Mariscar sem lixo no Sado? A Ocean Alive quer provar que é possível

Os voluntários pelo mar da Ocean Alive vão passar o dia 19 de Abril a sensibilizar os mariscadores do estuário do Sado e a recolher os resíduos deixados nas pradarias. O objectivo? Impedir que o lixo chegue ao mar.

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Rui Gaudencio

Todos os anos, a propósito da sexta-feira santa, as famílias da comunidade piscatória do estuário do Sado reúnem-se para celebrar a ocasião em torno da actividade que as une e que sustenta muitas delas. Este ano, e à semelhança do que aconteceu nos últimos dois, vão contar com a companhia dos “voluntários pelo mar” da Ocean Alive, organização que luta pela eliminação do plástico nos oceanos a nível global. Junto dos mariscadores do Sado vão estar voluntários empenhados em provar que “Mariscar SEM Lixo” é possível.

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Todos os anos, a propósito da sexta-feira santa, as famílias da comunidade piscatória do estuário do Sado reúnem-se para celebrar a ocasião em torno da actividade que as une e que sustenta muitas delas. Este ano, e à semelhança do que aconteceu nos últimos dois, vão contar com a companhia dos “voluntários pelo mar” da Ocean Alive, organização que luta pela eliminação do plástico nos oceanos a nível global. Junto dos mariscadores do Sado vão estar voluntários empenhados em provar que “Mariscar SEM Lixo” é possível.

Ao abrigo desta campanha, os participantes propõem-se a sensibilizar directamente os pescadores e a dar continuidade à recolha de lixo existente nas margens do estuário do Sado, de forma a evitar que este chegue ao mar. No decorrer das últimas iniciativas foram apanhadas 48 toneladas de lixo, um número que não surpreendeu Raquel Gaspar, bióloga e co-fundadora da Ocean Alive. “Nós tínhamos noção que haveria dezenas a centenas de milhares de resíduos deixados ao longo de mais de 30 anos. Encontrámos mesmo invólucros emblemáticos, como os de margarina Planta, da Sumol e de sal Vatel, dos anos 70 e 80.”

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Na lista de detritos mais frequentes destacam-se as embalagens de sal fino, matéria usada na captura de lingueirão, deixadas na água ou nas margens depois de vazias. De facto, ao longo destes três anos, foram já recolhidos 54 mil recipientes, o equivalente a quatro vezes a altura da Serra da Estrela. Mesmo assim, as campanhas de sensibilização e de recolha de resíduos já estão a surtir o efeito. “A quantidade de lixo que recolhemos nas margens tem vindo a diminuir.”

A adesão de voluntários é um dos factores-chave do sucesso, tanto da organização Ocean Alive como da “Mariscar SEM Lixo”. Durante este período de actividade, 3440 cidadãos uniram-se à campanha — apoiada pela Fundação Oceano Azul — que, segundo Raquel, vincula o sentimento de que o estuário “deve ser mantido por todos”. Quando questionada sobre o papel que os mais novos podem ter no futuro da organização, a bióloga preferiu não atirar a batata quente para as gerações mais novas, realçando o papel que os mais velhos ainda podem e devem desempenhar. “Acredito que não temos tempo para preparar o futuro apenas com os mais jovens. Os adultos têm um papel determinante”.

O apoio proveniente da UNESCO dá, na opinião de Raquel, mais “credibilidade” à associação que difunde muitas das metas integrantes dos Objectivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS), aprovados pelos líderes mundiais reunidos na Assembleia-Geral das Nações Unidos em 2015.

Parte importante da actividade da Ocean Alive é, efectivamente, realizada por voluntários, mas no feminino. As Guardiãs do Mar integram a comunidade piscatória e são apoiadas pela Ocean Alive que, para além de promoverem uma maior consciencialização junto dos seus pares sobre a flora submarina e os cuidados que esta merece, também arregaçam continuamente as mangas na recolha de lixo. A importância dos seus esforços já foi reconhecida internacionalmente pela National Geographic, que recentemente atribuiu uma bolsa à iniciativa. Estas verbas serão usadas para “alargar o espectro de actividade da associação”, nomeadamente através da criação de “um grupo de acção para melhorar a protecção das pradarias [do estuário do Sado] através, por exemplo, de medidas de gestão locais”.

A 19 de Abril as acções vão dividir-se em dois momentos: o primeiro, entre as 08h30 e as 11h30, consistirá num contacto directo de sensibilização e consciencialização entre os voluntários e os marisqueiros; o segundo, entre as 10h30 e as 13h30, destinar-se-á à limpeza das margens do estuário. Nos dois, a organização do “Mariscar SEM Lixo” espera poder contar com um número alargado de participantes. Para os interessados, as inscrições estão abertas até 17 de Abril.