A poesia de cummings inspirou um disco português de música contemporânea

Pianista e compositor, Bruno M. Miranda apaixonou-se pela poesia de e. e. cummings e dedicou-lhe um disco. Vai apresentá-lo ao vivo em Lisboa esta sexta-feira, dia 8, no Museu Nacional da Música, às 19h.

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Neto de uma cantora lírica que é também pianista, Bruno M. Miranda já compõe há anos, mas nunca tinha editado um disco em formato físico. Tudo o que fazia, lançava-o nas plataformas digitais. Até que, influenciado pela obra do poeta do norte-americano e. e. cummings (Edward Estlin Cummings,1894-1962, que grafava o nome sem maiúsculas), resolveu estrear-se em CD. O disco, intitulado It may not always be so, foi lançado em Novembro de 2018 e é apresentado agora ao vivo em Lisboa, no Museu Nacional da Música, sexta-feira dia 8, às 19h.

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Neto de uma cantora lírica que é também pianista, Bruno M. Miranda já compõe há anos, mas nunca tinha editado um disco em formato físico. Tudo o que fazia, lançava-o nas plataformas digitais. Até que, influenciado pela obra do poeta do norte-americano e. e. cummings (Edward Estlin Cummings,1894-1962, que grafava o nome sem maiúsculas), resolveu estrear-se em CD. O disco, intitulado It may not always be so, foi lançado em Novembro de 2018 e é apresentado agora ao vivo em Lisboa, no Museu Nacional da Música, sexta-feira dia 8, às 19h.

Nascido em Lisboa, em 22 de Fevereiro de 1971, Bruno foi musicalmente influenciado pela avó, cantora lírica, Fernanda Raposo de Oliveira, hoje com 96 anos. “Ela cantava na antiga Emissora Nacional”, diz Bruno ao PÚBLICO. “Depois acabou por tirar o curso de piano e dava aulas de música.” Do lado paterno, ele teve também um primo que era professor de composição nos Estados Unidos. A música veio-lhe daí, dessas influências familiares.

Estudou na Academia de Amadores de Música e fez depois o Conservatório, onde teve aulas de composição com Eurico Carrapatoso, Jorge Peixinho e Paulo Brandão, com quem aprendeu também orquestração. No último ano, candidatou-se ao Berklee College of Music, em Boston. “A um curso de Film Scoring. E fui admitido lá.” Com uma bolsa.

Mas, como compositor, não conseguindo viver apenas da música, também tirou um curso de gestão. E trabalha no Banco de Portugal. “Costumo dizer que sempre me considerei mais um músico com curso de gestão do que um gestor com curso de música. Esta é a minha paixão.”

Mais minimal, numa base erudita

Antes de se dedicar ao projecto em torno da poesia de e. e. cummings, Bruno compôs e foi lançando apenas nas plataformas digitais diversos temas de sua autoria, como Hollywood Suite (que compôs “como forma de candidatura” ao Berklee), Farewell, Libera me, Adagio Lamentoso ou Memories from Brazil, entre outros, que podem ser ouvidos no seu site.

Mas com este último trabalho quis testar outros caminhos. “Experimentei fazer algo mais minimal. Aliás, a música que abre o álbum, Dive for dreams, foi a primeira que compus e nessa altura nem sabia que ia fazer o álbum. Peguei no poema, gostei do resultado e decidi continuar.”

A música a que Bruno se refere oscila entre classificações, apesar da sua base erudita: “Pode-se dizer que é clássica, por ter instrumentos clássicos, mas dentro deste campo é mais ligeira, mais minimal, mais no estilo de um Max Richter ou de um Ólafur Arnalds.”

Com a poesia e a voz de e. e. cummings

Como chegou ao poeta? De uma forma quase ocasional, recorda Bruno. “O primeiro contacto que tive com a poesia do cummings foi através de um livro, uma selecção de poemas, que a minha irmã mais velha me ofereceu. Era uma edição bilingue, da Assírio & Alvim. E quando comecei a ler esse livro fiquei apaixonado pelos poemas dele.” A métrica da escrita quase o levou a musicá-la. “Pensei em fazê-lo a canto e piano, com os poemas cantados.”

Mas desistiu da ideia, achando que a música sem as palavras poderia ser uma abordagem mais adequada ao que tinha em mente. Com uma excepção, no penúltimo tema: a voz do próprio poeta, com a integração, no disco, do poema I carry your heart with me gravado por ele. “Contactei o publisher do cummings, nos Estados Unidos, e eles foram impecáveis. Quando cheguei a esse poema (primeiro seleccionei aqueles para os quais queria escrever a música), que é capaz de ser o poema mais conhecido dele, achei que devia fazer algo leve, porque o poema já é muito rebuscado. Então encontrei essa gravação do cummings no YouTube e disse: é isto mesmo. A música, aqui, serve apenas como banda sonora do próprio poema.”

O disco fecha com uma versão orquestral de It may not always be so, que dá título ao disco e já o integrara (na faixa 3) só tocado ao piano. “Esse é o meu poema preferido. Aliás, a partir dele, soube logo que nome ia dar ao álbum. Integrei o piano também na versão orquestral.”

Piano e quarteto de cordas

No dia 8 de Março, às 19h, no Museu Nacional da Música em Lisboa, vai apresentar ao vivo o disco It may not always be so. “Para o concerto, fiz alguns arranjos para piano e quarteto de cordas.” É o caso do tema que dá título ao disco. “Primeiro a parte introdutória, com o piano, depois a parte do tema principal com quarteto de cordas. Foi uma forma de juntar as duas versões.”

Com Bruno M. Miranda (piano) estarão quase todos os músicos que gravaram com ele no disco (à excepção de Débora Caracol, violino): António Barbosa e João Araújo (violinos), Pedro Pereira (viola) e Joaquim Caineta (violoncelo).