A história da Vista Alegre foi construída ao som de uma “banda sonora” própria

Exposição dá a conhecer o património musical da reconhecida fábrica de porcelanas. São mais de 150 anos de história ao som de uma banda filarmónica, dois orfeões e um grupo de jazz.

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Era o ano de 1826. A fábrica da Vista Alegre tinha começado a laborar há dois anos. Por iniciativa do seu fundador, José Ferreira Pinto Basto, organiza-se uma banda filarmónica, composta por operários. Viria a durar mais de 150 anos e a alcançar grande reputação. Actuou em momentos marcantes para a vida da fábrica (e não só) mas não foi a única responsável pela “banda sonora” da Vista Alegre. Também houve, por ali, dois orfeões – um “patrocinado” pela administração da fábrica e outro não – e um grupo de jazz. Um património musical que é, agora, dado a conhecer ao público numa exposição patente no Museu da Vista Alegre.

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Era o ano de 1826. A fábrica da Vista Alegre tinha começado a laborar há dois anos. Por iniciativa do seu fundador, José Ferreira Pinto Basto, organiza-se uma banda filarmónica, composta por operários. Viria a durar mais de 150 anos e a alcançar grande reputação. Actuou em momentos marcantes para a vida da fábrica (e não só) mas não foi a única responsável pela “banda sonora” da Vista Alegre. Também houve, por ali, dois orfeões – um “patrocinado” pela administração da fábrica e outro não – e um grupo de jazz. Um património musical que é, agora, dado a conhecer ao público numa exposição patente no Museu da Vista Alegre.

Através de vários objectos, documentos, memórias orais e fotografias, a mostra apresenta o universo musical no contexto operário da fábrica da Vista Alegre. São mais de 150 anos de história, marcados por pequenas estórias e curiosidades, conforme tem vindo a constatar o investigador Pedro Rocha, curador da exposição “Há Música na Vista Alegre. Entre a vida da música e a música da vida num contexto operário”. Tem sido este o tema dos seus projectos de investigação científica – a sua tese de doutoramento incidiu sobre a Vista Alegre e foi chamado a participar no projecto Mpart – Música Participada –, razão pela qual conhece este património como muito poucos.

A ligação da fábrica da Vista Alegre à cultura – que se reflectiu, também, no teatro – resultou dessa aposta da administração em “educar” o operário, elevando o seu nível cultural e artístico. “Era importante para as pessoas terem outra sensibilidade, produzirem desenhos, esculpirem peças de porcelana”, nota Pedro Rocha.

Assim se explica o apadrinhamento da banda filarmónica que “teve uma importância muito grande” para além da área da fábrica e da região. “Em 1848 estava a participar nas guerras liberais, nomeadamente, na guerra da Maria da Fonte, no Norte”, evoca o investigador, evidenciando também a actuação da banda, em 1886, no casamento do rei D. Carlos, em Lisboa.

Dois orfeões e um grupo de jazz

Em 1930, nasce aquele que viria a ser o primeiro orfeão da Vista Alegre. “Surgiu não de uma decisão da administração mas sim de um operário, José Cardoso Pereira”, especifica o investigador. Era o Orfeão Martins Rosa – o nome prestava homenagem a um antigo maestro da banda -, mas “durou apenas três anos”. “Há todo um sentido que Cardoso Pereira atribui à associação que não cai bem na fábrica e há ordens da administração para ele ‘não tomar liberdades’”, relata Pedro Rocha.

Apesar da sua curta duração, a sua história “foi toda escrita pelo seu fundador”. “José Cardoso Pereira deixa tudo documentado. As diligências que ele encetou para constituir o orfeão, as cartas que ele escreveu para maestros e até para a Valentim de Carvalho”, especifica o curador.

O orfeão “oficial” da fábrica nasce pouco tempo depois do primeiro terminar. “Foi criado em 1937, mas viveu alguns altos e baixos: em 1947 já não estava a funcionar; por volta de 1970, volta outra vez e dura até aos anos 80”, refere o investigador. “Acaba ao mesmo tempo que a banda filarmónica”, prossegue, lembrando que, por esta altura, “a arte e o entretenimento passam para outra esfera que não é a esfera privada da indústria; e as próprias indústrias deixam de ter interesse em investir nestas actividades”.

A vivência cultural da fábrica também ficou marcada pela existência de “um grupo de jazz, dinamizado por operários” e por “todas essas histórias de serenatas no bairro”. Também dos encontros “na barbearia quando alguém tocava violino”, revela, ainda, o curador da exposição que está patente até dia 14 de Abril, na sala de exposições temporárias do Museu da Vista Alegre.

A mostra é complementada com a dinamização de dois workshops. O primeiro, intitulado “Escutas Memórias”, acontece este sábado (16 de Fevereiro), e prevê a partilha de alguns segredos relacionados com a história da música local. O segundo, “A Música tem Vista Alegre”, está marcado para 16 de Março, e promete explorar as sonoridades musicais provenientes da porcelana recorrendo ao corpo, à voz e a vários instrumentos.