Peter Hook vai vender uma (boa) parte da história dos Joy Division e New Order

Com a venda da Peter Hook Signature Collection vai leiloar-se a guitarra de Ian Curtis, os baixos de Hook e até a famosa mesa da Factory Records. “Senti que algo se tinha quebrado" depois do litígio com os restantes membros das bandas, justifica.

Fotogaleria

Apartado dos colegas sobreviventes dos Joy Division e New Order, Peter Hook vai vender centenas de peças da sua história, mas também da Factory Records e de momentos-chave do punk e da cena de Manchester nos anos 1970 e 80. Um leilão vai pôr à venda, a 2 de Março de 2019, a Peter Hook Signature Collection, da qual fazem parte os baixos que usou em Unknown Pleasures e Closer ou a guitarra de Ian Curtis no vídeo de Love Will Tear Us Apart. E a infame mesa da Factory Records.

A verdade faz-nos mais fortes

Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.

Apartado dos colegas sobreviventes dos Joy Division e New Order, Peter Hook vai vender centenas de peças da sua história, mas também da Factory Records e de momentos-chave do punk e da cena de Manchester nos anos 1970 e 80. Um leilão vai pôr à venda, a 2 de Março de 2019, a Peter Hook Signature Collection, da qual fazem parte os baixos que usou em Unknown Pleasures e Closer ou a guitarra de Ian Curtis no vídeo de Love Will Tear Us Apart. E a infame mesa da Factory Records.

“Sempre achei que a colecção de memorabilia deve ser uma coisa do baixista. É sempre o baixista que conduz a carrinha, e parece que é sempre o baixista a coleccionar os artefactos. Para mim é uma forma excelente de mapear o que conseguimos”, diz Peter Hook, citado no comunicado da Omega Auctions.

É uma versão muito mais leve e solar sobre o que envolve a venda de tantos objectos pessoais do que aquela que admitiu à BBC na sexta-feira, contextualizando que depois do desaguisado com os membros sobreviventes de ambas as bandas ter chegado a tribunal o encanto em relação às memórias dos tempos de Manchester se tinha estragado. “Senti que algo se tinha quebrado e pensei ‘está na altura de largar [os objectos históricos]?’. Pareceu-me a altura certa. Talvez não seja pelos motivos certos, admito”, disse à BBC.

“Os casos judiciais contra os outros [membros dos Joy Division e New Order] não me ajudaram a ver qualquer uma das bandas sob uma luz muito bonita”, disse quando passou já um ano sobre os acordos com os outros músicos. “Desde que comecei a tocar a [nossa] música em 2010, que é a única coisa que estou autorizado a fazer, percebi que as pessoas que me permitem tocar – os fãs – são os únicos que importam.”

Peter Hook fundou os Joy Division em 1976 com Stephen Morris, Ian Curtis e Bernard Sumner e depois do suicídio de Curtis em 1980, formaram-se os New Order com Sumner, Morris e Hook, com a juntar-se-lhes pouco depois Gillian Gilbert. Em 2001 e 2011, Phil Cunningham e Tom Chapman juntaram-se ao alinhamento dos New Order. Hook processou Sumner, Morris e Gilbert por questões de direitos de autor e royalties em 2011. Continua a tocar, desde 2010, com os The Light e interpreta vários temas das duas bandas - estarão em Portugal em Abril para três concertos em Lisboa, Porto e Guarda.

É aos fãs que quer passar parte do legado “histórico” destas bandas, mas também seu e da igualmente histórica editora Factory Records com a qual gravaram. Uma das peças que Peter Hook detém é a famosa mesa da Factory, que pairava na sala de reuniões da editora de Manchester e é uma estrutura de MDF laranja suspensa por cabos de aço. A sua história está tanto imortalizada em várias cenas do filme 24 Hour Party People – “30 mil libras por uma merda de uma mesa?!” - quanto no resumo do seu descritivo no catálogo da Factory Records: “Desenhada por Andy Woodcock & Ed Jackson. Partida pelos Happy Mondays”.

Mas o grosso do leilão é mesmo o conjunto de instrumentos musicais, letras, vinis e posters raros ou mesmo peças únicas, que espelham, mais do que a carreira das duas importantes bandas, um pedaço da história do universo e do momento que elas, e depois Hook, atravessaram. O seu primeiro baixo, uma réplica da Gibson EB-0 que comprou um dia depois de ter visto os Sex Pistols tocar em Manchester, um concerto essencial e inspirador em 1976 cujo bilhete também será leiloado. “Só sabia que queria ir-me em embora e juntar-me ao circo”, disse sobre a sensação após o concerto que terá lançado mil aspirações e carreiras musicais. “Johnny Rotten tinha-me mostrado o caminho”, disse à BBC. Tocaria com esse instrumento nos Warsaw e depois em An Ideal for Living (1978), o EP de estreia dos Joy Division.

“Pedi dinheiro emprestado à minha mãe. Bernard [Sumner] disse-me ‘compra uma guitarra baixo porque eu tenho uma guitarra’. Eu não sabia a diferença.” Foi com o mesmo baixo que escreveu para Unknown Pleasures (1979), o álbum seminal dos Joy Division, nascidos logo em 1976. O baixo será posto à venda por um preço base de licitação de 4577 mil euros e a guitarra-baixo de seis cordas Shergold Marathon feita à medida que usou no álbum Closer, o segundo e último dos Joy Division, também irá à praça. Há ainda uma réplica da guitarra Vox Phantom que Ian Curtis usa no vídeo de Love Will Tear Us Apart entre as cerca de 300 peças à venda.

Antes do leilão, a 2 de Março do próximo ano, terão lugar pequenas exposições de algumas das peças, em Utrecht, na Holanda (de 16 a 18 de Novembro) e na sede da leiloeira em Newton-Le-Willows, no Reino Unido, no final de Fevereiro do próximo ano. Parte das receitas da venda reverterão para duas instituições ligadas à saúde mental e à doença de que sofria Curtis, a Calm e a Epilepsy Society, em memória do vocalista.