O telemóvel faz mal à saúde? Muitos jovens ainda acham que sim

Inquérito a 916 adolescentes mostra que quase metade ainda acredita que as radiações electromagnéticas emitidas pelos telemóveis são prejudiciais para a saúde.

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daniel Rocha

Mais de 100 SMS por dia, mais de 30 minutos em chamadas e muitos mais na internet, a jogar ou a ouvir música. Os adolescentes usam cada vez mais o telemóvel, mas muitos ainda se preocupam com os possíveis efeitos para a saúde da exposição às radiações electromagnéticas emitidas por estes aparelhos. E até há pais que partilham estes receios e restringem a utilização do telefone.

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Mais de 100 SMS por dia, mais de 30 minutos em chamadas e muitos mais na internet, a jogar ou a ouvir música. Os adolescentes usam cada vez mais o telemóvel, mas muitos ainda se preocupam com os possíveis efeitos para a saúde da exposição às radiações electromagnéticas emitidas por estes aparelhos. E até há pais que partilham estes receios e restringem a utilização do telefone.

Os resultados constam do inquérito feito no âmbito do Faqtos, um projecto de comunicação do risco associado à exposição à radiação electromagnética em comunicações móveis. Desde o ano lectivo 2010/11 que são distribuídos inquéritos entre os estudantes do ensino secundário (têm entre 16 e 17 anos) que visitam o Departamento de Engenharia Electrotécnica do Instituto Superior Técnico, em Lisboa, e em escolas secundárias onde são feitas palestras sobre o tema. No total, já foram feitos 10.007 inquéritos. Em 2017/18, os investigadores conseguiram reunir respostas de 916 alunos, a maioria da zona de Lisboa — mas também de Setúbal, Leiria, Porto, Santarém, Bragança, Évora, Braga e Aveiro.

Apesar de 44% dos adolescentes se afirmarem preocupados com os efeitos das radiações na saúde, este receio não é confirmado pela ciência. Os níveis “de radiação a que estamos expostos [ao usar o telemóvel] são muito baixos e estão muito abaixo dos valores recomendados pela Organização Mundial de Saúde”. “Não há risco”, diz o professor Luís Correia, coordenador do projecto.

Então porque é que os jovens se preocupam? É difícil saber. “A minha percepção é que os estudantes dizem que estão preocupados em termos genéricos, porque é um tema que aparece na comunicação social, mas é uma preocupação que não é muito real”, diz Luís Correia. Suportando-se em outros dois dados: 17% dos adolescentes dizem que vão procurar informação sobre o assunto e só 13% dizem fazer alguma coisa para se protegerem. “É uma preocupação que eu diria que não é consequente”, resume o professor do Técnico.

A proporção de adolescentes que afirma preocupar-se com esta questão tem vindo a diminuir desde que o projecto está em curso. Este ano aumentou, mas Luís Correia desvaloriza. “Houve um ligeiro aumento neste ano, mas está bastante abaixo daquilo que era no início”, quando quase 60% afirmava ter algum receio sobre os efeitos da utilização do telemóvel na saúde. “Agora estamos abaixo dos 50%. Este ligeiro aumento pode ser meramente conjuntural.”

Muita Internet e só um telemóvel

O questionário apresentado pela equipa do Faqtos não pergunta só sobre radiações electromagnéticas. Também procura saber quantos telemóveis têm os adolescentes; que serviços mais utilizam; quantas mensagens enviam; quanto tempo passam ao telefone; quanto gastam por mês com estes aparelhos. O projecto já vai na sétima edição o que permite tirar algumas conclusões sobre a evolução da utilização deste objecto pelos jovens.

Alguns exemplos: são cada vez menos os adolescentes que dizem que utilizam o telemóvel principalmente para enviar SMS (apesar de ainda o fazerem muito há outras actividades que agora ocupam o primeiro lugar); têm um só telemóvel; quase todos já referem a utilização do telemóvel para ir à internet (em 2010/2011 eram cerca de 45%); há muito mais tarifários que incluem um pacote de dados (66% têm mais do que 1GB); e também são cada vez mais os que contemplam comunicações grátis e ilimitadas para todas as redes.

Apesar de considerar que as conclusões que este inquérito permite retirar acabam por reflectir “o que os jovens com esta idade pensam”, Luís Correia é peremptório: “Não reivindicamos nenhuma representatividade nacional.” Para que fosse possível tirar conclusões sobre os jovens portugueses seria necessário “um estudo da amostra completamente diferente”.