King Krule: uma luz trémula no horizonte

Man Alive! faz colidir pós-punk, jazz fumarento e ferramentas electrónicas para criar um retrato abstracto destes tempos convulsivos.

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King Krule: aquilo que é inequívoca expressão íntima ouve-se, ao mesmo tempo, como poderosa expressão destes nossos tempos Charlotte Patmore

Uma voz sonâmbula que ameaça tornar-se irada, mas que nunca explode — a tensão, por isso mesmo, só aumenta. Caminha entre reverberações dub e guitarras fantasmagóricas, observando vidas banais que caminham cansadas em corredores de supermercado. Essa mesma voz a fazer-se neurose, uma solidão opressiva que encontra catarse na batida narcótica, naquele pós-punk a desaguar em porto trip-hop com guitarra a dissolver-se contra o sopro arranhado do saxofone — stoned again, repete a voz. E Carla Thomas, samplada da Tramp que partilhou com Otis Redding, a tornar-se espectro que assombra a divagação nocturna, madrugada alta, de uma Comet face que parece transplantada de um exíguo clube nova-iorquino onde o punk, o jazz e o noise colidiam entre si para formar essa entidade a que chamaram no-wave.

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Uma voz sonâmbula que ameaça tornar-se irada, mas que nunca explode — a tensão, por isso mesmo, só aumenta. Caminha entre reverberações dub e guitarras fantasmagóricas, observando vidas banais que caminham cansadas em corredores de supermercado. Essa mesma voz a fazer-se neurose, uma solidão opressiva que encontra catarse na batida narcótica, naquele pós-punk a desaguar em porto trip-hop com guitarra a dissolver-se contra o sopro arranhado do saxofone — stoned again, repete a voz. E Carla Thomas, samplada da Tramp que partilhou com Otis Redding, a tornar-se espectro que assombra a divagação nocturna, madrugada alta, de uma Comet face que parece transplantada de um exíguo clube nova-iorquino onde o punk, o jazz e o noise colidiam entre si para formar essa entidade a que chamaram no-wave.