Lituânia ganha Leão de Ouro em Veneza

Três artistas criaram no pavilhão da Lituânia uma praia que serviu de palco a uma performance-opereta sobre alterações climáticas e levaram para casa o prémio principal para as participações nacionais. O norte-americano Arthur Jafa foi considerado o melhor artista da exposição internacional numa edição que teve mais mulheres que homens no palmarés.

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Com uma ópera-performance sobre alterações climáticas, a Lituânia é a grande vencedor da 58.ª Bienal de Arte de Veneza, que este sábado abre as portas ao público, depois dos dias reservados aos convidados especiais. O Leão de Ouro para a melhor participação nacional vai, assim, para três artistas mulheres, Rugilė Barzdžiukaitė, Vaiva Grainytė e Lina Lapelytė, que transformaram um pavilhão situado na Marina Militar, fora do recinto tradicional da bienal e dos trajectos mais habituais, numa praia artificial, uma crítica às formas de lazer actuais e à pressão exercida sobre o meio ambiente.

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Com uma ópera-performance sobre alterações climáticas, a Lituânia é a grande vencedor da 58.ª Bienal de Arte de Veneza, que este sábado abre as portas ao público, depois dos dias reservados aos convidados especiais. O Leão de Ouro para a melhor participação nacional vai, assim, para três artistas mulheres, Rugilė Barzdžiukaitė, Vaiva Grainytė e Lina Lapelytė, que transformaram um pavilhão situado na Marina Militar, fora do recinto tradicional da bienal e dos trajectos mais habituais, numa praia artificial, uma crítica às formas de lazer actuais e à pressão exercida sobre o meio ambiente.

Na cerimónia de entrega dos prémios, que foi este sábado de manhã em Veneza, as três artistas lituanas explicaram que Sun & Sea desenha um paralelo entre a fragilidade do corpo humano e a do planeta terra.

O Leão de Ouro para a melhor participação na exposição internacional, intulada May You Live In Interesting Times, comissariada por Ralph Rugoff, foi atribuído ao artista norte-americano Arthur Jafa, pelo seu filme The White Album, que trata questões de racismo e violência. O júri considerou o filme apresentado por Jafa no pavilhão central dos Giardini como “um ensaio, um poema e uma colecção de retratos”, sublinhando que o artista se apropria de material de arquivo para reflectir sobre questões de raça de uma forma inesperada. 

“Se o filme critica um momento carregado de violência, retrata ao mesmo tempo, ternamente, amigos e família, falando também da nossa capacidade de amar”, justificou ainda o júri presidido pela alemã Stephanie Rosenthal. The White Album aborda vários episódios de violência com supremacistas brancos, falando igualmente do amor pelas pessoas na vida do artista que são brancas. Arthur Jafa, um artista afro-americano, propõe uma reflexão sobre o que é ser branco actualmente nos Estados Unidos, num filme que coloca vários desafios aos espectadores. Na cerimónia de entrega dos prémios Jafa chorou, emocionado, e no seu discurso não conseguiu ir além dos agradecimentos.

Uma ópera Brechtiana

No pavilhão da Lituânia, em que todos podemos ser voyeurs nesta praia veneziana que ocupa um espaço no bairro do Castello, o júri destacou “o espírito experimental e o tratamento inesperado da representação nacional”, numa bienal que conta com a participação de 90 países, entre os quais Portugal. O júri liderado por Stephanie Rosenthal mostrou-se ainda impressionado com “a utilização imaginativa do espaço” em Sun & Sea (Marina), que apresenta “uma ópera brechtiana” para 13 cantores, ao mesmo tempo que procura o envolvimento dos habitantes da cidade.

Numa edição com quase 100 pavilhões nacionais, Portugal está representado pela escultora Leonor Antunes, que mostra o seu trabalho no Palácio Giustinian Lolin, no centro histórico de Veneza. Não há nenhum português na exposição internacional, que inclui 83 artistas, menos do que é habitual, sendo a maioria mulheres (42 numa lista com 38 homens e três artistas não binários que não se identificam com nenhum dos dois géneros).

A artista cipriota Haris Epaminonda, que vive e trabalha em Berlim, ganhou o Leão de Prata pela sua participação na exposição internacional, concebida pelo norte-americano Ralph Rugoff, director da Hayward Gallery em Londres. No trabalho da artista, que aprestou o filme Chimera nos Giardini, o júri destacou “a construção de uma constelação de imagens, objectos, textos, formas e cores, através de histórias, memórias fragmentadas e relações imaginadas”.

Além de Stephanie Rosenthal, directora do Gropius Bau em Berlim, integraram ainda o júri a curadora turco-holandesa Defne Ayas (Fundação V-A-C, Moscovo), a italiana Cristiana Collu (Galeria Nacional de Arte Moderna e Contemporânea, Roma), a coreana Sunjung Kim (presidente da Fundação da Bienal de Gwangju) e o norte-americano Hamza Walker (director do LAXART, Los Angeles).

O júri decidiu ainda atribuir uma menção honrosa ao pavilhão da Bélgica, que apresenta o trabalho de Jos de Gruyter e Harald Thys, “pelo seu humor impiedoso” ao abordar, através de fantoches, as relações estereotipadas entre europeus.

Na exposição internacional, foram ainda atribuídas duas menções honrosas a mais duas mulheres (o palmarés desta edição da bienal de arte é, aliás, dominado por elas). Uma foi para a mexicana Teresa Margolles, que apresentou nos Giardini a obra Muro Ciudad Juárez, feita a partir de bocados reais de um muro de uma escola marcado por balas; outra para a nigeriana Otobong Nkanga, que vive em Antuérpia, e reflecte, através de vários media, do desenho à instalação, sobre “a terra, o corpo e o tempo”.

No seu emocionado discurso, Margolles dedicou o seu prémio às vítimas da violência imposta pelo narcotráfico, nomeadamente às inúmeras mulheres assassinadas e às “que saem para a rua e que correm riscos”. Dez anos depois de ter estado com um trabalho semelhante no pavilhão do México, a artista lembrou que “a violência continua”.

O Leão de Ouro que consagra toda uma vida dedicada às artes foi nesta edição entregue ao artista, poeta e ensaísta norte-americano Jimmie Durham, que participou em inúmeras bienais de Veneza. Segundo um comunicado da organização, o curador Ralph Rugoff indicou o seu nome para o prémio carreira pelos seus 60 anos de trabalho bem-sucedido e, em particular, “pelo facto de a sua arte ser, ao mesmo tempo, crítica, bem-humorada e profundamente humanista”. Durham subiu ao palco para receber o leão alado e resolveu agradecer cantando.