ESA a bordo do projecto que quer colocar Portugal no mapa do espaço

O plano que agora dá os seus primeiros passos, ainda em terra firme, conta com o apoio da Agência Espacial Europeia que vai apresentar, no dia 6 de Novembro em Paris, um estudo sobre o projecto.

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REUTERS/ESA/J.Huart

O convite que abre as portas aos interessados na criação e exploração de um porto espacial no Açores será apresentado numa reunião da Agência Espacial Europeia (ESA, na sigla em inglês), que decorre a partir desta segunda-feira na ilha de São Miguel. O anúncio será uma espécie de “bónus” num encontro de especialistas que assinala os “25 anos de progresso na Altimetria de Radar”, mas que não é inocente. A ESA, assegura o ministro da Ciência, Manuel Heitor, está a bordo deste projecto e tem fornecido o necessário apoio técnico.

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O convite que abre as portas aos interessados na criação e exploração de um porto espacial no Açores será apresentado numa reunião da Agência Espacial Europeia (ESA, na sigla em inglês), que decorre a partir desta segunda-feira na ilha de São Miguel. O anúncio será uma espécie de “bónus” num encontro de especialistas que assinala os “25 anos de progresso na Altimetria de Radar”, mas que não é inocente. A ESA, assegura o ministro da Ciência, Manuel Heitor, está a bordo deste projecto e tem fornecido o necessário apoio técnico.

Manuel Heitor e Gui Menezes, scretário regional do Mar Ciência e Tecnologia dos Açores, garantem que o plano que agora dá os seus primeiros passos, ainda em terra firme, conta com o apoio da ESA. Manuel Heitor adianta que, depois de alguns meses de negociações, a ESA terá concluído que, afinal, existe espaço para este porto espacial na Europa. A verdade é que quando pela primeira vez se falou na criação de uma base espacial de lançamentos de pequenos satélites nos Açores, em Abril de 2017, a ideia pareceu não ter sido acolhida com grande entusiasmo, pelo director-geral da Agência Espacial Europeia (ESA), Johann-Dietrich Wörner, que esteve numa reunião de alto nível promovida pelo governo português e realizada na ilha da Terceira. Nessa altura, apesar de manifestar um apoio claro no projecto de investigação internacional e colaborativo no tratamento e recolha de dados em terra e no espaço a partir dos Açores, Wörner hesitou quando foi questionado sobre a importância da criação de um porto espacial no arquipélago. “Isso já é outra história. Actualmente, existem muitas empresas privadas com diferentes actividades ligadas ao espaço e aos lançamentos de pequenos satélites. Há uma actividade global que respeitamos e Portugal tem de olhar para isso”, disse aos jornalistas.

Mas, apesar deste aparente desinteresse, o projecto não parou em Abril de 2017, continuando a avançar numa gestão discreta e cautelosa de Manuel Heitor. Em Fevereiro deste ano foi divulgado, por exemplo, o resultado de um estudo da Universidade do Texas, em Austin (EUA), que dava um parecer favorável à instalação de uma base espacial para lançamento de pequenos satélites nos Açores, apontando para a ilha de Santa Maria e, mais precisamente, para o lugar de Malbusca, na freguesia de Espírito Santo, como o melhor lugar para o fazer. “É apenas um estudo”, avisava o ministro.

O único porto espacial na UE

Paralelamente foi apresentada também uma estratégia para o espaço aprovada pelo Governo, assente na observação da Terra e nas novas indústrias. “Com base nisso e sempre com o apoio técnico da ESA, estamos agora a lançar o debate sobre o programa de lançamento de satélites através do Atlântico que tem o objectivo de atrair para Portugal grandes empresas europeias e americanas que, em conjunto com a industria portuguesa, possam oferecer novos serviços de lançamentos”, diz o ministro.

Sobre a aparente mudança de direcção da ESA que agora surge como parceira neste projecto, Manuel Heitor explica que “as coisas mudaram muito no último ano”. E explica como: “É verdade que neste momento há muitos projectos. Há mais de 90 projectos de todo o mundo. Em Julho, o Reino Unido anunciou a localização de um porto espacial na Escócia. Mas com o processo do ‘Brexit’ não há nenhum projecto em território europeu”. Os últimos acertos terão acontecido no mês passado. “Em Agosto desenvolvemos vários contactos com a ESA num novo contexto europeu e com a necessidade de vir a facilitar lançamentos de pequenos satélites na Europa.”

Manuel Heitor acrescenta que além da proposta inglesa, há neste momento duas outras propostas, uma na Noruega e uma na Suécia, mas que serão orientadas para rotas polares. “Não escondo que durante os últimos meses esteve em curso um trabalho pela ESA com grandes empresas europeias, nomeadamente empresas alemãs, italianas, espanholas e, que mais uma vez, mostraram o interesse crescente nos Açores”, diz o ministro adiantando que a ESA deverá apresentar os resultados destas audições nos bastidores no dia 6 de Novembro, em Paris. Antes disso, no próximo dia 2 de Outubro, na grande conferência mundial do espaço que se vai realizar na Alemanha, em Bremen, o governo português fará com a ESA uma nova sessão para atrair empresas para o projecto.

É impossível prever o que vai acontecer no negócio do espaço nos próximos anos. “A única coisa que sabemos é que daqui a dez anos o cenário do espaço vai ser radicalmente diferente”, adianta Manuel Heitor. Não sabemos se Portugal estará ou não no mapa do espaço com o único porto espacial de lançamentos de pequenos satélites na Europa. Mas alguém terá de o fazer. Vai ser necessário colocar mais pequenos satélites em órbitas próximas da Terra (de 400 a 800 quilómetros) para tentar ter muitos pequenos satélites e com isso melhor observar o planeta com as inevitáveis aplicações que isso pode ter na agricultura, pescas, segurança, defesa e telecomunicações.