Um prémio Nobel entra na campanha eleitoral polaca

“Vamos votar pela democracia”, pediu a escritora Olga Tokarczuk, que deixou os polacos enlouquecidos ao ter recebido o prémio.

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Olga Tokarczuk, escritora e activista EPA

O anúncio do Nobel da Literatura para a escritora polaca Olga Tokarczuk aconteceu mesmo na recta final da campanha eleitoral para as legislativas na Polónia deste domingo, em que se teme que uma vitória do PiS (Partido Lei e Justiça) cimente o lugar da Polónia no clube das “democracias iliberais”, cuja figura de proa é a Hungria de Viktor Orbán. E Tokarczuk não se absteve de comentar as eleições: “Gostaria de dizer aos meus amigos, às pessoas na Polónia, vamos votar do modo certo para a democracia.”

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O anúncio do Nobel da Literatura para a escritora polaca Olga Tokarczuk aconteceu mesmo na recta final da campanha eleitoral para as legislativas na Polónia deste domingo, em que se teme que uma vitória do PiS (Partido Lei e Justiça) cimente o lugar da Polónia no clube das “democracias iliberais”, cuja figura de proa é a Hungria de Viktor Orbán. E Tokarczuk não se absteve de comentar as eleições: “Gostaria de dizer aos meus amigos, às pessoas na Polónia, vamos votar do modo certo para a democracia.”

De Bielefeld, na Alemanha, onde estava a dar um seminário, Tokarczuk mandou uma mensagem para os polacos. “O prémio vai para a Europa de Leste, o que é raro, incrível. Para mim, como polaca, mostra que apesar de todos os problemas com a democracia no meu país, ainda temos algo a dizer ao mundo”, afirmou, segundo a agência Reuters.

A autora é há muito alvo de críticas do PiS por questionar o papel da Polónia no assassínio de judeus no Holocausto. O facto de ter ganho o Nobel deveu-se, disse o jornal Polityce, ligado ao partido, à sua visão de “esquerda”, que lhe “abriu portas”. No artigo, o jornal lembrava as suas “palavras escandalosas”, quando chamou aos polacos “assassinos de judeus”.

O PiS tem sublinhado o estatuto da Polónia de vítima da II Guerra Mundial (e a Polónia foi um dos países em que a ocupação nazi foi mais brutal), diminuindo também o papel de polacos em crimes contra judeus, o que o põe em rota de colisão com Tokarczuk. Ainda recentemente, o ministro da Cultura, Piotr Glinski, fazia gala de dizer que não tinha lido nenhuma obra da escritora. Depois do anúncio do prémio, escreveu no Twitter que teria de recomeçar a ler os livros de Tokarczuk que tinha deixado interrompidos.

Tokarczuk é, além de escritora, activista: participa nas marchas de orgulho gay, é defensora dos direitos das mulheres, direitos dos animais, e voz da preocupação com as alterações climáticas. Quase parece o contrário do PiS: a “invasão LGBT” foi um dos mais fortes temas de campanha destas eleições, nos últimos anos, o partido já fez campanha contra feministas, vegetarianos, ciclistas. E nega que as alterações climáticas sejam fruto da acção humana.

O prémio Nobel tem grande prestígio na Polónia, que conta com seis laureados (o único ainda vivo, além de Tokarczuk, é Lech Walesa, do movimento Solidariedade). O jornalista do site Politico Wojciech Kość conta como “a Polónia ficou maluca com o Nobel de Olga Tokarczuk, com livros a esgotar e livrarias com letreiros na porta “não há Torkazuk”, aumento de vendas de 6000% (seis mil por cento) na cadeia Empik, e cidades como Wroclaw a oferecer viagens de transportes grátis a quem tiver um exemplar da autora na mão.

Com este prémio, “os europeus podem ver quão forte, poderosa, e sobretudo, engenhosa é a Polónia liberal”, escreve o comentador político Piotr Maciej Kaczyński no site Euractiv. O prémio “é uma boa notícia para os liberais na véspera das eleições”.