15 de Março, o italiano partilhou com o mundo uma ilustração um pouco diferente do habitual: uma enfermeira de costas (e completamente vestida) a olhar de frente para o novo coronavírus. Desde então, Milo Manara tem vindo a divulgar uma série de aguarelas a homenagear as diferentes profissões que mantêm o país a funcionar. Profissionais de saúde, mas também trabalhadores de supermercado ou de recolha do lixo, estafetas, carteiros, camionistas e polícias são alguns dos que não podem parar e todos os dias arriscam a vida pela segurança de todos. Tendo o ilustrador dedicado a sua vida a desenhar mulheres, estas figuras são, precisamente, femininas.

A verdade faz-nos mais fortes

Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.

A 15 de Março, o italiano partilhou com o mundo uma ilustração um pouco diferente do habitual: uma enfermeira de costas (e completamente vestida) a olhar de frente para o novo coronavírus. Desde então, Milo Manara tem vindo a divulgar uma série de aguarelas a homenagear as diferentes profissões que mantêm o país a funcionar. Profissionais de saúde, mas também trabalhadores de supermercado ou de recolha do lixo, estafetas, carteiros, camionistas e polícias são alguns dos que não podem parar e todos os dias arriscam a vida pela segurança de todos. Tendo o ilustrador dedicado a sua vida a desenhar mulheres, estas figuras são, precisamente, femininas.

Com 74 anos, Milo está há semanas fechado com a esposa na casa de campo de ambos na região de Veneto. O italiano contou ao Washington Post que não estava a conseguir desenhar. “O pavor estava por todo o lado. Não conseguia encontrar o estado de espírito indicado para desenhar algo que parecesse sereno.” Para os que conhecem o seu trabalho, sabem que passou os últimos 50 anos a desenhar o corpo feminino das mais diversas formas, mas mantendo sempre um ambiente mítico, sonhador e a roçar o surreal e a fantasia. No início do isolamento, pôs tudo isso de lado e dedicou-se a “tentar prestar homenagem a estas guerreiras”.

Foto
Milo Manara. DR

Estes retratos representam todos os que são considerados essenciais e, portanto, não podem permanecer seguros em casa. Milo diz que queria “fazê-los sentirem-se menos esquecidos”. “É claro que essas são todas personagens femininas, já que a minha carreira tem sido dedicada principalmente à celebração da beleza feminina. Neste caso, porém, senti que estava na hora de celebrar outras virtudes, como a coragem, a abnegação e o altruísmo. De alguma forma, queria pagar a minha dívida.” Confessa que se sentiu na obrigação de agradecer a estas pessoas – até por, com 74 anos, pertencer a um grupo de risco elevado no que toca à covid-19.

Entretanto, o artista já conseguiu encontrar a inspiração para regressar ao seu trabalho normal, mas vai conciliando a criação dessas ilustrações irreais com a dos retratos bastante reais destas heroínas do isolamento. Para lá do risco a que se expõem todos os que saem à rua, Manara também se mostra preocupado com os perigos que muitas mulheres podem estar a enfrentar dentro das próprias casas, como a violência doméstica e até o femicídio.

Fotogaleria
Milo Manara

Com um total de 2.388.268 pessoas infectadas com SARS-CoV-2, 164.918 mortos e grande parte do mundo em isolamento, estes heróis da pandemia são os mesmos pelo mundo fora. O italiano diz que tem recebido mensagens provenientes de muitos países. E promete não se esquecer de nenhuma mulher que esteja a combater o vírus na linha da frente — a lista de retratos a fazer ainda é longa, mas Milo Manara garante que os irá fazer a todos. “Estou a eternizá-las em papel para que possamos lembrá-las daqui a um, dois, dez anos. Espero que nos ajudem a entrar num novo mundo.”