Um rapaz e o seu cavalo

Um conto de coming of age, variação sobre a fórmula das histórias de amizade entre adolescentes e animais, de uma delicadeza discreta.

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Mudança drástica para o britânico Andrew Haigh, que do drama conjugal, psicológico e vivido entre quatro paredes, do filme anterior (45 Anos), passa para o confronto com a vastidão da paisagem americana. Uma coisa que Haigh não deve ser mesmo nada é naif, e O Meu Amigo Pete evita ficar pasmado perante o “mito” e perante a memória do cinema que imprimiu a “lenda americana”. Se há recordações do western, inevitáveis num filme que se passa entre cavalos e as paisagens abertas do Oregon, nem por um segundo elas aparecem enquanto “revisão mitológica”. É muito por isso que este filme, menos coeso, até menos intenso, do que 45 Anos, acaba por nos ir conquistando – a forma como Haigh o constrói, numa inteligência empregue como quem não quer a coisa, sempre sem empurrar nada pelos olhos do espectador adentro, ajuda bastante. Descobre-se que é como um conto de coming of age, quase uma variação sobre a fórmula tradicional das histórias de amizade entre adolescentes e animais, e isso é dado com uma delicadeza discreta, alimentada por cenas onde tudo o que importa ver é o bonding entre um rapaz solitário (Charlie Plummer) e o seu amigo equídeo.

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Mudança drástica para o britânico Andrew Haigh, que do drama conjugal, psicológico e vivido entre quatro paredes, do filme anterior (45 Anos), passa para o confronto com a vastidão da paisagem americana. Uma coisa que Haigh não deve ser mesmo nada é naif, e O Meu Amigo Pete evita ficar pasmado perante o “mito” e perante a memória do cinema que imprimiu a “lenda americana”. Se há recordações do western, inevitáveis num filme que se passa entre cavalos e as paisagens abertas do Oregon, nem por um segundo elas aparecem enquanto “revisão mitológica”. É muito por isso que este filme, menos coeso, até menos intenso, do que 45 Anos, acaba por nos ir conquistando – a forma como Haigh o constrói, numa inteligência empregue como quem não quer a coisa, sempre sem empurrar nada pelos olhos do espectador adentro, ajuda bastante. Descobre-se que é como um conto de coming of age, quase uma variação sobre a fórmula tradicional das histórias de amizade entre adolescentes e animais, e isso é dado com uma delicadeza discreta, alimentada por cenas onde tudo o que importa ver é o bonding entre um rapaz solitário (Charlie Plummer) e o seu amigo equídeo.

É realista, mas o realismo mais contundente é económico. O pano de fundo é o de uma “economia de subsistência”, onde toda a gente se esgadanha por um punhado de dólares, porque são os únicos dólares disponíveis. Mesmo o circuito das corridas de cavalos é uma coisa working class, empregos e formas de ganhar a vida que valem exactamente por isso, não pelo glamour que não existe. Essa “pequenez” económica contrapõe-se à “grandiosidade” da paisagem, e essa deve ter sido uma ideia que Haigh cultivou, porque é nesse conflito de “escalas” que se desenha a tristeza severa deste olhar sobre a América rural (nos planos muito fechados sobre as casas e os trailers atravancados e o horizonte amplo dos planos mais paisagísticos). Naturalmente, o nó central também é criado por uma razão económica: Pete, o cavalo, está “obsoleto”, é uma despesa insustentável, o seu destino é um matadouro a troco de algum dinheiro. O rapaz decide tentar salvá-lo. Uma história de educação económica transforma-se numa história de educação sentimental. Ou vice-versa, mas sempre com a mais realista das tristezas.

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