Sem “por favor” ou “obrigado”. A Siri e a Alexa estão a criar adultos mal-educados?

Não há motivos para um adulto dizer “por favor” a um assistente digital. Mas o caso pode mudar com crianças. A conclusão é de uma equipa de investigadores nos EUA, da Universidade de Brigham Young, que passou semanas a explorar o tema.

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Num mundo em que há pessoas a falar com assistentes digitais diariamente — ​“Google, telefona à mãe”, “Alexa, liga a televisão”, “Siri, encomenda pizza” — há quem se preocupe com a possibilidade de novas gerações que se habituam a falar com um sistema digital que responde sempre, independentemente da forma como se fala. No começo do ano, as Nações Unidas alertaram para assistentes digitais programadas para responder a ordens e abusos verbais com “uma atitude divertida” (por exemplo, ‘eu corava, se pudesse’ era a resposta da assistente da Apple quando era chamada de galdéria).

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Num mundo em que há pessoas a falar com assistentes digitais diariamente — ​“Google, telefona à mãe”, “Alexa, liga a televisão”, “Siri, encomenda pizza” — há quem se preocupe com a possibilidade de novas gerações que se habituam a falar com um sistema digital que responde sempre, independentemente da forma como se fala. No começo do ano, as Nações Unidas alertaram para assistentes digitais programadas para responder a ordens e abusos verbais com “uma atitude divertida” (por exemplo, ‘eu corava, se pudesse’ era a resposta da assistente da Apple quando era chamada de galdéria).

Para já, porém, não há motivos para um adulto ter de dizer “por favor” ou “obrigada” a um assistente digital. A conclusão é de uma equipa de investigadores da Universidade de Brigham Young, nos EUA, a explorar o tema. Numa primeira fase, passaram semanas a fazer inquéritos e a observar as interacções de 274 estudantes (com uma média de 20 anos) com as assistentes digitais da Alexa, Siri, Google e Microsoft. Nos últimos anos, aquelas assistentes digitais têm-se tornado populares por serem capazes de responder a perguntas em segundos, fazer chamadas, e gerir outros aparelhos electrónicos. Os resultados, apresentados esta semana numa conferência em Boston, surpreenderam os investigadores.

“Como os humanos criam sistemas de inteligência artificial cada vez mais antropomórficos acreditávamos que as interacções das pessoas com estes sistemas iam ter um impacto na relação com outros humanos”, explica ao PÚBLICO James Gaskin, um professor de sistemas de informação que participou no estudo.  Só que o facto de os estudantes não agradecerem às assistentes digitais, não os levava a dizer menos vezes “obrigada” a outras pessoas. A equipa acredita que impacto em jovens adultos foi menor porque as assistentes digitais actuais (a funcionar do ecrã do telemóvel, ou de colunas inteligentes) não têm um aspecto humanóide. 

Efeitos em crianças 

O próximo passo é estudar os efeitos em crianças. “Prevemos que sejam mais afectadas porque ainda estão numa fase formativa, enquanto os adultos já formaram os seus hábitos de comunicação”, diz GaskinDados de 2018 da Childwise, uma empresa do Reino Unido responsável por estudos sobre crianças e jovens, que mostram que as crianças mais jovens (até aos 15 anos) são quem mais usa assistentes digitais em casa por terem crescido com a tecnologia. Foi um dos motivos que levou a Google Assistant, do Google, e a Alexa da Amazon a serem actualizadas para poderem elogiar crianças quando estas agradecem ou pedem “por favor”. Só que é preciso saber activar essa opção que não está activa por defeito.

“Queremos estudar crianças ao longo do tempo com dois grupos: um em que a Alexa está programada para ouvir obrigada depois de executar um comando, e outro sem essa funcionalidade. E um mês mais tarde, por exemplo, entrevistar os encarregados de educação para perceber como é que as crianças mudaram”, explica Gaskin. 

A equipa também acredita que à medida que a inteligência artificial se torna mais antropomórfica – por exemplo, com olhos expressivos e braços  o efeito das interacções com humanos será maior.