Uma exposição sobre uma exposição e um regresso a casa nos 60 anos do CAPC

Círculo de Artes Plásticas de Coimbra assinala aniversário com programação que termina no final do ano com a bienal de arte contemporânea.

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O ponto de partida era uma exposição sobre a colecção do Círculo de Artes Plásticas de Coimbra (CAPC), para celebrar os 60 anos desde a sua fundação. No entanto, a exposição No dia seguinte está o agora, em exibição na casa do Círculo da Rua Castro Matoso, em Coimbra, já é diferente da que se apresentou ao público, no dia 15 de Dezembro.

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O ponto de partida era uma exposição sobre a colecção do Círculo de Artes Plásticas de Coimbra (CAPC), para celebrar os 60 anos desde a sua fundação. No entanto, a exposição No dia seguinte está o agora, em exibição na casa do Círculo da Rua Castro Matoso, em Coimbra, já é diferente da que se apresentou ao público, no dia 15 de Dezembro.

A nova versão da exposição que teve a curadoria dos artistas Nuno Sousa Vieira e Cristina Mateus reforça a ideia de se trabalhar sobre um legado. O CAPC abriu um concurso para que outros artistas trabalhassem sobre a exposição pré-existente. “É uma exposição sobre outra exposição, esta que se inaugura hoje”, afirma ao PÚBLICO o director, Carlos Antunes.

O interesse da exposição No dia seguinte está o agora, entende Carlos Antunes, é envolver “jovens artistas com pouca visibilidade pública ou que nunca expuseram em lado nenhum” para que, “a partir da consciência desta história, deste legado” possam propor “um Círculo que há-de existir”.

Também nesta quinta-feira, se comemorou o 1.000.056.º Aniversário da Arte, data assinalada pelo CAPC desde 17 de Janeiro de 1974, quando Ernesto de Sousa partiu de uma ideia de Robert Filliou para convocar uma festa "sem arte (convencional)". Em 1963, o artista francês do movimento Fluxus sugeriu num poema que a arte tinha nascido há 1 milhão de anos, precisamente no dia 17 de Janeiro. Este ano, em Coimbra, a sede do CAPC foi palco de performances, instalações, concertos e jogos para celebrar essa data.

Em dia de festa, houve também um regresso a casa. Um dos membros do grupo de amigos que, em 1958, deu origem ao CAPC, Emílio Rui Vilar (do qual também fez parte o pintor Mário Silva), actual presidente do Conselho de Fundadores de Serralves, visitou a casa que desde a década de 1960 acolhe o Círculo, tendo sido classificada em 2016 como monumento de interesse público.

As seis décadas transformaram o contexto que envolve a instituição, mas também o tipo de trabalho, assinalou o também ex-presidente da Gulbenkian em declarações aos jornalistas. Então estudante de Direito da Universidade de Coimbra, Emílio Rui Vilar explica que o CAPC nasceu numa altura em que não havia ensino artístico na cidade e longe dos contornos profissionais que a estrutura viria a adquirir. “A arte era um elemento de revolta e da luta contra a situação política que se vivia”, refere, e uma forma de se actuar nos “espaços estreitos que não eram tolhidos pela censura nem pela polícia política”.

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A juntar-se a No dia seguinte está o agora está a exposição de Eduard Arbós, A shot in the eye, que fica até 23 de Março, no Círculo da Sereia, na Casa Municipal da Cultura, em Coimbra. O trabalho deste artista catalão parte de uma experiência traumática, em que esteve em risco de perder o olho direito.

O programa de comemoração dos 60 anos do CAPC arrancou em 2018, com a exposição A Casa das Vanguardas, sob o mote “Mensagem para as gerações futuras”. A frase acabava por ser uma provocação e sugere a resposta (“Puta que os pariu!”) do escritor Luiz Pacheco, quando esse repto lhe foi lançado.

“Não queremos insultar ninguém, mas também não estamos concentrados nas futuras gerações, como não estamos concentrados no passado”, afirma Carlos Antunes, para de seguida acrescentar: “O que nos interessa é antecipar o futuro, a partir da consciência daquilo que foi o passado”.

As celebrações terminam no final deste ano, com a terceira edição do Anozero, a bienal de arte contemporânea de Coimbra. Com a curadoria do brasileiro Agnaldo Farias e a A Terceira Margem do Rio como tema (a partir do conto com o mesmo nome de Guimarães Rosa), a exposição tem início a 2 de Novembro, estendendo-se até 30 de Dezembro. Em meados de Fevereiro será conhecida a lista final de artistas que irão participar nesta edição, adianta Carlos Antunes.