Pela estrada fora

A aproximação de duas pessoas, o progressivo baixar da guarda de ambos, a descoberta ou redescoberta de uma possibilidade, quase “romântica”, de família.

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Pode-se dizer que, na superfície, é um filme sobre algumas coisas de que os europeus talvez não costumem ter uma noção plena: as fronteiras entre os países sul-americanos, as desigualdades do continente, os movimentos migratórios, as relações (normalmente preconceituosas) entre os descendentes de europeus e os descendentes de índios. Tudo isto está no filme, que conta a história, muito “road movie”, de um camionista argentino que transporta uma mulher paraguaia de origem guarani (e a filha bébé dela) entre o Paraguai e Buenos Aires, aonde ela vai, supostamente, visitar uma prima — mas depois da suavemente opressiva cena com os guardas-fronteiriços na entrada na Argentina (“tem noventa dias para voltar”) ela confessa ao seu motorista que vai para tentar encontrar um emprego e ficar.

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Pode-se dizer que, na superfície, é um filme sobre algumas coisas de que os europeus talvez não costumem ter uma noção plena: as fronteiras entre os países sul-americanos, as desigualdades do continente, os movimentos migratórios, as relações (normalmente preconceituosas) entre os descendentes de europeus e os descendentes de índios. Tudo isto está no filme, que conta a história, muito “road movie”, de um camionista argentino que transporta uma mulher paraguaia de origem guarani (e a filha bébé dela) entre o Paraguai e Buenos Aires, aonde ela vai, supostamente, visitar uma prima — mas depois da suavemente opressiva cena com os guardas-fronteiriços na entrada na Argentina (“tem noventa dias para voltar”) ela confessa ao seu motorista que vai para tentar encontrar um emprego e ficar.

Isto está tudo no filme, e tematicamente podia ser a forma de o resumir. Mas depois, Las Acacias (que já é um filme de 2011, em boa hora recuperado pela Nitrato Filmes, que de há uns anos vem distribuindo algumas pérolas da cinematográfica ibero-americana) é o contrário de um filme de tema, ilustrativo ou demonstrativo. À retórica prefere o silêncio, os longos planos filmados dentro da camioneta, o motor a ronronar estrada fora, condutor e passageiros a olharem-se mutuamente com estranheza ou desconfiança, em campos/contracampos que exprimem essa distância. E à demonstração e à tipificação prefere a inteireza humana das suas personagens, que se vão lentamente “abrindo”, uma para a outra, e ambas para o espectador. O laconismo não deixa de ser regra, mas a partir de certa altura eles falam um com o outro, e podem até deixar o campo/contracampo para partilharem o mesmo plano — por exemplo numa pausa à beira da estrada, face a um belíssimo lago.

A verdadeira história de Las Acacias, portanto, é esta: a da aproximação de duas pessoas, o progressivo baixar da guarda de ambos (sobretudo dele, o motorista rude, com modos de cowboy solitário), a descoberta ou redescoberta de uma possibilidade, quase “romântica”, de família. O minimalismo encantador de Giorgelli repousa integralmente na observação desse encontro, das personagens uma com a outra (os gestos, as atenções mútuas) e, por via disso, consigo próprias (as confissões do motorista). Pode-se fazer um filme feliz sobre vidas difíceis, Las Acacias prova-o bem.

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