África subsariana: covid-19 vai provocar a primeira recessão em 25 anos

Banco Mundial prevê um crescimento negativo de 2,1% a 5% e uma perda de receitas que pode chegar aos 79 mil milhões de dólares. Economia angolana será uma das mais atingidas.

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UNITA distribui comida no Cacuaco, arredores de Luanda. Angola é um dos países que mais vão sentir o impacto da crise provocada pela pandemia AMPE ROGÉRIO/LUSA

As projecções financeiras do Banco Mundial para a África subsariana são desalentadoras para os países da região. A organização reviu em baixa o crescimento previsto para 2020 por causa do impacto da pandemia do novo coronavírus, passando de um crescimento médio de 2,4% para uma quebra de entre 2,1% a 5%.

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As projecções financeiras do Banco Mundial para a África subsariana são desalentadoras para os países da região. A organização reviu em baixa o crescimento previsto para 2020 por causa do impacto da pandemia do novo coronavírus, passando de um crescimento médio de 2,4% para uma quebra de entre 2,1% a 5%.

Esta contracção da economia custará aos países da sub-região entre 37 mil milhões e 79 mil milhões de dólares em receitas perdidas devido à desaceleração económica dos seus principais parceiros, China e Europa, devido à pandemia da covid-19.

A pandemia diminuiu a actividade económica no mundo e com ela a necessidade de combustíveis, fazendo com que haja um excesso de produção numa altura em que Arábia Saudita está empenhada numa guerra de preços com os países produtores de petróleo de xisto, o que levou à queda abrupta do valor do barril de petróleo no mercado internacional.

As economias mais vulneráveis à crise serão as dependentes do petróleo e da extracção mineira, como as de Angola, África do Sul e Nigéria. Mas também aquelas que dependem em grande medida do turismo.

A crise também vai sentir-se em termos de crescimento demográfico, já que a projecção de aumento populacional para este ano foi corrigida de 3,6% para 2,7%.

Numa entrevista recente à revista Jeune Afrique, Carlos Lopes, antigo secretário executivo da Comissão Económica das Nações Unidas para África, dizia que embora a pandemia não tivesse ainda atingido o seu pico no continente, em termos económicos, é como se já estivesse: “A actividade industrial parou completamente nos países com as cadeias de valor mais importantes, a procura em matérias-primas conheceu uma redução drástica”.

Além disso, “o consumo interno, que constitui dois terços do crescimento africano, reduziu-se brutalmente”. E se os sinais de preocupação já existiam antes, como refere o economista guineense, a crise pandémica veio agravá-los de forma grave.

Por causa disso, o Banco Mundial considera que os países africanos vão precisar de uma “suspensão do serviço da dívida” e de outros apoios financeiros para enfrentar esta crise.

“O FMI anunciou 50 mil milhões de dólares [de ajuda à economia], sendo dez mil milhões de dólares para os países pobres – uma definição muito vaga que não existe sequer no seu léxico e que poderá incluir tanto o Quénia, como o Peru, como a Birmânia. No entanto, África só sairá se receber 20 mil milhões de dólares”, acrescentou Carlos Lopes, actualmente o representante especial da União Africana para as relações com a União Europeia.