Como a tecnologia laser pode ajudar a reconstruir a Notre-Dame

Um historiador norte-americano dedicou boa parte da sua vida ao registo minucioso da catedral parcialmente destruída pelo incêndio de segunda-feira. Andrew Tallon morreu em Novembro de 2018, mas deixou uma imagem a três dimensões de altíssima resolução que pode agora ser utilizada na reconstrução do monumento.

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Reuters/PHILIPPE WOJAZER

A Catedral de Notre-Dame de Paris ainda ardia, na segunda-feira, quando já se discutia a sua reconstrução. Será um processo longo. O Presidente francês, Emmanuel Macron, aponta para uma empreitada de cinco anos. Será também um processo controverso, com especialistas de todo o mundo a dividirem-se sobre a natureza da intervenção: um restauro integral da catedral, recuperando até os elementos que não constavam do desenho original e que foram sendo acrescentados ao longo dos tempos; ou uma obra que preserve parte das cicatrizes infligidas pelo incêndio, integrando-as na sua história?

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A Catedral de Notre-Dame de Paris ainda ardia, na segunda-feira, quando já se discutia a sua reconstrução. Será um processo longo. O Presidente francês, Emmanuel Macron, aponta para uma empreitada de cinco anos. Será também um processo controverso, com especialistas de todo o mundo a dividirem-se sobre a natureza da intervenção: um restauro integral da catedral, recuperando até os elementos que não constavam do desenho original e que foram sendo acrescentados ao longo dos tempos; ou uma obra que preserve parte das cicatrizes infligidas pelo incêndio, integrando-as na sua história?

Qualquer que seja a opção escolhida, os responsáveis pela empreitada podem ter ao seu dispor um recurso de valor imensurável: também nas primeiras horas do incêndio, houve quem se lembrasse de um nome, Andrew Tallon, e da obra da sua vida – o registo minucioso da catedral tal como ela era antes do incêndio, ao milímetro até, que está gravado algures num computador, como uma cópia do monumento pronta a ser descarregada.

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Uma herança digital

Tallon morreu há apenas cinco meses, aos 49 anos, vítima de um cancro cerebral, e não assistirá à reconstrução da Notre-Dame. No entanto, o seu nome poderá ficar associado para sempre à catedral que se tinha tornado objecto da sua obsessão. O historiador norte-americano nascido na Bélgica, conta a revista The Atlantic, era um inovador. “Quando se trabalha com edifícios medievais, é difícil achar que podemos dizer algo de novo, porque eles foram observados e estudados durante muito tempo”, explicava o pai de quatro filhos num documentário da National Geographic em 2015. “Então tenho recorrido a tecnologia sofisticada para tentar arrancar novas respostas a estes edifícios.”

Em 2010, Tallon passou cinco dias a tirar uma espécie de ecografia a três dimensões da Catedral de Notre-Dame, através de um scanner laser da Leica montado num tripé e colocado em 50 pontos do monumento. O aparelho dispara feixes laser em direcção à estrutura, medindo quanto tempo passa até receber o eco, ou o reflexo, de volta.

Juntando todos os dados recebidos (mil milhões de dados únicos, no caso da Notre-Dame) através de um software sofisticado, o resultado é uma imagem a três dimensões de altíssima resolução da catedral, muito mais precisa do que qualquer planta original. O grau de exactidão milimétrica é tal que Tallon descobriu, por exemplo, que as colunas interiores da catedral não estão alinhadas.

Recolha de fundos

Tallon, que produziu uma cópia exacta do monumento num ficheiro de cerca de um terabyte que cabe num disco portátil e pode ser guardado no bolso, já alertava para o estado de degradação da catedral anos antes do incêndio. O historiador foi co-fundador da Associação Americana dos Amigos da Notre-Dame e recolhia fundos para as obras de restauro que, aparentemente, podem ter estado na origem do fogo de segunda-feira. Esta semana, e através de uma página de recolha de donativos para a família Tallon que tinha sido publicada durante a doença do investigador, Marie, a viúva, pede agora que novos contributos sejam entregues para a reconstrução da catedral.

Só através da Fundação Francesa do Património foram reunidos mais de 14 milhões de euros. A título individual, familiar ou corporativo, as maiores fortunas do mundo já contribuíram com quase mil milhões de euros para a reconstrução. O financiamento da empreitada parece estar garantido e conta com forte apoio do poder político. O desafio agora é eminentemente técnico. Tallon, que não viu arder o monumento, pode agora dar o seu maior contributo.