O Brexit é uma golpada de amadores

O processo de saída da UE é mais uma arma de arremesso politico do que um desígnio. Isso só piora as capacidades negociais do governo britânico.

Com o facto consumado, o Brexit passou a ser uma pedra de arremesso politico para uso interno. E as duas demissões no Governo de May confirmam isso mesmo. Chega a ser assustadora a leviandade com que os conservadores britânicos usam o processo de saída da UE para os seus interesses imediatos, e a própria primeira-ministra está sob fogo. E impressiona o amadorismo com que tudo está a gerido e negociado.

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Com o facto consumado, o Brexit passou a ser uma pedra de arremesso politico para uso interno. E as duas demissões no Governo de May confirmam isso mesmo. Chega a ser assustadora a leviandade com que os conservadores britânicos usam o processo de saída da UE para os seus interesses imediatos, e a própria primeira-ministra está sob fogo. E impressiona o amadorismo com que tudo está a gerido e negociado.

Não é novidade para ninguém que o Brexit virou ao contrário a vida política britânica. Há décadas que a União Europeia era uma espinha encravada na garganta dos conservadores, funcionando como um escape simpático sempre que era necessário desviar atenções. Agora, com a inevitável saída no horizonte, ninguém se conforma com o óbvio: a tremenda dependência britânica do enquadramento geopolítico e económico que representa a União Europeia. Esta realidade, que o Livro Branco do Brexita ser publicado para a semana pelo governo britânico vai tentar disfarçar mas não negar, é incontornável.

Mas a agitação ainda vai piorar. Daqui a umas semanas o governo britânico terá de levar ao Parlamento uma emenda à lei aduaneira que vai prever um período reforçado de transição com a União Europeia, e aí tudo pode voltar a ficar em causa. E lá para Dezembro, quando o acordo de saída estiver definitivamente concluído entre britânicos e europeus, o mesmo terá de ser aprovado nos parlamentos europeus e britânicos.

Há um limite para o número de derrotas que uma primeira-ministra aguenta, especialmente se elas vierem do seu próprio partido. É aliás por causa do que aí vem que se dá a saída de Boris Johnson: não é por causa do “soft Brexit”, é porque há uma oportunidade para ser líder dos conservadores e nesta fase é melhor fazer campanha fora do Governo do que dentro.

Esta é a suprema ironia: é que depois de décadas em que a desconfiança entre Londres e Bruxelas era apenas um ruído de fundo permanente, agora é o estrondo que domina a situação política britânica – o Brexit já foi a causa directa da queda do governo de David Cameron e muito provavelmente será também a causa para o fim da ldierança de Theresa May.

A falta de visão estratégica na vida política britânica é assustadora: os trabalhistas estão divididos, os liberais estão desaparecidos e os conservadores, como de costume, estão à pancada por causa da Europa. Mas está nos manuais que é isto que acontece quando se colocam os interesses de curto prazo acima dos interesses da nação. O erro britânico será pago bem caro, e infelizmente os restantes europeus também terão de pagar a factura.