A paixão, aos bocados

Uma falha fatal do filme é ser incapaz de dar a paixão com autêntica força, como se o espectador apenas a apreendesse porque as personagens dizem que estão apaixonadas

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Não é má a recordação de Esquece Tudo o que te Disse (2002), primeira longa-metragem de António Ferreira, onde o realizador se atirava com gosto às formas do melodrama, conseguindo ter um olhar sobre elas sem perder o seu lado “sanguíneo”. Com Pedro e Inês andamos por territórios próximos, observa-se a força da paixão e a depressão da paixão frustrada – ou pretende-se observar: uma falha fatal do filme é ser incapaz de dar a paixão com autêntica força, como se o espectador apenas a apreendesse porque as personagens dizem que estão apaixonadas, e assim a “chicotada” depressiva ficasse a pairar num vazio masoquista, vago, sem centro nem “suspensão da descrença”. O filme, que adapta um romance de Rosa Lobato Faria (A Trança de Inês), multiplica os Pedros e as Inês, acrescentando ao par central do célebre episódio da história de Portugal duas outras “projecções”, uma na época contemporânea e outra num tempo pós-apocalíptico (?), a narrativa contando-se por avanços, recuos e equivalências temporais. É um estratagema cuja ideia se pode perceber – criar uma espécie de fluxo a transcender as cronologias – mas que não resulta, rapidamente se converte em artifício, em “truque”, que faz pouco pela profundidade do filme e pelo contrária lhe sublinha a superficialidade (bem estampada na palavrosa voz off, onde abundam as platitudes sobre a paixão e o desgosto).

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Não é má a recordação de Esquece Tudo o que te Disse (2002), primeira longa-metragem de António Ferreira, onde o realizador se atirava com gosto às formas do melodrama, conseguindo ter um olhar sobre elas sem perder o seu lado “sanguíneo”. Com Pedro e Inês andamos por territórios próximos, observa-se a força da paixão e a depressão da paixão frustrada – ou pretende-se observar: uma falha fatal do filme é ser incapaz de dar a paixão com autêntica força, como se o espectador apenas a apreendesse porque as personagens dizem que estão apaixonadas, e assim a “chicotada” depressiva ficasse a pairar num vazio masoquista, vago, sem centro nem “suspensão da descrença”. O filme, que adapta um romance de Rosa Lobato Faria (A Trança de Inês), multiplica os Pedros e as Inês, acrescentando ao par central do célebre episódio da história de Portugal duas outras “projecções”, uma na época contemporânea e outra num tempo pós-apocalíptico (?), a narrativa contando-se por avanços, recuos e equivalências temporais. É um estratagema cuja ideia se pode perceber – criar uma espécie de fluxo a transcender as cronologias – mas que não resulta, rapidamente se converte em artifício, em “truque”, que faz pouco pela profundidade do filme e pelo contrária lhe sublinha a superficialidade (bem estampada na palavrosa voz off, onde abundam as platitudes sobre a paixão e o desgosto).

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Curiosamente, as cenas mais fortes acabam por ser as históricas, a “falsidade” da reconstituição ultrapassada (pela relação com os décores, pela fotografia a puxar pelas cores sem receio de ser delirante) e a tornar-se, em certos momentos, uma expressão credível da dor (e do “excesso” de dor) daquele monarca alucinado pelo desgosto. Talvez se em vez do desejo de complexidade “estrutural” se tivesse cingido à narração linear daquele episódio Pedro e Inês fosse um melhor filme. Provavelmente, seria. Assim, a sua única virtude é propor um tratamento minimamente decente da tragédia de Dom Pedro e Inês de Castro, capaz de substituir, no nosso espírito, a desastrosa tragicomédia involuntária do Inês de Portugal que José Carlos Oliveira estreou em 1997.