Porta-aviões francês com pelo menos 50 casos de coronavírus a bordo

O porta-aviões Charles de Gaulle estava a participar em exercícios militares no Mar Báltico e já está a regressar a França. Abordagem francesa contrasta com a americana para o porta-aviões Theodore Roosevelt.

Foto
O porta-aviões francês Charles de Gaulle Jean-Paul Pelissier/Reuters

O único porta-aviões francês, o Charles de Gaulle, tem pelo menos 50 marinheiros infectados por coronavírus e está a regressar a França, onde os seus marinheiros vão desembarcar para serem tratados. É uma abordagem que contrasta com a que a Marinha dos Estados Unidos adoptou ao focar-se na prontidão de combate do Theodore Roosevelt, o primeiro de três porta-aviões americanos com casos de coronavírus. 

A verdade faz-nos mais fortes

Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.

O único porta-aviões francês, o Charles de Gaulle, tem pelo menos 50 marinheiros infectados por coronavírus e está a regressar a França, onde os seus marinheiros vão desembarcar para serem tratados. É uma abordagem que contrasta com a que a Marinha dos Estados Unidos adoptou ao focar-se na prontidão de combate do Theodore Roosevelt, o primeiro de três porta-aviões americanos com casos de coronavírus. 

“Os resultados de 66 testes mostram 50 casos de covid-19 a bordo do Charles de Gaulle. Não há deterioração [do estado de saúde] dos marinheiros”, disse em comunicado Ministério das Forças Armadas francês, referindo que três marinheiros foram transportados de imediato para um hospital militar em Toulon, no Sul de França. 

A Marinha francesa enviou uma equipa para realizar testes a bordo mal se suspeitou de casos de coronavírus no porta-aviões nuclear francês com uma tripulação de 1760 pessoas. Partes do navio foram postas em quarentena e os casos suspeitos foram testados, a que se juntaram outras medidas de segurança destinadas a proteger os marinheiros, sem o Ministério das Forças Armadas dar mais pormenores. 

O porta-aviões estava a participar em exercícios militares no Mar Báltico e já se dirige a Toulon, onde se encontra a sua base, diz a Reuters. Já a AFP diz que o navio estava a participar num exercício no Atlântico. 

A gestão da situação do porta-aviões francês contrasta com a abordagem adoptada pelo Pentágono quando se soube que havia vários casos de coronavírus no Theodore Roosevelt, um dos dois porta-aviões destacados no Pacífico Ocidental para projectar poder militar contra a China e a Coreia do Norte. No total, já há três porta-aviões com infecções a bordo, o que poderá pôr em causa a capacidade operacional da Marinha americana.

O secretário interino da Marinha americana, Thomas Modly, que entretanto se demitiu, anunciou a 24 de Março que três marinheiros dos 5000 no Theodore Roosevelt estavam infectados – esta quinta-feira foram detectadas 416 infecções (229 delas assintomáticas), aguardando-se os resultados de 1164 testes. Não há relatos de equipas destacadas para se realizar testes logo após as primeiras detecções e só quando os casos começaram a aumentar, dois dias depois, é que o secretário interino ordenou ao porta-aviões que atracasse na ilha de Guam, para que os marinheiros fossem testados. 

Marinheiros e seus familiares tinham partilhado nas redes sociais vídeos a alertar para a situação, com poucas consequências. O comandante do Theodore Roosevelt, Brett Crozier, temeu pela vida dos seus marinheiros e pediu aos seus superiores hierárquicos para que medidas agressivas fossem tomadas, mas a hierarquia mostrou-se mais preocupada com a prontidão de combate do navio de guerra, apesar de ter prontificado todos os recursos que fossem pedidos. 

O comandante queria que 90% da sua tripulação desembarcasse na ilha de Guam, mas a hierarquia da Marinha recusou-o por colocar em causa a operacionalidade do navio de guerra. Insatisfeito, o comandante escreveu e enviou por canais não seguros uma carta a 20,30 pessoas com cargos superiores na Marinha que acabou por ser publicada no San Francisco Chronicle.

“Não estamos em guerra. Os marinheiros não precisam de morrer. Se não agirmos agora, estaremos a falhar em cuidar apropriadamente dos nossos activos mais importantes: os marinheiros”, escreveu Crozier na carta de quatro páginas. “A propagação da doença está a decorrer e a acelerar”. 

As palavras do comandante desautorizaram publicamente o secretário interino da Marinha. Modly tinha dito dias antes que a Marinha estava a ser capaz de lidar com o surto ao ter identificado todos os infectados, entretanto postos em quarentena. 

Em conflito aberto com a hierarquia, Crozier foi afastado do cargo por Modly, apesar de este considerar que o comandante pensou no melhor para os seus marinheiros. “Não tenho dúvidas de que o comandante Crozier fez o que achava ser o melhor interesse e bem-estar da sua tripulação”, disse o secretário da Marinha, salientando que, no entanto, fez o oposto.

Ao abandonar o porta-aviões, Crozier foi ovacionado por centenas dos seus marinheiros e Modly criticou-os, acabando depois por apresentar a demissão por causa das duras críticas. E, agora, a Marinha não afasta a hipótese de o voltar a integrar no cargo, o que poderá resultar num confronto entre o secretário interino e a hierarquia militar – à semelhança do que aconteceu com o SEAL americano Eddie Gallagher. Uma parte significativa dos marinheiros já desembarcou em Guam, onde lhes fizeram testes e receberam cuidados de saúde.