Candidatura do Tarrafal a Património da Humanidade em 2021 com apoio português

Portugal vai apoiar Cabo Verde na organização do dossier técnico para a candidatura à UNESCO.

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O Tarrafal numa fotografia de 1973 DR

Os governos de Portugal e de Cabo Verde acertaram esta quarta-feira, em Lisboa, os detalhes da cooperação técnica portuguesa à candidatura do antigo Campo de Concentração do Tarrafal a Património da Humanidade, que avança em 2021.

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Os governos de Portugal e de Cabo Verde acertaram esta quarta-feira, em Lisboa, os detalhes da cooperação técnica portuguesa à candidatura do antigo Campo de Concentração do Tarrafal a Património da Humanidade, que avança em 2021.

O anúncio foi feito numa mensagem colocada pelo ministro da Cultura e das Indústrias Criativas de Cabo Verde, Abraão Vicente, na sua conta oficial na rede Facebook, juntamente com uma fotografia em que surge ao lado da ministra da Cultura de Portugal, Graça Fonseca.

“É com enorme satisfação que anuncio que Cabo Verde e Portugal acertaram [esta quarta-feira], em Lisboa, os detalhes do quadro de cooperação técnica para a candidatura do Ex-Campo de Concentração do Tarrafal a Património da Humanidade”, lê-se na mensagem.

O governante acrescentou que este acordo será formalizado em 1 de Maio próximo, no Tarrafal, ilha de Santiago, e que o dossier técnico da candidatura será entregue à Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO, na sigla em inglês) em 2021.

Trata-se da segunda candidatura de Cabo Verde à UNESCO, depois de em Dezembro aquela organização ter proclamado a morna, género musical típico cabo-verdiano, a Património Imaterial Cultural da Humanidade, processo que contou com o apoio de especialistas portugueses.

A Lusa tinha já noticiado em Novembro que o Instituto do Património Cultural (IPC) cabo-verdiano estava a ultimar, com a Direcção-Geral do Património Cultural (DGPC) de Portugal o apoio ao projecto de candidatura do antigo Campo de Concentração do Tarrafal a Património da Humanidade. A informação constava de uma nota publicada na altura pelo IPC, na sequência da visita a Portugal do presidente do instituto cabo-verdiano, Hamilton Jair Fernandes, no âmbito da cooperação técnica que já existe entre as duas instituições.

Acompanhado por Paula Silva, que na altura era a responsável pela DGPC, o responsável cabo-verdiano visitou o Museu Nacional Resistência e Liberdade, exemplo que, segundo o IPC de Cabo Verde, pretende aproveitar. Este museu nasceu do reconhecimento da Fortaleza de Peniche enquanto espaço-memória e símbolo da luta pela liberdade em Portugal e da resistência à ditadura do Estado Novo, tal como a transformação feita no antigo Campo do Tarrafal, que passou a Museu da Resistência.

“Histórias e memórias que se cruzam e que vão unir uma vez mais estes dois espaços, agora pelo conhecimento e preservação da memória histórica para as futuras gerações. É neste sentido que o IPC e a DGPC pretendem assinar um acordo de parceria para formalizar um acordo já existente”, referia a nota. O documento acrescentava que o “futuro acordo de parceria”, em negociação entre o IPC e a DGPC, visa a capacitação técnica em áreas como a museologia e gestão de museus, assistência técnica e intercâmbio entre técnicos das duas estruturas, além de mobilização de financiamentos, assim “como apoio técnico e científico ao projecto de candidatura do ex-Campo de Concentração do Tarrafal” a Património da Humanidade.

Situado na localidade de Chão Bom, o antigo Campo de Concentração do Tarrafal foi construído no ano de 1936 e recebeu os primeiros 152 presos políticos em 29 de Outubro do mesmo ano, tendo funcionado até 1956. Reabriu em 1962, com o nome de Campo de Trabalho de Chão Bom, destinado a encarcerar os anticolonialistas de Angola, Guiné-Bissau e Cabo Verde. Após a sua desactivação, o complexo funcionou como centro de instrução militar e desde 2000 alberga o Museu da Resistência.

O levantamento para o concurso público da empreitada de reabilitação da estrutura, recentemente lançada pelo IPC, refere que o espaço ficou “gravado na memória” dos portugueses, angolanos, guineenses e cabo-verdianos como o “campo da morte lenta” ou “da morte”. O espaço foi classificado Património Cultural Nacional através da Resolução n.º 33/2006, de 14 de Agosto, e desde 2004 que integra a lista indicativa de Cabo Verde a património da UNESCO. Ao todo, foram presas neste “campo da morte lenta” mais de 500 pessoas: 340 antifascistas e 230 anticolonialistas.