João Lourenço no Alfeite: um olho nas lanchas e outro na cooperação

Determinado a modernizar a sua Marinha e a criar um Centro Multinacional de Coordenação Marítima para o Golfo da Guiné, o Presidente de Angola visitou o estaleiro onde são construídas de raiz embarcações para vários fins e a base onde são formados alguns quadros militares angolanos.

Fotogaleria

Num momento em que Angola está a desenhar a sua Estratégia Marítima Nacional e a capacitar-se para instalar um Centro Multinacional de Coordenação Marítima para a vigilância de uma zona do Golfo da Guiné, João Lourenço fez questão de passar pela Base Naval de Lisboa e o Arsenal do Alfeite durante a sua visita de Estado a Portugal. Não houve declarações nem explicações à imprensa sobre os particulares interesses na visita, acompanhada pelo ministro da Defesa João Gomes Cravinho, mas o contexto e as instalações dão algumas pistas.

A verdade faz-nos mais fortes

Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.

Num momento em que Angola está a desenhar a sua Estratégia Marítima Nacional e a capacitar-se para instalar um Centro Multinacional de Coordenação Marítima para a vigilância de uma zona do Golfo da Guiné, João Lourenço fez questão de passar pela Base Naval de Lisboa e o Arsenal do Alfeite durante a sua visita de Estado a Portugal. Não houve declarações nem explicações à imprensa sobre os particulares interesses na visita, acompanhada pelo ministro da Defesa João Gomes Cravinho, mas o contexto e as instalações dão algumas pistas.

Na zona do Alfeite, Lourenço – que antes de ser Presidente foi ministro da Defesa - visitou a Divisão de Sistemas de Combate e Comunicações, a doca seca onde são reparadas as embarcações e a área de compósitos, os estaleiros onde são construídos três tipos de lanchas: de patrulha, salva-vidas e desembarque de cargas. Embarcações versáteis e modernas que podem ser equipadas à medida dos interesses dos clientes, como já o são para Marrocos e as Filipinas.

Este é um sector que tem merecido particular atenção do Presidente de Angola nas visitas ao estrangeiro. Em Agosto, na Alemanha, João Lourenço anunciou, logo no primeiro dia da visita, que estava interessado do “fornecimento de embarcações de guerra” e “outros meios electrónicos” para a Marinha angolana. O objectivo principal que então referiu foi precisamente a participação na defesa do Golfo da Guiné, cobiçado por “piratas e terroristas” e por onde passa o tráfico de droga e seres humanos. Angela Merkel mostrou-se particularmente satisfeita e anunciou a disponibilidade da Alemanha em estabelecer parcerias e apoiar esse investimento angolano.

Embora em Portugal não tenha havido uma palavra pública a esse respeito, a cooperação na área da Defesa existe desde a década de 90, em áreas como o ensino e formação de quadros, a saúde hiperbárica e treinos e exercícios de segurança marítima, e mais recentemente a ciberdefesa, oceanografia, hidrografia, cartografia, bem como a logística, a investigação e o desenvolvimento. Ainda em Maio, o ex-ministro Azeredo Lopes visitou Angola e assinou, com o seu congénere, o Programa-Quadro de Cooperação no Domínio da Defesa para o período 2018-2021.

Por outro lado, Portugal tem em curso desde 2008 a iniciativa “Mar Aberto” no Golfo da Guiné, onde neste segundo semestre se encontra o Navio Patrulha Oceânico “NRP Viana do Castelo” a desenvolver actividades de segurança cooperativa e de capacitação no domínio da segurança marítima com países amigos. O navio visitou Angola entre 8 e 19 de Setembro, e ali realizou acções complementares de capacitação do pessoal da Marinha de Guerra Angolana.

Angola é um dos países subscritores da Convenção de Yaoundé de segurança da zona marítima central e ocidental africana onde se prevê, desde 2013, que venha a criar o Centro Multinacional de Coordenação Marítima para a vigilância da Zona A. Se conseguir segurar as suas águas marítimas e assim contribuir para a segurança da costa ocidental africana, Luanda poderá tornar-se um actor regional cada vez mais poderoso. E Portugal pode ser um parceiro valioso, cuja maior vantagem continua a ser a língua comum.