Covid-19: enfermeiros portugueses na linha de combate no Reino Unido 

A infecção e consequente hospitalização do primeiro-ministro, Boris Johnson, ajudou a acentuar a gravidade da doença no país que contabiliza quase 10 mil mortes por covid-19.

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O Reino Unido registou esta semana um novo máximo no número de mortes diárias Carl Recine/Reuters

Quando escutou o apelo do Governo britânico, a vimaranense Alexandra Freitas não hesitou e juntou-se à linha de combate à pandemia da covid-19 no Reino Unido, que mobiliza vários enfermeiros portugueses. 

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Quando escutou o apelo do Governo britânico, a vimaranense Alexandra Freitas não hesitou e juntou-se à linha de combate à pandemia da covid-19 no Reino Unido, que mobiliza vários enfermeiros portugueses. 

“Como alguém que tem a formação de enfermeira e experiência em cuidados intensivos, era importante, nesta altura, ajudar o país. Até pelo juramento profissional que fiz”, disse à agência Lusa. 

No Reino Unido há 12 anos, Alexandra Freitas tinha-se afastado do trabalho em hospitais e era consultora numa farmacêutica há três anos, beneficiando de um melhor equilíbrio da vida familiar para passar mais tempo com o filho de seis anos. 

Mas a situação é de crise e, antevendo uma sobrecarga no serviço nacional de saúde (NHS), o Governo de Boris Johnson lançou o apelo Your NHS Needs You, parafraseando a campanha de recrutamento militar para a Segunda Guerra Mundial, para atrair 65.000 de médicos e enfermeiros aposentados ou afastados da profissão. 

A empresa empregadora facilitou e libertou o pessoal clínico que quisesse aceitar, e a portuguesa está agora na unidade de cuidados intensivos do hospital de East Surrey, a sul de Londres, onde são colocados os pacientes em estado mais grave. 

“Emocionalmente, sou muito forte, mas até a mim me está a afectar. Tenho muitos sonhos relacionados com o trabalho”, admitiu Alexandra Freitas, uma entre milhares de enfermeiros portugueses recrutados para trabalhar em hospitais britânicos nos últimos anos após o fim da licenciatura.

O Reino Unido registou esta semana um novo máximo no número de mortes diárias, 980, e o número de pessoas infectadas aproxima-se de 80.000, mas os especialistas acreditam que a curva epidemiológica ainda não atingiu o pico. 

A infecção e consequente hospitalização do primeiro-ministro, Boris Johnson, ajudou a acentuar a gravidade da doença, que no Reino Unido já fez quase 10 mil mortes, entre os quais perto de duas dezenas de profissionais de saúde. 

O executivo britânico está sob pressão para acelerar e reforçar os testes de diagnóstico e o fornecimento de material de protecção para acalmar os receios destes trabalhadores. 

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A campanha da NHS alude ao recrutamento durante a Segunda Guerra Mundial Domínio Público/Gov Reino Unido

É o caso de Élia Monteiro, enfermeira de cuidados primários em dois centros de saúde da capital, que considera que o equipamento fornecido ao seu nível “não é adequado” e que seria preferível ter maior protecção. 

Embora não esteja a lidar com os casos mais graves, tem de observar regularmente pessoas com sintomas e em breve poderá ser envolvida num centro de triagem. 

“No início, foi muito stressante, as pessoas vinham ao médico de família e misturavam-se com outros pacientes. Não respeitavam as distâncias, e a solução foi fechar as portas dos centros”, explicou à Lusa a portuguesa, há cerca de 17 anos no Reino Unido. 

Um dos centros onde trabalha fica numa zona onde existe uma comunidade asiática numerosa e Élia Monteiro “tinha a noção de que já existiam casos de pessoas com sintomas e que existia risco de contágio”.

Há cerca de três semanas, a Direcção-Geral de Saúde de Inglaterra emitiu as directivas para o uso de luvas, bata e máscara, cujo nível é reforçado nos hospitais, onde são usadas toucas, viseiras e aplicados procedimentos de limpeza rigorosos. 

O Daily Telegraph noticiou na quinta-feira que a falta de equipamento necessário forçou três enfermeiras dos cuidados intensivos do hospital de Northwick Park, em Harrow, a oeste de Londres, a recorrer a sacos do lixo como batas improvisadas. 

Mas o português Pedro Silva, enfermeiro-chefe de cuidados intensivos naquela unidade hospitalar, garante que actualmente não existem problemas neste campo, nem em termos de capacidade a nível de camas. Responsável pela gestão de pessoal, Pedro Silva disse à Lusa que o principal desafio tem sido a adaptação constante a novos protocolos e riscos, pelo que o treino é constante. 

“Uma das coisas que esta crise vai mudar é a forma como os enfermeiros trabalham. Há certos cuidados que aprendemos e que temos de mudar mais rápido por causa da pandemia”, enfatizou o portuense que vive há 11 anos no Reino Unido.

A pressão que existe sobre os enfermeiros ao seu cuidado é uma das preocupações, e por isso existe apoio de psicólogos e psiquiatras, mas desdramatiza o risco a que estão expostos. “Calma, aqui ninguém vai morrer. Mas temos de nos preparar mentalmente. Isto vai ser uma maratona”, avisa.

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Uma placa a agradecer aos profissionais de saúde no Reino Unido Carl Recine/Reuters

Alexandra Freitas concorda, quando afirma que está mais protegida numa unidade de cuidados intensivos hospitalares a tratar de pacientes infectados com o novo coronavírus do que num centro de saúde ou lar de idosos, onde o nível de protecção é menor e não estão a ser feitos testes de diagnóstico. 

Recorrendo a uma expressão inglesa, garante: “Mais vale um diabo conhecido do que um anjo por descobrir”.