É um remédio natural: passar duas horas por semana ao ar livre faz bem

Jardins, florestas, lagos ou praia – tudo conta. Com base nas respostas de quase 20 mil britânicos, um grupo de investigadores apercebeu-se de que passar pelo menos 120 minutos por semana em contacto com a natureza é benéfico. Este tempo “ajuda a mente a recarregar baterias”, diz autor do estudo ao PÚBLICO, e pode ser repartido por vários dias.

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PAULO PIMENTA

Não é novidade que passar tempo em espaços verdes é benéfico para a saúde – os níveis de stress baixam, a tensão arterial também, o risco de doenças cardiovasculares é reduzido –, mas não se sabia até agora quanto tempo era necessário para que estes efeitos se fizessem sentir. O ideal é 120 minutos ou mais, revela agora um estudo da Universidade de Exeter (Reino Unido), publicado na revista Scientific Reports, feito com base nas respostas de 19.806 pessoas de Inglaterra. E esses minutos não precisam de ser passados numa única visita, podem ser acumulados durante toda a semana.

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Não é novidade que passar tempo em espaços verdes é benéfico para a saúde – os níveis de stress baixam, a tensão arterial também, o risco de doenças cardiovasculares é reduzido –, mas não se sabia até agora quanto tempo era necessário para que estes efeitos se fizessem sentir. O ideal é 120 minutos ou mais, revela agora um estudo da Universidade de Exeter (Reino Unido), publicado na revista Scientific Reports, feito com base nas respostas de 19.806 pessoas de Inglaterra. E esses minutos não precisam de ser passados numa única visita, podem ser acumulados durante toda a semana.

“Esperamos que duas horas por semana seja uma meta realista para muita gente, sobretudo tendo em conta que pode ser repartida pela semana para conseguir os benefícios”, admite o autor e coordenador do artigo científico, Mathew White, citado em comunicado da universidade. De resto, é só escolher: jardins (mesmo em cidades), florestas, reservas naturais, lagos ou praia – tudo conta. “Não temos de ir para a beira-mar ou zonas selvagens para tirar partido disto”, diz Mathew White, em resposta por email ao PÚBLICO. Mas diz que, em estudos anteriores, encontrou uma “ligeira vantagem” nas regiões montanhosas e nas zonas costeiras.

Assim, não há que descartar os espaços verdes nas cidades. “A maior parte destas visitas à natureza analisadas no estudo aconteceu a uns três quilómetros de casa. Portanto, até visitar espaços verdes urbanos parece ser uma coisa boa”, explica o investigador, que faz parte da Universidade de Exeter (a que pertencem os outros sete investigadores do estudo; há ainda um da universidade de Uppsala, na Suécia).

Além disso, o bem-estar associado a esta “exposição directa” ao ar livre parece ser transversal a todos: tanto em homens como mulheres, em crianças como adultos e idosos, em ricos e pobres, e em pessoas saudáveis ou com problemas de saúde. “O que mais nos surpreendeu foi que isto era assim para todos os grupos de pessoas da sociedade”, afirma Mathew White.

200 a 300 minutos

O estudo tem por base os dados recolhidos em sondagens britânicas entre 2014 e 2016 (sob alçada do Instituto Nacional de Estatísticas do Reino Unido), em que fica claro que as pessoas que passam mais de duas horas ao ar livre se sentem melhor do que as pessoas que quase nem saem de casa – com base tanto no tempo que as pessoas disseram passar em espaços verdes como na sua percepção de como se sentiam depois. As sondagens foram feitas por toda a Inglaterra durante todo o ano, para evitar um enviesamento sazonal e geográfico.

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Jardins do Palácio de Cristal, Porto PAULO PIMENTA

“A probabilidade de se sentir com boa saúde e com um bem-estar acrescido torna-se significativamente maior quando se está em contacto com a natureza durante 120 ou mais minutos”, sublinha-se no estudo. Esta sensação de bem-estar atinge o seu auge quando se passam entre 200 a 300 minutos por semana (três horas e meia a cinco horas) ao ar livre – depois disso, é irrelevante quanto mais tempo se passa, não há benefícios acrescidos. Já passar 60 ou 90 minutos na natureza não traz tantas vantagens.

Não há certezas no estudo quanto ao factor que faz aumentar esta satisfação. Foram atiradas várias hipóteses para cima da mesa, como um possível aumento da actividade física, uma redução do stress potenciada pelo tempo de qualidade passado em família e amigos ou o sol a bater na pele. “Não é devido à actividade física porque tivemos cuidado para verificar que estes efeitos estão bem acima dos efeitos do exercício. Pensamos que provém dos benefícios reparadores a nível psicológico de passar tempo longe do trabalho e de outras fontes de stress – mas também de televisões e computadores”, explica Mathew White. “Tudo isto ajuda a mente a recarregar baterias.”

Antes de se passar a recomendar oficialmente estes 120 minutos em espaços verdes para quem quiser seguir um estilo de vida saudável, à semelhança do que acontece com a prática de exercício físico e com uma alimentação equilibrada, o investigador acautela que é preciso que haja mais estudos e conclusões sobre o tempo indicado.

Viver perto de zonas verdes é também vantajoso por haver uma “redução da poluição do ar e de ruído”. Mas se não existirem jardins perto de casa, não há que temer: o estudo refere que muito do tempo passado ao ar livre acontece fora da zona de residência e pode “compensar a falta de natureza perto do local de residência”, dando a entender que quanto mais biodiversidade tiver o espaço escolhido, mais vantajosa será a experiência.

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PAULO PIMENTA

Foi excluído da análise do estudo o tempo passado no próprio jardim ou quintal – que pode ser “uma forma importante e substancial de estar em contacto com a natureza”. Há também que ter em conta que as visitas analisadas neste trabalho foram feitas de forma voluntária, provavelmente por serem sítios com “relevância pessoal”, onde as pessoas se sentem bem.

No próprio estudo são apontados outros factores que podem condicionar os resultados obtidos: os dados analisados são observacionais e transversais (foram entrevistadas pessoas diferentes nas duas sondagens), razão pela qual não se pode descartar a hipótese de que as pessoas mais saudáveis e felizes tendem a passar mais tempo na natureza.