Thomas Cook: há 500 britânicos retidos no Algarve e dois voos cancelados na Madeira

Em todo o Verão, a operadora teve 25 mil pessoas em Portugal, de acordo com os dados apresentados pela secretária de Estado do Turismo. Madeira e Algarve podem ser as regiões mais afectadas.

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A falência da Thomas Cook, um dos operadores turísticos mais antigos do mundo, fez tremer o sector, na manhã desta segunda-feira. Portugal, um dos destinos da Thomas Cook, não foi excepção. O Governo desvaloriza – e afirma que o impacto no turismo nacional será reduzido —, mas a Confederação do Turismo de Portugal acredita que poderá “trazer danos à actividade turística”. Os mercados turísticos da Madeira e do Algarve podem estar ameaçados. Há cerca de 500 cidadãos britânicos retidos em Portugal, segundo informação da embaixada britânica ao Governo português. Pelas 19h, Bruno Simões, assessor da Secretária de Estado do Turismo, confirmou ao PÚBLICO que o número não tinha sofrido alteração, de acordo com os dados na posse do Governo. 

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A falência da Thomas Cook, um dos operadores turísticos mais antigos do mundo, fez tremer o sector, na manhã desta segunda-feira. Portugal, um dos destinos da Thomas Cook, não foi excepção. O Governo desvaloriza – e afirma que o impacto no turismo nacional será reduzido —, mas a Confederação do Turismo de Portugal acredita que poderá “trazer danos à actividade turística”. Os mercados turísticos da Madeira e do Algarve podem estar ameaçados. Há cerca de 500 cidadãos britânicos retidos em Portugal, segundo informação da embaixada britânica ao Governo português. Pelas 19h, Bruno Simões, assessor da Secretária de Estado do Turismo, confirmou ao PÚBLICO que o número não tinha sofrido alteração, de acordo com os dados na posse do Governo. 

A secretária de Estado do Turismo, Ana Mendes Godinho, disse, em declarações à TSF, que o impacto no turismo nacional será reduzido porque a “Thomas Cook não tem uma actividade muito grande em Portugal”. “Em todo o Verão, a operadora teve 25 mil pessoas em Portugal”, acrescenta.

A preocupação de Ana Mendes Godinho neste momento é restaurar a confiança dos turistas, e por isso foi preparado um “plano especial” para o mercado do Reino Unido e da Alemanha com vista ao “reforço da atractividade e posicionamento de Portugal na época baixa”.

Em resposta ao PÚBLICO, a secretaria de Estado do Turismo afirma que o “Governo está a acompanhar de perto e em permanência a situação da Thomas Cook e estão a ser feitos pontos de situação com as diversas regiões, em particular no Algarve e na Madeira, e com operadores turísticos, no sentido de apurar os efeitos da falência do operador turístico Thomas Cook em Portugal quer sobre os turistas, quer sobre as empresas portuguesas”.

“No que toca a turistas portugueses que tenham adquirido pacotes da Thomas Cook, foram já accionados os mecanismos de informação e apoio ao consumidor”, completa o mesmo comunicado.

“Confiança” é a palavra-chave. Face ao crescimento do número de hóspedes vindos do Reino Unido, “especialmente no Algarve”, o Governo quer “manter e reforçar a competitividade e acessibilidade ao destino e às regiões turísticas, bem como em transmitir confiança aos consumidores”.

Voos cancelados na Madeira

Apesar da fraca presença do operador em Portugal, o impacto da sua falência já se fez sentir. Nesta segunda-feira foram cancelados dois voos na Madeira: um que deveria chegar às 10h50 de Copenhaga (Dinamarca) e outro no sentido inverso, que partiria do Funchal pelas 12h05. Foram, até à data e de acordo com a informação disponível, os únicos em Portugal.

A Confederação do Turismo de Portugal (CTP) considera, num comunicado enviado às redacções, que a Madeira – onde a empresa operava através da companhia subsidiária alemã Condor - será uma das regiões mais afectadas em Portugal.

Francisco Calheiros, presidente da CTP, considera que “haverá com certeza consequências negativas para as nossas empresas”, mas concede que serão menores “do que nos restantes mercados da Thomas Cook”.

«Obviamente que a falência de uma empresa com a dimensão e importância da Thomas Cook é uma péssima notícia para o Turismo mundial. Sendo o britânico, o nosso principal mercado emissor – com uma quota de 19,6% em dormidas e 16,9% em receitas – haverá com certeza consequências negativas para as nossas empresas, ainda que menos do que nos restantes mercados da Thomas Cook», afirma Francisco Calheiros, Presidente da CTP, citado no comunicado.

Hoteleiros algarvios calculam que vão perder “milhões”

A falência da Thomas Cook causará “prejuízos de milhões” ao Algarve, avança o presidente da Associação dos Hotéis e Empreendimentos Turísticos do Algarve (AHETA), Elidérico Viegas. Até ao final do dia de segunda-feira, já estavam contabilizados perdas na ordem de um milhão de euros. “Estamos a falar Cook é o segundo maior operador turístico da Europa [a primeira é a TUI alemã], que tem uma larga tradição de ligações comerciais à região”. Por pagar, diz o empresário, “fica a facturação dos últimos dois meses, três meses, a coincidir com o pico da época alta turística”. Os contratos têm prazos de pagamento de 60 a 90 dias.

As dificuldades financeiras do operador turístico britânico, diz Elidérico Viegas, eram conhecidas. Até porque, acrescenta, “tinham sido divulgadas notícias de que precisaria de mil milhões de euros para se recapitalizar, e o fundo financeiro chinês Fosun (accionista da empresa) não iria acompanhar o reforço de capital.

Por sua vez, o presidente da Região de Turismo do Algarve, João Fernandes, observa: “Começa a ser histórico os operadores abrirem falência, cirurgicamente, no final de um período de alta na facturação”. Apesar de reconhecer ser “problemático os hotéis serem ressarcidos das dívidas”, considera que a empresa está longe de ter a dimensão, no caso do Algarve, que já teve no passado: “Dos oito milhões e 800 mil passageiros de movimento do aeroporto de Faro, a Thomas Cook é responsável apenas por 200 mil passageiros (0,2%)”.

Elidérico Viegas contrapõe: “O problema não pode ser desvalorizado, e devia-se já estar a pensar numa linha de financiamento às empresas, para evitar consequências bem maiores”.

Ao contrário do que sucedeu noutros tempos, a empresa britânica não explora directamente unidades hoteleiras no Algarve. “Trabalha com pacotes turísticos low cost que terminavam no mês de Outubro, e seriam retomados em Março”, destaca João Fernandes, sublinhando que nesse intervalo de tempo “pode-se reajustar” a actividade. Sobre os passageiros que ficaram em terra, diz, “não será difícil encontrar voos alternativos, dadas as boas ligações do aeroporto de Faro aos aeroportos ingleses”.

As dívidas aos hotéis do Algarve é também uma das maiores preocupações da Associação Portuguesa das Agências de Viagens e Turismo (APAVT) acerca da falência do grupo turístico britânico Thomas Cook.

“No Algarve já não havia operações em voos próprios da Thomas Cook, apenas em voos contratados e regulares. Não acredito que no Algarve se coloquem problemas de repatriamento”, afirmou à Lusa o presidente da associação, Pedro Costa Ferreira, adiantando que, ao longo desta semana, se vai saber quantos turistas portugueses são afectados pela falência, mas esclarecendo que não antevê um número muito elevado.

Os efeitos reais ainda vão demorar a ser clarificados, defende Pedro Costa Ferreira. O empresário admite que “haverá problemas de dívidas do grupo com os hotéis” e que esta falência “será nefasta para a região” do Algarve, uma vez que o operador é um dos maiores do mundo, detentor de agências de viagens e companhias de aviação, como a Condor, e só na Grã-Bretanha tem 560 balcões.

“Mas não me parece que Portugal esteja no olho do furacão”, afirmou Pedro Costa Ferreira, explicando que, comparando com outros destinos mundiais, não será em Portugal que os efeitos serão mais relevantes.

O operador turístico britânico Thomas Cook anunciou nesta segunda-feira falência depois de não ter conseguido encontrar, durante o fim-de-semana, os fundos necessários para garantir a sua sobrevivência. Entrará, por isso, em “liquidação imediata”, deixando centenas de milhares de turistas retidos nos destinos — o ministro dos Transportes britânico Grant Shapps já disse mesmo que este é o maior esforço de “repatriação em tempo de paz” na história do Reino Unido. Com Miguel Dantas e Lusa