O maior eclipse total da Lua do século XXI é esta sexta-feira

Em Portugal, o máximo do eclipse total da Lua será visível às 21h22 (hora de Lisboa), num céu onde também poderemos ver Marte muito brilhante, Júpiter e Saturno.

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Eclipse total da Lua a 15 de Junho de 2011 visto de Lisboa Pedro Cunha/Arquivo

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GALERIA: imagens do eclipse total visto em diferentes pontos do mundo

Prepare-se para o maior eclipse total da Lua do século XXI que é na próxima sexta-feira, 27 de Julho, e será visível no território português, Açores e Madeira incluídos. A Lua ficará completamente tapada durante uma hora, 42 minutos e 57 segundos – o que o tornará o maior de todo este século –, podendo ver-se em várias regiões do mundo além da Europa, como a Antárctida, África, América do Sul, Ásia, Médio Oriente e Austrália. 

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Um eclipse total da Lua ocorre quando “a Lua (em fase de Lua Cheia) atravessa a sombra que a Terra faz por estar em linha com o Sol”, com os três astros alinhados, começa por explicar ao PÚBLICO Ricardo Cardoso Reis, do grupo de comunicação de ciência do Instituto de Astrofísica e Ciências do Espaço. Pode ser um eclipse total ou parcial, dependendo se a totalidade ou apenas uma parte da Lua fica oculta pela sombra projectada pela Terra. 

Existem duas zonas de sombra que a Lua vai atravessando: a umbra e a penumbra. “A umbra é a zona de escuridão total” dentro do cone de sombra, onde se dá o eclipse total, acrescenta Rui Agostinho, director do Observatório Astronómico de Lisboa (OAL). “Depois, a Lua vai progredindo até que sai da zona da totalidade e começa a ficar parcialmente iluminada pela luz do Sol na penumbra (eclipse parcial)”. Contas feitas, a Lua estará toda tapada pela sombra da Terra, tanto pela penumbra como pela umbra, durante três horas e 55 minutos.

Em Portugal, a Lua irá nascer quando o eclipse total já estiver a decorrer (pelo que só será possível observar uma parte do fenómeno), sendo que em Lisboa a Lua nascerá às 20h47 e, no Porto, às 20h51. O eclipse total vai atingir o seu máximo às 21h22 (hora de Lisboa) e terminará às 22h14. Porém, o eclipse parcial será possível observar até às 00h30. Para conseguir ver o eclipse, é necessário estar num local onde seja possível ver o horizonte “sem prédios, árvores ou colinas à frente”, explica Rui Agostinho, com a Lua visível a Sudeste do nosso horizonte. Já em Ponta Delgada, nos Açores, a Lua nascerá às 20h52 (hora local) e o fenómeno termina às 23h30, de acordo com dados do OAL.

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O céu às 21h30 de 27 de Julho de 2018 em Lisboa, onde poderá ver-se a Lua e os planetas Vénus, Marte, Júpiter e Saturno Observatório Astronómico de Lisboa

A Lua vai adquirir uma cor avermelhada, o que acontece devido à refracção da luz na atmosfera. “Se não houvesse a atmosfera do planeta Terra, quando a Lua entrasse na umbra ficaria totalmente às escuras”, explica Rui Agostinho. Mas o que acontece é que “a atmosfera funciona como uma lente de vidro que encurva a trajectória dos raios de luz solar”, que entram no cone de sombra e acabam por iluminar a superfície lunar. Tem ainda a ver com o facto de a cor verde e azul ser filtrada na nossa atmosfera, o que não ocorre com a luz vermelha.

Este eclipse total da Lua será o mais longo do século XXI devido à distância a que a Lua se encontra agora da Terra (404 mil quilómetros) e o facto de a sua órbita à volta do nosso planeta ser ligeiramente elíptica, o que faz com que demore mais tempo a percorrer o trajecto. Mas haverá “outros eclipses durante este século que vão estar muito próximos em termos de duração”, com uma diferença de apenas um minuto (por exemplo, em Junho de 2029), diz Rui Agostinho. “De modo geral, há dois eclipses da Lua por ano – o anterior foi a 31 de Janeiro de 2018 –, mas nem todos são visíveis na nossa cidade.” Além disso, “ainda faltam umas dezenas de anos” para voltarem a acontecer eclipses com uma duração aproximada do que vamos ver agora. Quanto ao próximo eclipse total da Lua visível a partir de Portugal terá lugar a 21 de Janeiro de 2019 mas, segundo Ricardo Cardoso Reis, “será bem mais pequenino, com cerca de uma hora de duração”.

“Um habitante num pequenino planeta”

Nesta sexta-feira, a Lua irá surgir na constelação do Capricórnio, próxima do planeta Marte, com Saturno, Júpiter e Vénus à direita. Teremos “muita coisa interessante a acontecer no céu”, diz Rosa Doran, presidente do conselho executivo do Núcleo Interactivo de Astronomia (Nuclio). Poderemos ver um Marte muito brilhante tal como aconteceu, pela última vez, em 2003, o que se deve ao facto de estar a atingir o maior ponto de aproximação da Terra (que pode variar entre os 100 e os 55 milhões de quilómetros) – um fenómeno que acontece a cada 15 anos –, explica Ricardo Cardoso Reis.

Em Cascais, vai decorrer uma sessão de observação do eclipse no Centro de Interpretação Ambiental da Pedra do Sal, a partir das 21h (em colaboração com o Nuclio), e uma sessão em Lisboa promovida pelo Instituto de Astrofísica e Ciências do Espaço no terraço do Teatro Romano. No Porto, será possível observar com telescópios o céu na Quinta do Covelo, a partir das 22h, uma parceria entre o Planetário do Porto e o projecto Ciência Viva no Verão. Em Matosinhos, o museu da Quinta de Santiago, em parceria com a Associação de Física da Universidade de Aveiro, irá também promover uma actividade de observação astronómica, a partir das 21h22, com entrada livre. 

Rosa Doran acredita que estes fenómenos astronómicos servem para nos lembrar o que significa ser humano: “É ser um habitante num pequenino planeta, à volta de uma estrela pequena, que faz parte de um imenso Universo.”

Texto editado por Teresa Firmino