Espelho meu, haverá alguém mais manipulador do que eu?

Antes das doze badaladas que hão-de findar o ano, o Teatro Nacional D. Maria II recebe Ricardo III, de Shakespeare, numa encenação de Thomas Ostemeier que oferece ao público a possibilidade de sonhar em ser aquele protagonista desprezível. E dá ainda as boas-vindas ao Ano Novo, com sessões a 2 e 3 de Janeiro.

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Arno Declair

“Ricardo III, se me é permitido dizê-lo, não será a melhor peça de Shakespeare.” A frase sai da boca do encenador alemão Thomas Ostermeier a meio da conversa com o Ípsilon, semanas antes de apresentar o seu Ricardo III, numa elogiadíssima produção da Schaubühne, no Teatro Nacional D. Maria II, em Lisboa (31 de Dezembro, 2 e 3 de Janeiro). E é um juízo que não revela qualquer insegurança em relação ao espectáculo que montou, nem fragiliza o olhar intenso que derrama sobre uma das personagens mais odiosas e fascinantes criadas pelo bardo inglês. É uma apreciação clínica, de cariz quase factual, um dado mais com que Ostermeier teve de trabalhar ao construir o espectáculo. Quando lhe perguntamos qual será, então, a mais inspirada criação de Shakespeare, não hesita em afirmar que, “em termos de escrita e de mestria dramatúrgica, será Macbeth”. Quando o questionamos sobre quais são, afinal, as fraquezas capitais de Ricardo III, começa por se defender: “Não sou o único a dizer isto. Se ler os mais famosos estudiosos de Shakespeare, todos eles concordam que esta não é a sua melhor peça.”