Estamos prontos para comer insectos?

Introduzir na dieta humana alimentos com origem em insectos pode ser uma forma de minimizar a nossa pegada ecológica causada pela indústria animal. Mas os seguidores do estilo de vida vegan não concordam.

Foto
Estão os consumidores ocidentais prontos para comer insectos? Uns mais do que outros Vilma Lehtovaara

Os insectos também podem ser uma fonte de proteínas em alternativa à carne e ao peixe. As suas propriedades nutritivas já começaram a ser utilizadas em barras energéticas, pão ou massas para consumo humano. Mas será que o consumidor ocidental está pronto para incluir estes bichinhos no prato? Até que ponto questões culturais e sociais são um entrave?

A verdade faz-nos mais fortes

Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.

Os insectos também podem ser uma fonte de proteínas em alternativa à carne e ao peixe. As suas propriedades nutritivas já começaram a ser utilizadas em barras energéticas, pão ou massas para consumo humano. Mas será que o consumidor ocidental está pronto para incluir estes bichinhos no prato? Até que ponto questões culturais e sociais são um entrave?

Omnívoros e vegetarianos parecem estar mais abertos a esta possibilidade. Já para os vegans – dieta que exclui qualquer alimento de origem animal – a questão não é tão simples, pelo menos segundo uma equipa da Universidade da Finlândia Oriental e da Universidade de Helsínquia que analisou a disposição da população finlandesa em consumir alimentos com origem em insectos.

Através de um inquérito online, houve 567 consumidores que decidiram participar nessa consulta: 73% eram omnívoros, 22% vegetarianos e 5% vegans. Dentro da dieta vegetariana estavam os semi-vegetarianos, lacto-vegetarianos e lacto-ovo-vegetarianos. Ainda que a amostra tenha uma percentagem elevada de vegetarianos e vegans, estudos anteriores indicaram que na população finlandesa há apenas 4,1% de vegetarianos.

Segundo os resultados, 69% dos vegans foram considerados “consumidores improváveis” de insectos, enquanto 58% dos vegetarianos e 56% dos omnívoros foram considerados “consumidores prováveis”.

“Em geral, os consumidores ocidentais não consideram comida com origem em insectos como uma opção deliciosa e nutriente, mas ainda assim encaram os insectos como uma resposta necessária para o problema da população em excesso e o problema ambiental causado pela produção de carne”, refere o artigo publicado na revista Nutrients. “A probabilidade de aceitar os insectos como um alimento parece aumentar à medida que aumenta a consciência dos consumidores sobre o impacto ambiental da produção de alimentos”, acrescenta o artigo.

Estes “novos alimentos” também já começaram a dar os primeiros passos em Portugal. Em Maio do ano passado, foi criada a Associação Portuguesa de Produtores e Transformadores de Insectos — Portugal Insect, fundada pelas empresas portuguesas Portugal Bugs, EntoGreen e Nutrix.

Em 2013, a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO) já tinha publicado um relatório onde defendia que os insectos são uma alternativa mais sustentável com vantagens para a saúde humana e o ambiente. Segundo uma estimativa da FAO nesse relatório, a população em 2050 pode chegar aos nove mil milhões de pessoas (mais dois mil milhões do que hoje), pelo que alimentos com origem em insectos podem ser uma das respostas à produção de alimentos que terá de duplicar para responder às necessidades humanas.

“Não se insere na minha visão do mundo”

Mas para os defensores dos animais como os vegans esta continua a não ser uma opção. “Não como qualquer animal enquanto existirem outras opções de comida. Matar alguma coisa (quer seja uma larva, um frango ou um cão) só por diversão não se insere na minha visão do mundo. Além disso, o consumo de insectos em países ocidentais não resolve o problema da escassez mundial de alimentos”, disse um dos vegans que participou neste estudo, citado no artigo.

“Esperávamos que existissem diferenças entre os três grupos e esperávamos que os vegans mostrassem a atitude mais negativa em relação ao consumo de insectos. Os vegans vêem os insectos como seres vivos, assim como qualquer outro animal”, aponta Anna-Liisa Elorinne, investigadora da Universidade da Finlândia Oriental e uma das autoras do artigo, no comunicado da sua universidade.

“Os insectos são seres vivos e não é correcto utilizá-los como comida. Iríamos necessitar de um grande número de insectos para encher os nossos estômagos e isso é questionável na perspectiva do valor absoluto dos animais”, expôs outro “consumidor improvável” que optou pelo estilo de vida vegan. “Também seria absurdo inserir insectos na minha dieta depois de ser vegan há tantos anos. Provavelmente, a criação intencional de insectos para consumo humano também seria negativa para o ambiente.”

Texto editado por Teresa Firmino