Ex-porta-voz da PJ Militar fica preso em casa sem vigilância

Vasco Brazão também está proibido de contactar com os restantes oito arguidos do processo. Dois estão em prisão preventiva e os outros suspensos de funções.

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Exército confirmou desaparecimento de material de guerra em Tancos em Junho do ano passado. Miguel Manso

O ex-porta-voz da Polícia Judiciária Militar (PJM), o major Vasco Brazão, ficou esta quarta-feira sujeito à medida de coacção de permanência na residência sem vigilância electrónica, no caso da recuperação do armamento militar roubado da base militar de Tancos.

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O ex-porta-voz da Polícia Judiciária Militar (PJM), o major Vasco Brazão, ficou esta quarta-feira sujeito à medida de coacção de permanência na residência sem vigilância electrónica, no caso da recuperação do armamento militar roubado da base militar de Tancos.

À saída do Tribunal de Instrução Criminal de Lisboa, o advogado Ricardo Sá Fernandes disse ainda que o militar fica sujeito a outras medidas de coacção, nomeadamente não poder contactar com os restantes oito arguidos do processo.

Este foi o mais longo interrogatório dos nove arguidos no processo de recuperação das armas desaparecidas de Tancos, com uma duração de cerca de sete horas, dividida pela manhã, tarde e noite de terça-feira, que terminou apenas na madrugada desta quarta-feira.

Ricardo Sá Fernandes afirmou que considera esta uma medida equilibrada, por parte do juiz João Bártolo, e não vai recorrer da mesma. O PÚBLICO sabe que as medidas aplicadas foram as pedidas pelos dois procuradores titulares do inquérito, João Melo e Vítor Magalhães. 

Relativamente às medidas de coacção, Sá Fernandes disse esperar "que não seja por muito tempo", uma vez que o tribunal "valorizou muito a colaboração que o major Vasco Brazão teve neste caso".

Segundo o advogado, ao decretar esta medida de coação, o tribunal teve em conta o perigo de perturbação do inquérito e a suspensão de funções, por ter entendido não existir perigo de fuga ou a continuação da actividade criminosa.

"O tribunal entendeu, no essencial, que aquilo que ele veio aqui falar foi a verdade e julgou que o major mostrou ser uma pessoa honrada, ser um homem decente, que participou, e que está aqui para ajudar a descobrir a verdade deste caso", sublinhou.

Para Ricardo Sá Fernandes, "o que aconteceu foi que, à margem daquilo que devia ter sido feito, este grupo de militares da PJM [Polícia Judiciária Militar], em colaboração com a GNR, encenou um determinado quadro que lhes permitiu recuperar o armamento" de Tancos.

"Puseram à frente de tudo a necessidade de recuperar o armamento. Recuperaram o armamento, mas de uma forma que não foi adequada, porque o fizeram à margem do Ministério Público que era quem tinha a competência para dirigir essa investigação", esclareceu.

Segundo Ricardo Sá Fernandes, "esses factos estão assumidos pela generalidade dos arguidos e pelo major Brazão, que afirmou nas redes sociais estar arrependido da forma como o fez, ainda que tenha agido para cumprir ordens e com a boa intenção de recuperar o material que estava perdido".

"Não havia perspectiva de recuperar este material que havia sido furtado"

Para recuperarem as armas os suspeitos terão aceite encobrir o principal responsável pelo furto do material, um ex-fuzileiro de 36 anos, que entretanto foi preso preventivamente. Igualmente em prisão preventiva está o então director da PJM, Luís Vieira, entretanto substituído. O Ministério Público pediu a medida de coacção mais gravosa para cinco dos oito arguidos detidos a 25 de Setembro, mas o juiz de instrução só a aplicou a dois dos suspeitos.

De acordo com o advogado, se não fosse desta forma "não havia perspectiva de recuperar este material que havia sido furtado". Sobre a atribuição da medida de coacção, o defensor considerou que "o tribunal reconheceu o esforço muito grande do major, que fez declarações muito importantes para resolver este caso e muito corajosas".

"Se não tivesse tido a postura de lealdade, de honradez, de lisura, provavelmente ter-lhe-ia sido aplicada uma medida de coação mais gravosa", como prisão preventiva, afirmou.

Sá Fernandes indicou ainda que estes elementos da PJM "não estão envolvidos no roubo do material", mas apenas na sua recuperação. Apesar da maioria do armamento ter sido devolvido, ainda há explosivos, munições e granadas por recuperar.

"Um caso complicado"

O advogado sublinhou que resta agora descobrir na investigação se o civil envolvido neste caso será o único protagonista do roubo das armas de Tancos, admitindo tratar-se de "um caso complicado", que possa ainda vir a ter outros arguidos.

A Polícia Judiciária deteve, em 25 de Setembro, no âmbito da Operação Húbris, que investiga o caso da recuperação das armas furtadas em Tancos, o director e outros três responsáveis da PJM, um civil e três elementos do Núcleo de Investigação Criminal da GNR de Loulé.

Os restantes seis arguidos ficaram em liberdade, embora sujeitos a termo de identidade e residência, suspensão do exercício de funções, proibição de contacto com os outros arguidos e com quaisquer militares das Forças Armadas, da GNR e elementos da PJM.

Em Outubro do ano passado, o piquete da PJ Militar de Lisboa recebeu durante a noite uma chamada anónima a alertar para o reaparecimento das armas e restante material na Chamusca, a 21 quilómetros do local do furto, cerca de três meses e meio depois de o Exército ter confirmado o roubo, a 29 de Junho do ano passado.