Eles são mais “iguais” do que elas

As mulheres ganharam experiência, formação, competitividade, mas não é por isso que os seus salários são idênticos aos dos homens.

Quarenta anos de políticas para a igualdade e contra a discriminação entre homens e mulheres não foram suficientes para eliminar a diferença salarial e de papéis sociais entre géneros. As mulheres não deixavam o marido, a casa ou o país sem o consentimento ou sem a reprovação social, não acediam à carreira diplomática ou à magistratura, estavam condenadas à fatalidade da enfermagem e do secretariado, dos bordados e da violência de género que permanece viva no quotidiano da imprensa.

A verdade faz-nos mais fortes

Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.

Quarenta anos de políticas para a igualdade e contra a discriminação entre homens e mulheres não foram suficientes para eliminar a diferença salarial e de papéis sociais entre géneros. As mulheres não deixavam o marido, a casa ou o país sem o consentimento ou sem a reprovação social, não acediam à carreira diplomática ou à magistratura, estavam condenadas à fatalidade da enfermagem e do secretariado, dos bordados e da violência de género que permanece viva no quotidiano da imprensa.

Podemos falar desses resquícios do passado (as mulheres são 71% das pessoas sem qualquer nível de escolaridade) que transitaram do Estado Novo para uma democracia (as mulheres são 60% das pessoas com ensino superior completo) que teima em não se confrontar com o tonto e injusto desequilíbrio de papéis que atribui a homens e mulheres.

As mulheres ganharam experiência, formação, competitividade, mas não é por isso que os seus salários são idênticos aos dos homens. Tradições, preconceitos e estereótipos sobre papéis de género e conciliação da vida profissional, pessoal e familiar são mais fortes do que um MBA ou um doutoramento. Mais escolaridade não diminui substancialmente o fosso salarial (está a recuar desde 2012 a um ritmo decimal e muito por causa do aumento do salário mínimo), porque a disparidade é transversal e até é bem maior entre pessoas com habilitações mais elevadas. Tal como na indústria da década de 90, até as CEO do PSI-20 são mais mal remuneradas do que os seus colegas masculinos. Simplesmente, porque discriminar o género é uma forma de adiar a igualdade. E o tema nem interessa a um liberal nem à luta de classes.

Quando os estereótipos de género estão tão culturalmente enraizados, há quem compare o número de vítimas de violência doméstica com a dos incêndios de há dois anos, como se as primeiras não tivessem sido barbaramente assassinadas. Como é que num país como Espanha, onde a violência de género assume grandes proporções, um partido pode ostensivamente declarar-se machista e misógino e subir nas sondagens apesar disso?

Uma sociedade desenvolvida e democrática nem é compatível com a desigualdade entre géneros, nem com uma predeterminada divisão de papéis, como se fosse aceitável e irremediável uma divisão biológica tanto em casa como no trabalho. Temos enquanto sociedade um problema com a igualdade de género. A desigualdade económica e social é sempre uma escolha política e ideológica. E esse é o problema.