Como a Venezuela transforma a sua moeda desvalorizada em ouro

Crise económica gerou uma corrida ao ouro, que é comprado pelo governo de Nicolas Maduro e usado para pagar a importação de bens.

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Exemplo de exploração artesanal de ouro na Venezuela. Reuters/STRINGER

As operações financeiras mais bem-sucedidas da Venezuela nos últimos anos não ocorreram em Wall Street, mas em campos primitivos de mineração de ouro no Sul do país. É assim que começa um trabalho da Reuters sobre o elevado número de “caçadores de fortunas”, estima-se que cerca de 300 mil, que se dirigiram à área rica em minerais da floresta, criando “minas improvisadas”.

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As operações financeiras mais bem-sucedidas da Venezuela nos últimos anos não ocorreram em Wall Street, mas em campos primitivos de mineração de ouro no Sul do país. É assim que começa um trabalho da Reuters sobre o elevado número de “caçadores de fortunas”, estima-se que cerca de 300 mil, que se dirigiram à área rica em minerais da floresta, criando “minas improvisadas”.

“As suas pás e picaretas estão a ajudar a sustentar o governo esquerdista do presidente Nicolás Maduro", avança a agência, referindo que, desde 2016, e de acordo com os dados mais recentes do banco central do país, o Estado já comprou 17 toneladas do metal, no valor de cerca de 650 milhões de dólares (573 milhões de euros) aos chamados mineiros artesanais.

O ouro comprado aos novos mineiros é pago na moeda nacional, o bolívar, fortemente desvalorizado, e é depois utilizado como moeda “forte” para pagar a importação de alimentos e produtos de higiene, conseguindo, dessa forma, contornar as sanções e o bloqueio comercial que pretendem forçar a marcação de eleições livres.

Ainda recentemente, John Bolton, conselheiro de Segurança Nacional da Casa Branca, lançou um aviso no Twitter “aos banqueiros, negociantes e facilitadores", apelando a que "não negoceiem em ouro, petróleo ou outros recursos naturais roubados do povo venezuelano pela máfia de Maduro”.

“A existência do programa de ouro de Maduro é bem conhecida”, lembra a Reuters, que optou por fazer um levantamento do circuito do metal precioso, desde a exploração – em condições humanas difíceis, e onde frequentemente há homicídios e roubos, incluindo de militares oficiais – até à sua utilização final para pagar "a massa e o leite em pó" importado da Turquia, país aliado de Nicolás Maduro.

Em La Culebra, uma área de selva isolada no Sul da Venezuela, a agência encontrou centenas de mineiros que escavam túneis à mão, "destruindo ecossistemas florestais frágeis e disseminando doenças transmitidas por mosquitos”. Os mineiros queixam-se de extorsão por forças militares enviadas para proteger a região, cuja taxa de homicídios é sete vezes maior do que a média nacional. Os ministérios de Defesa e Informação da Venezuela não responderam aos pedidos de esclarecimento da Reuters.

Depois de percorrer um circuito de pequenos comerciantes, o ouro acaba por ser comprado pelo governo e transportado para os cofres do banco central na capital Caracas. Segundo dois altos funcionários da instituição, o ouro é vendido posteriormente, sendo “o principal comprador a Turquia”.

“Até mesmo os críticos de Maduro reconhecem que ele conseguiu um truque de alquimia: ao compensar os mineiros mais pressionados com bolívares desvalorizados pela inflação e obter metais preciosos em troca, ele encontrou uma maneira de transformar palha em ouro”, escreve a Reuters.