A prata da casa e um pouco mais

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Foi com um programa assumidamente romântico que a 45.ª edição do Festival Internacional de Música de Espinho (FIME) teve início, na passada sexta-feira, com o conceituado violinista francês David Grimal (n. 1973) a competir com os jovens músicos da Orquestra Clássica de Espinho (OCE) na atracção do numeroso público que encheu o Auditório de Espinho até ao limite da lotação.

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Foi com um programa assumidamente romântico que a 45.ª edição do Festival Internacional de Música de Espinho (FIME) teve início, na passada sexta-feira, com o conceituado violinista francês David Grimal (n. 1973) a competir com os jovens músicos da Orquestra Clássica de Espinho (OCE) na atracção do numeroso público que encheu o Auditório de Espinho até ao limite da lotação.

O Concerto para violino op. 77 em Ré Maior [1878] de Johannes Brahms (1833-1897) foi a primeira obra escutada. Quem esperava ver o solista gesticular, dando indicações à orquestra, foi surpreendido: o que havia a comunicar ao conjunto teria sido previamente preparado; naquele momento, só alguns chefes de naipe funcionaram como bússola para uma orquestra muito, muito jovem. David Grimal colocou-se à frente da orquestra de olhos fechados e aguardou pacientemente o momento da entrada do violino solo, mostrando, então, grande segurança e uma clara afinação.

Essa “direcção sem direcção” é a imagem de marca de David Grimal, fundador e director artístico do colectivo Les Dissonances, cuja filosofia é a valorização de cada indivíduo no conjunto, eliminando, tanto quanto possível, a figura do chefe de orquestra. A grande diferença entre Les Dissonances e a jovem OCE (com uma forte presença de alunos e ex-alunos da Escola Profissional local) é o nível artístico e a segurança de cada um dos seus elementos. Isso verificou-se sobretudo no início do Adagio do Concerto de Brahms, em que, além de alguns desvios na afinação e no ritmo, se sentiu uma indisfarçável desorientação, desconfortáveis sobretudo para quem esquecesse que se encontrava perante uma orquestra de carácter académico.

Com o vigoroso terceiro andamento, o conjunto recuperou o domínio da música, dando nota dum sério trabalho de preparação. David Grimal decidiu saltar directamente da primeira para a terceira obra em programa, as Zigeunerweisen, op. 20 (obra também datada de 1878), de Pablo de Sarasate (1844-1908), para finalmente poder descansar, sentado no chão do palco, enquanto ouvia a OCE interpretar com garra a Dança húngara nº 5, novamente de Brahms.

Os muitos aplausos do público valeram-lhe ainda a Sarabanda da Partita n.º 2 para violino solo de Bach, que David Grimal escolheu “para continuar à volta de Ré”.

Após mais um recital de música do Romantismo, em violoncelo e piano, o FIME prossegue na próxima quinta-feira, dia 27, no Jardim Interior da Biblioteca Municipal de Espinho, com o Lisbon String Trio (José Peixoto, Bernardo Couto e Carlos Barreto), às 22h.