O que diz a ciência sobre as radiações dos telemóveis?

Não há provas científicas de que exista uma relação entre a radiação electromagnética e sintomas como dores de cabeça e cansaço.

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Já foram publicados cerca de 25 mil artigos sobre radiação não-ionizante nos últimos 30 anos Maria João Gala

Num estudo do Instituto Superior Técnico, no ano lectivo de 2017/2018, 44% de mais de dez mil alunos do ensino básico e secundário mostraram-se preocupados com os possíveis efeitos das radiações dos telemóveis. Porém, não há fundamentação científica que justifique tal preocupação.

No livro A Ciência e os Seus Inimigos (Gradiva, 2017), o físico Carlos Fiolhais e o bioquímico David Marçal explicam que a radiação dos telemóveis não é ionizante e, desta forma, é “bastante segura”. “Mas, nunca fiando: [por isso] ao logo das últimas décadas têm sido feitos numerosos estudos para avaliar os seus efeitos”, escrevem. Também no livro Não se Deixe Enganar (Contraponto Editores, 2017) de Diana Barbosa, João Lourenço Monteiro, Leonor Abrantes e Marco Filipe (da Comunidade Céptica Portuguesa) se destaca: “Na área da radiação não-ionizante foram publicados cerca de 25 mil artigos nos últimos 30 anos.” Mas nenhum encontrou provas de que estas radiações sejam prejudiciais.

Carlos Fiolhais e David Marçal falam de alguns estudos. Publicadas em 2011, duas revisões sistemáticas da literatura científica não detectaram nenhuma associação entre sintomas e proximidade a fontes de radiação electromagnética. Já um estudo publicado em 2015 – que reunia dois relatórios – apontava que as pessoas só sentiam um aumento significativo de sintomas quando lhes diziam que uma fonte de radiação tinha sido ligada.

Embora algumas pessoas acreditem que têm sensibilidade à radiação electromagnética e que isso causa sintomas como dores de cabeça, cansaço, náuseas ou dores musculares, a medicina considera-a uma doença idiopática (que surge espontaneamente a partir de uma causa desconhecida).

Como se salienta no livro Não se Deixe Enganar, a própria Organização Mundial da Saúde (OMS) afirma que não há provas que confirmem a existência de consequências para a saúde por exposição aos campos electromagnéticos de baixo nível. Também um relatório da Comissão Científica para os Riscos para a Saúde Emergentes e Recentemente Identificados chegou à conclusão de que é “improvável que a exposição a campos electromagnéticos leve a um aumento de cancro em humanos”, assinala-se no livro.

De onde surge então esta preocupação? Carlos Fiolhais e David Marçal citam uma frase da OMS: “No entanto [não havendo provas que há consequências para a saúde vindas das radiações electromagnéticas], existem algumas lacunas no conhecimento sobre os efeitos biológicos, sendo necessária mais investigação.” Portanto, daqui surge a argumentação de que há efeitos negativos para a nossa saúde. “Claro que a falta de relação de causalidade não significa que os sintomas das pessoas que sofrem de hipersensibilidade à radiação electromagnética não sejam reais. Apenas significa que não é plausível que sejam causados pelas redes Wi-Fi ou de telemóvel.”

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