Em 2050, cerca de 4500 milhões de pessoas poderão ficar expostas à poluição da água

Equipa de cientistas – incluindo o português Henrique Miguel Pereira – fez projecções sobre os benefícios que as pessoas poderão tirar dos serviços dos ecossistemas. Nos cenários mais gravosos, milhares de milhões de pessoas ficarão expostas à poluição da água ou à diminuição da produção agrícola.

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Albufeira de Castrejon, uma das barragens mais poluídas de Espanha e onde se acumula toda a poluição da região de Madrid Nuno Ferreira Santos

Afinal, qual é o peso da natureza nas nossas vidas e como é que ela nos protege? Para o saber, uma equipa internacional de cientistas – incluindo o português Henrique Miguel Pereira – mapeou, a nível global, os locais onde a população humana está mais dependente dos serviços dos ecossistemas. Concluiu-se que esses locais incluem áreas densamente povoadas em países desenvolvidos e em vias de desenvolvimento. Depois, para se entender quais são os benefícios que as pessoas poderão obter dos ecossistemas no futuro, usaram-se projecções com a influência das alterações climáticas e do uso dos solos na natureza. Nos cenários mais gravosos, estima-se que, em 2050, cerca de 4500 milhões de pessoas fiquem expostas à poluição da água.

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Afinal, qual é o peso da natureza nas nossas vidas e como é que ela nos protege? Para o saber, uma equipa internacional de cientistas – incluindo o português Henrique Miguel Pereira – mapeou, a nível global, os locais onde a população humana está mais dependente dos serviços dos ecossistemas. Concluiu-se que esses locais incluem áreas densamente povoadas em países desenvolvidos e em vias de desenvolvimento. Depois, para se entender quais são os benefícios que as pessoas poderão obter dos ecossistemas no futuro, usaram-se projecções com a influência das alterações climáticas e do uso dos solos na natureza. Nos cenários mais gravosos, estima-se que, em 2050, cerca de 4500 milhões de pessoas fiquem expostas à poluição da água.

“Provar como as acções humanas causam mudanças ambientais, assim como as mudanças ambientais afectam o bem-estar humano, pode ser a base para se fazerem investimentos na natureza que beneficiem as pessoas”, lê-se logo no início do artigo científico publicado esta sexta-feira na revista Science.

Tendo em conta esta relação, uma equipa liderada por Rebecca Chaplin-Kramer – da Universidade de Stanford (nos Estados Unidos) – mapeou então, pela primeira vez a nível global, os locais onde as populações humanas estão mais dependentes dos serviços dos ecossistemas, nomeadamente da regulação da qualidade da água, da redução dos riscos costeiros e da polinização das culturas agrícolas.

“Estes locais onde as populações humanas estão mais dependentes dos serviços dos ecossistemas incluem muitas áreas densamente povoadas em países em vias de desenvolvimento, mas, curiosamente, também nos países desenvolvidos”, indica ao PÚBLICO Henrique Miguel Pereira, investigador da Universidade de Halle-Wittenberg (na Alemanha) e do Centro de Investigação em Biodiversidade e Recursos Genéticos da Universidade do Porto, e um dos autores do artigo.

Sobre esses resultados, o cientista explica que a biodiversidade está a prestar “um serviço importante” nessas regiões e que “quanto mais estiver protegida em relação aos riscos [como o costeiro] maior é o seu serviço”. “Isto significa que a conservação da natureza é importante não só nas zonas mais intactas do planeta mas também nas zonas onde as pessoas vivem.”

Através deste mapeamento, viu-se também que em certas partes do Leste da China, por exemplo, há uma grande dependência da natureza, mas que esta já não está a corresponder a essa necessidade e que até tem vindo a diminuir as suas capacidades de protecção nessa zona. Como este trabalho tem um âmbito global, a informação e resolução para Portugal tem um detalhe limitado. 

Um Acordo de Paris para a biodiversidade

Depois, fizeram-se ainda projecções sobre os benefícios que as pessoas poderão tirar dos serviços dos ecossistemas no futuro. Para isso, combinaram-se riscos relativos aos serviços da natureza e cenários sobre as alterações climáticas usados pelo Painel Intergovernamental para as Alterações Climáticas (IPCC), assim como cenários das alterações do uso dos solos utilizados pela Plataforma Intergovernamental de Biodiversidade e Serviços dos Ecossistemas (IPBES). Nestas projecções consideraram-se diferentes cenários futuros: um com menos alterações climáticas e usos do solo; outro intermédio; e ainda um mais gravoso. 

Nos cenários com mais alterações no uso dos solos, cerca de 4500 milhões de pessoas ficarão expostas à poluição da água em rios ou lagos. Ainda nos cenários mais gravosos, entre 4000 e 5000 milhões de pessoas ficarão mais vulneráveis à diminuição da produção agrícola. Ora, estima-se que, em 2050, a população mundial chegue aos 9800 milhões, segundo dados das Nações Unidas. Em todos os cenários, aproximadamente 550 milhões de pessoas enfrentarão grandes riscos costeiros. As pessoas que vivem no Sul da Ásia e em África estão em maior desvantagem para lidar com a diminuição dos serviços da natureza.

Este estudo tem como grande objectivo fornecer informações detalhadas que possam influenciar medidas sobre a natureza. “É urgente mitigar as alterações climáticas, mas também a perda de habitats naturais causados pela agricultura ou a silvicultura”, alerta Henrique Miguel Pereira, que nos últimos três anos presidiu o Grupo de Peritos de Cenários e Modelos do IPBES, onde se desenvolveu este trabalho. “Algumas medidas para mitigar as alterações climáticas – por exemplo, a ‘plantação’ de biocombustíveis – são positivas para o primeiro problema, mas negativas para o segundo e não devem ser prosseguidas.”

Sobre a importância deste trabalho, Henrique Miguel Pereira avisa que, no próximo ano, se realiza uma cimeira no âmbito da Convenção sobre a Diversidade Biológica para definir os objectivos para a próxima década, que as Nações Unidas dedicam à restauração ecológica. “Este trabalho sugere que a restauração ecológica poderá melhorar a vida de milhares de milhões de pessoas e que é urgente desenvolver um equivalente do Acordo de Paris para a biodiversidade.”