Neste bar, a comida e o vinho são "companheiros para a vida"

O vinho e a cerveja são donos e senhores. Mas o legado de um sítio é uma coisa que não se perde e é isso que Carla Costa põe em prática no Beer & Wine Up.

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No início era o vinho, mas anos mais tarde a cerveja conquistou também o seu lugar. Para entender a história do Beer & Wine Up há que recuar a 1982. Nesse ano, Joaquim Sousa, um empresário natural do Montijo, dava os primeiros passos no mercado da restauração e mediação de imóveis. Os negócios corriam de vento em popa e, para o então jovem, havia duas coisas que nunca podiam faltar ao fechar-se um acordo: comida bem confeccionada e regada, acompanhada de boa prosa.

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No início era o vinho, mas anos mais tarde a cerveja conquistou também o seu lugar. Para entender a história do Beer & Wine Up há que recuar a 1982. Nesse ano, Joaquim Sousa, um empresário natural do Montijo, dava os primeiros passos no mercado da restauração e mediação de imóveis. Os negócios corriam de vento em popa e, para o então jovem, havia duas coisas que nunca podiam faltar ao fechar-se um acordo: comida bem confeccionada e regada, acompanhada de boa prosa.

“A malta das construtoras e mediadoras reunia-se sempre em restaurantes onde fazia algumas tertúlias”, conta. Os anos foram passando e o costume mantinha-se fiel. Afinal de contas, diz Joaquim, a comida e vinho “são bons companheiros de vida”. Depois disso, vieram os anos da crise e com eles o negócio abrandou.

Nesses anos de desaceleração económica, Joaquim deparou-se com um espaço livre no Montijo, que antes usava como escritório de trabalho. Decidiu pegar nele e dar-lhe uma volta para o transformar num sítio onde pudesse receber e fazer amigos.

Assim foi. De um escritório abandonado nasceu um bar de vinhos privado onde se conversava sobre negócios – e não só. Mais do que tudo, criou-se um espaço de tertúlia e partilha à porta fechada.

Fruto de outras circunstâncias, em 2013, o número 49 da Rua do Alecrim, em Lisboa, veio parar-lhe às mãos. Joaquim queria sediar em Lisboa esse seu lugar onde punha em prática a arte de bem receber, e nada melhor do que um espaço numa das ruas mais centrais da capital para concretizar a sua vontade.

Nesse ano, abriu então o Wine Up, um bar de vinhos com néctares selectos que servia agora de bastião aos negócios. Primeiro era à porta fechada, mas com o tempo, explica, “o conceito foi-se moldando”.

De almoços e jantares por encomenda passou a ter a porta aberta ao público de vez em quando. Daí partiu para os jantares vínicos, em que enólogos e produtores marcavam presença nos repastos cuidadosamente harmonizados para casarem sabores. Não tardou muito até que os serões que ali se faziam se prolongassem ao ritmo de recitais de poesia ou palestras sobre astronomia.

Joaquim dava por ele a tentar “juntar sempre alguma coisa para que as pessoas não tivessem um jantar normal”. Para ter acesso aos serviços do anfitrião, era uma questão de ir passando ou de ir ligando. É que Joaquim não parava muito tempo.

Assim se foi mantendo o ritual até que, em 2018, o empresário decidiu fechar o espaço em Lisboa para se dedicar a outro projecto — recriar o conceito do Wine Up noutro sítio. Mais concretamente, perto de casa e do coração, em Alcochete. Actualmente é lá que o podem encontrar. Desta feita, num espaço que funciona assumidamente como restaurante e de portas sempre abertas para bem receber.

Graças às amizades feitas entre tilintares de copos e talheres, Joaquim cruzou-se num desses serões com Carla Costa, uma conhecida que viria a tornar-se amiga. “Foi na Rua do Alecrim que conheci o Joaquim”, conta a actual proprietária do espaço na Rua que vai desembocar na Praça Luís de Camões.

Carla, de 56 anos, acordou com Joaquim tomar conta do espaço e foi assim que, em Outubro de 2018, abriu o Beer & Wine Up.  “Foi um desafio que fiz ao Joaquim”, explica. Depois de muito falar, o acordo foi fechado e Joaquim afastou-se com a promessa de manter o 49 daquela rua a funcionar no mesmo comprimento de onda. Carla já não é nova nestas andanças. Antes deste novo projecto teve vários restaurantes noutras zonas da cidade e chegou a um ponto em que entendeu que tinha de mudar. Fê-lo desta forma, com a promessa de pegar no legado de Joaquim.

“O objectivo é manter o espaço com o conceito que já era praticado pelo Joaquim”, afiança. A cara não é a mesma, mas quem está por trás do balcão tem os mesmos valores. “Aqui bebe-se vinho e partilham-se refeições”. “Não é um restaurante típico”, mas também não é um bar. “É uma coisa a que as pessoas facilmente aderem”, conclui.

A Carla e a Joaquim foi o vinho que os uniu. Mas dos queijos e petiscos até aos pratos de tacho, há muito para provar. De preferência a partilhar. Mas o que é mesmo a alma da casa é o típico bacalhau à Brás, o camarão ao guilho ou o pica-pau. E para regar há sempre vinho de todos os cantos do país.

Esta transição é um trabalho em progresso. O agora Beer & Wine Up continua a ser o sítio onde passar para desfrutar de uma bebida ou apenas de um petisco para apaziguar o estômago. Para além disso, Carla não esconde que, para quem quiser comer, há propostas para todos os gostos. Em breve haverá três ou quatro menus de grupo que irão dos 17,50 aos 24 euros e que incluem dois pratos, entradas e sobremesas, sem nunca descurar o vinho — que fará parte do menu.

Nesta casa faz-se do bem receber “um prazer”, assegura Carla. Não só para quem lá vai, mas também para quem serve.