Apenas um soldado britânico vai enfrentar acusações pelas mortes do Domingo Sangrento

Liam Wray, irmão de uma das vítimas, afirmou que a sua família está “aliviada” mas reconheceu que é um momento “muito triste” para os familiares das restantes vítimas.

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Famílias das vítimas reunidas antes de conhecerem a decisão das autoridades da Irlanda do Norte Clodagh Kilcoyne/Reuters

A Procuradoria da Irlanda do Norte anunciou nesta quinta-feira os resultados de um inquérito sobre a morte de manifestantes desarmados no Bloody Sunday (Domingo Sangrento) de 30 de Janeiro de 1972, dia em que soldados enviados para travar uma marcha pelos direitos cívicos em Derry dispararam e mataram 14 católicos irlandeses, incluindo alguns adolescentes.

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A Procuradoria da Irlanda do Norte anunciou nesta quinta-feira os resultados de um inquérito sobre a morte de manifestantes desarmados no Bloody Sunday (Domingo Sangrento) de 30 de Janeiro de 1972, dia em que soldados enviados para travar uma marcha pelos direitos cívicos em Derry dispararam e mataram 14 católicos irlandeses, incluindo alguns adolescentes.

Um pára-quedista, identificado como “cabo F” será o único a enfrentar acusações formais: “Ficou concluído que há provas suficientes para acusar um ex-soldado, o ‘cabo F’, pelo assassínio de James Wray e William KcKinney, e pela tentativa de assassínio de Joseph Friel, Michael Quinn, Joe Mahlon e Patrick O’Donnell”, anunciou Stephen Herron, director dos Serviços de Procuradoria Públicos.

“No que respeita aos outros 18 suspeitos, incluindo 16 ex-soldados e dois alegados membros do IRA, concluiu-se que as provas disponíveis não são suficientes para garantir uma expectativa razoável de condenação”, disse ainda Herron, citado pelos jornais britânicos.

O antigo soldado não foi nomeado e só vai será identificado pelas letras usadas no inquérito de 12 anos liderado por lorde Saville de Newdigate para investigar o que aconteceu – os resultados desta investigação foram anunciados em Junho de 2010 e continham indícios suficientes para reabrir a investigação e até investigar alguns dos militares envolvidos. Na altura, o primeiro-ministro, David Cameron, pediu desculpas em nome do Reino Unido.

Nas conclusões então conhecidas ficou estabelecido que as mortes tinham sido injustificadas e que nenhuma das 14 vítimas estava armada, assim como que as tropas tinham sido as primeiras a disparar. Estas mortes desencadearam vários protestos e seguiram-se dias de motins. Foram as conclusões do inquérito liderado por Saville que permitiram à polícia da Irlanda do Norte reabrir as investigações e só isso tornou possível esta acusação conhecida agora contra o “cabo F”.

Herron admitiu que este é um dia muito difícil para as famílias das vítimas, as primeiras a conhecer as decisões da Procuradoria. Liam Wray, irmão de James Wray, afirmou que a sua família está “aliviada” mas reconheceu que é um momento “muito triste” para as famílias das outras vítimas.

O ministro da Defesa britânico, Gavin Williamson, já disse que Londres está disponível para assegurar a defesa do “cabo F”. “Estamos em dívida com estes soldados que serviram com coragem e distinção para levar a paz à Irlanda do Norte”, disse o ministro”. “O bem-estar dos nossos ex-militares é da maior importância”.