No Logradouro da Bempostinha há uma sala de estar que também é mercearia

A mercearia vende aromáticas e especiarias, a sala é pista de dança e as paredes montra dos projectos de quem lá passa. O Logradouro da Bempostinha é uma sala de estar para todos os que queiram lá pousar.

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Carla Lopes passou, durante anos, em frente a uma pequena montra com os vidros sujos e sempre se interrogou sobre o que lhe poderia fazer. Sentia o desejo de ali fazer nascer algo seu. Um dia, aproximou-se e limpou com a mão todo o pó que lhe impedia a vista para dentro. No interior, lia-se a letras negras “A Bempostinha de José Agostinho - Especialidade em carnes e azeites”. E foi assim que tudo começou.

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Carla Lopes passou, durante anos, em frente a uma pequena montra com os vidros sujos e sempre se interrogou sobre o que lhe poderia fazer. Sentia o desejo de ali fazer nascer algo seu. Um dia, aproximou-se e limpou com a mão todo o pó que lhe impedia a vista para dentro. No interior, lia-se a letras negras “A Bempostinha de José Agostinho - Especialidade em carnes e azeites”. E foi assim que tudo começou.

O interior ainda tinha alguma mobília do que tinha sido, até há alguns anos, uma mercearia de bairro, quando Carla entrou pela primeira vez na antiga loja. O senhor José e a sua família viviam por cima, no primeiro andar do 22 da Rua da Bempostinha. Era naquele rés-do-chão de pedra e com paredes revestidas a gesso que despachava carnes e azeites, bacalhaus, chás e cafés aos fregueses que lá acorriam.

Olhando para o chão, percebe-se, agora, onde estava o antigo balcão. Carla di-lo apontando para a pedra gasta que nos deixa imaginar o merceeiro a cirandar na sua loja. Foi há dois anos que pegou no espaço e o transformou no Logradouro da Bempostinha. Conservou o chão de pedra e envernizou as paredes para melhor preservar o gesso. Fora isso, juntou-lhe um balcão feito pelo designer Thomas Karel, alguma mobília por ela recuperada ou oferecida por amigos, e uma mão cheia de produtos “que ofereceria a quem recebesse em casa”.

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Nuno Ferreira Santos

É essa a receita de Carla – fazer os clientes sentirem-se em casa. A decoração faz lembrar uma sala confortável onde se pode passar um serão agradável. Há livros à disposição, arte nas paredes e produtos regionais utilizados na confecção dos pratos. Quem quiser, também pode provar as infusões que se compram a granel ou saborear as especiarias nas tibornas, que são o forte da casa.

Há para todos os gostos: com húmus ou com pasta de atum, se bem que a tiborna de queijo curado de vaca com figos e mel (3€) “é uma explosão de doce e salgado” e das que mais sai. Pelo meio, há ainda petiscos que vão desde umas simples azeitonas temperadas (1.20€) a um queijo de Azeitão com marmelada (8€) ou uma tábua de queijos e enchidos (15€).

Carla gosta de trabalhar “cara a cara com pessoas e não com multinacionais” e é por isso que desce a rua até ao Forno do Tijolo para ir buscar o café Negrita, que ali é torrado. Descobriu também que esse era o mesmo café que o senhor Agostinho vendia antigamente à sua clientela.

Às quintas-feiras é presença assídua na feira da Malveira e é de lá que traz uma série de legumes e frutas da época que depois vende. Quem quiser, pode elaborar cabazes a gosto com os produtos frescos que chegam semanalmente.

O vinho é da Quinta dos Termos, uma produção local cheia de qualidade, com quem foi criando uma relação. Há a copo (3€), tinto ou branco e à garrafa, podendo escolher entre um D.O.C ou um Vinhas Velhas. A ginjinha não poderia faltar e a que se dá a provar é mesmo Sem Rival (2€).

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Nuno Ferreira Santos

Nesta sala de estar não há só espaço para comida e bebida. As paredes desta antiga mercearia costumam ser a montra de vários projectos que propõe a Carla. O Re-Love, um projecto de reutilização de materiais da Associação Auxilio e Amizade, está agora na open wall. Uma vez por semana durante o mês, a montra que dá para a rua e o interior da loja funcionam como uma pop-up store, que dão destaque a um determinado projecto.

Durante o próximo mês haverá uma exposição de pintura de Sara Franco (dia 5), um workshop de fotografia de Hermano Noronha (dia 6) e um concerto de jazz do colectivo A Besta (dia 13). Não é incomum passar à porta e ver gente a dançar. A programação está aberta a todo o tipo de sugestões.

O nome “Logradouro” vem do significado da palavra. Esta sala de estar que é mercearia, ao mesmo tempo que é bar e espaço cultural, está aberta a todos os que queiram usufruir dela. “É uma casa que se vai criando de acordo com o que os clientes vão pedindo”. Será, pois, justo afirmar que este espaço não é um estabelecimento, mas sim uma casa.