Mortos em Itália ultrapassam os da China. Governo vai restringir cidadãos que fintam a quarentena

Muitos italianos aproveitam a ida às compras para confraternizar, criando grandes filas, e corridas ao ar livre para romper o isolamento. Governo prepara plano económico até 100 mil milhões de euros.

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A fazer jogging na ponte Sant'Angelo, em Roma, com toda a Itália de quarentena Reuters/GUGLIELMO MANGIAPANE

O número de mortes em Itália devido à pandemia de coronavírus ultrapassou o das vítimas na China: 3405, após mais 427 mortes em 24 horas. Face a estes números, o Governo italiano anunciou que se vai manter o encerramento obrigatório da maior parte dos serviços e a proibição das ajuntamentos até 3 de Abril; e não descarta endurecer as restrições às idas aos supermercados e farmácias e até o jogging ao ar livre. Também está a preparar um pacote económico até 100 mil milhões de euros para ajudar trabalhadores e empresas e investir nos serviços públicos. 

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O número de mortes em Itália devido à pandemia de coronavírus ultrapassou o das vítimas na China: 3405, após mais 427 mortes em 24 horas. Face a estes números, o Governo italiano anunciou que se vai manter o encerramento obrigatório da maior parte dos serviços e a proibição das ajuntamentos até 3 de Abril; e não descarta endurecer as restrições às idas aos supermercados e farmácias e até o jogging ao ar livre. Também está a preparar um pacote económico até 100 mil milhões de euros para ajudar trabalhadores e empresas e investir nos serviços públicos. 

A China, o país onde surgiu o vírus, registou um total de 313o mortos. Em todo o mundo, a covid-19 matou já 9358 pessoas, noticia o jornal italiano Corriere della Sera. Houve 229.390 casos de infecção no total, e 84.557 pessoas recuperaram da doença.

Itália é agora o centro da pandemia. “Evitámos o colapso do sistema, as medidas restritivas estão a funcionar e é óbvio que, quando atingirmos o pico de contágio, esperamos começar a voltar às nossas vidas normais – mas ainda não. As medidas que tomámos, de fechar lojas e escolas, têm de ser prolongadas”, disse o primeiro-ministro italiano, Giuseppe Conte, em entrevista ao Corriere della Sera. “Estamos prontos para libertar milhões para investimento público.” As medidas agora prolongadas caducariam a 25 de Março.

A Itália conta até ao momento 35.713 casos confirmados de covid-19 e 2987 mortes, a maioria no Norte do país. As autoridades anunciaram ainda que 4025 pessoas já estão curadas. É o país mais afectado na Europa e no mundo fica apenas atrás da China, onde a pandemia começou e se registaram mais de 81 mil casos.

O número de casos e o receio de que possam vir a aumentar levou o executivo a anunciar que as regras de circulação podem vir a ser ainda mais restritivas, começando pela proibição de se fazer exercício físico ao ar livre. 

Muitos italianos estão a respeitar a quarentena obrigatória até 3 de Abril, apesar de as autoridades já terem passado multas a mais de 40 mil pessoas que saíram de casa por razões não essenciais, mas o afastamento obrigatório dos semelhantes começa a ser demasiado duro. Há cada vez mais pessoas a irem várias vezes por semana às compras, dando azo a grandes filas e transformando estes espaços em pontos de encontro social, e passeios ao ar livre, em grupo, para apanharem um pouco de ar e confraternizarem, diz o La Stampa. E o Governo receia que esta situação piore no fim-de-semana, quando ainda mais italianos não vão estar a trabalhar e podem procurar escapar brevemente à quarentena. 

Por isso, a ministra dos Transportes, Paola De Micheli, assinou um decreto a limitar a circulação de comboios e o executivo está a equacionar restrições acrescidas: novas quotas de clientes e horários mais limitados para supermercados e farmácias, e a proibição de se correr em espaços abertos, mesmo que afastado de outros. E, se estas medidas não surtirem o efeito esperado, diz o Corriere della Sera, o Governo pode mesmo decretar que apenas um elemento de cada família em isolamento possa ir aos supermercados e farmácias, apesar de o querer evitar a todo o custo. 

Aposta no investimento público

Mas, por agora, depois do Conselho de Ministros desta quinta-feira, Conte pareceu recuar, diz o La Stampa. Na terça-feira, registaram-se 12,6% novas infecções e, na quarta-feira, caíram para 8,4%, dando esperança de que a situação não exija medidas ainda mais drásticas por a quarentena estar a resultar. “Significa que os italianos, com alguns excepções, estão a respeitar as indicações”, disse o primeiro-ministro, mas o aviso está dado: se houver italianos que continuem a sair de casa sem motivos justificados, as medidas vão avançar. 

O combate à pandemia, seja na frente na saúde ou na económica, vai prolongar-se por semanas, senão meses, e o Governo italiano está a ter esta situação em conta, diz. No Conselho de Ministros, o executivo delineou planos para se aplicarem o mais depressa possível os procedimentos para serem disponibilizados os 25 mil milhões de euros anunciados para apoiar trabalhadores, empresas e reforçar o sistema de saúde público italiano durante a crise da pandemia de coronavírus.

E não será o único pacote italiano de ajuda económica. O primeiro-ministro anunciou estar a trabalhar num novo, que pode ser entre 50 e 70 mil milhões ou mesmo de 100 mil milhões, e esperar tê-lo pronto daqui a “duas semanas”. “Estamos a trabalhar nele dia e noite, apesar da emergência. Será um trabalho para desbloquear investimento público nunca antes visto, algumas dezenas de milhões de euros”, disse Conte. “Será certamente a maior medida das últimas décadas na simplificação de procedimentos e investimento, algo que nunca ninguém fez antes e do qual a Itália precisa desesperadamente, hoje mais do que nunca.” 

O investimento maciço italiano junta-se ao já anunciado em França e Espanha. O Presidente francês, Emmanuel Macron, anunciou, ao decretar a quarentena, uma “garantia do Estado” de 300 mil milhões de euros para empréstimos bancários das empresas e o presidente do Governo espanhol, Pedro Sánchez, investimento público na ordem de 200 mil milhões de euros para ajudar trabalhadores e empresas e se fortalecer o serviço nacional de saúde.