Gota a gota, aqui é o cansaço que se esgota

Nas esquecidas Caldas de São Paulo, no estreito e verde vale do Alva onde a serra da Estrela começa, há um segredo de água doce bem guardado.

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Uma gota pode ser poema, canção, provérbio. Mas é também um segredo bem guardado nas faldas da serra da Estrela, nas esquecidas Caldas de São Paulo, onde a água é um bom pretexto para conhecer a aldeia de Penalva de Alva, Oliveira do Hospital.

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Uma gota pode ser poema, canção, provérbio. Mas é também um segredo bem guardado nas faldas da serra da Estrela, nas esquecidas Caldas de São Paulo, onde a água é um bom pretexto para conhecer a aldeia de Penalva de Alva, Oliveira do Hospital.

Ali, na margem esquerda do rio Alva, numa paisagem de floresta e montanha onde decerto viveriam fadas e duendes se eles existissem fora da imaginação, uma gota é a imagem de marca de um resort termal construído onde nunca antes existiram umas verdadeiras termas, mas apenas banhos em casas particulares com água trazida a cântaros encosta acima.

Para cada banho eram precisos sete a nove cântaros de 20 litros cada, carregados a braços desde a nascente até à caldeira, a 70 metros de distância, onde a água, que nascia a cerca de 26 graus, voltava a ser aquecida antes de deitada nas banheiras. Dizia a tradição que os banhos haviam de ser tomados em número ímpar, de cerca de 15 minutos cada, devendo o aquista, a seguir, ficar a suar mais 20 minutos para usufruir dos melhores efeitos.

Hoje, o Acqua Village Health Resort and Spa honra esse tesouro perdido durante décadas, permitindo usufruir com conforto daquelas águas sulfúreas sódicas, procuradas para tratamento de reumatismo e dermatoses desde os finais do século XIX até aos anos 1970.

Na verdade, o cartão-de-visita deste hotel não é uma, mas duas gotas suspensas das árvores, concebidas para reproduzir o flutuar no rio, em cujo interior é oferecido um ritual de harmonia, leveza e relaxamento onde a água é fonte de inspiração.

Mais do que uma massagem, a “Dolce Aqua” é uma experiência conceptual onde o uso de baguetes de madeira reproduz a sensação de gotas de água a cair pelo corpo e os movimentos se assemelham à corrente do rio.

A massagem, de 90 minutos, começa com uma exfoliação de pó de arroz para dar uma nova vida à pele. A cada passo da terapeuta, um suave tremor da gota embala para essa sensação levitativa, flutuante, suspensa. Segue-se o leve toque das baguetes em pontos nevrálgicos do rosto, dorso, abdómen, braços, pernas. A cada toque o relaxamento aumenta.

Depois vem a massagem propriamente dita, em movimentos rotativos, lentos, longos, pés, pernas, braços, dorso… A tensão esvai-se ao mesmo tempo que se entranha na epiderme o creme feito ali mesmo, à base de mel e cera de abelha de colmeias da região. Primeiro, a parte da frente do corpo, depois as costas, e de olhos fechados já não sabemos se flutuamos ou submergimos no Alva. 

“Dá-me uma gotinha de água, dessa que eu ouço correr, entre pedras e pedrinhas alguma gota há-de haver”, canta António Zambujo na nossa imaginação. Gota a gota, ali é o cansaço que se esgota, como diz o provérbio sobre o mar. Quando termina, só o relógio nos garante que o tempo também se esgotou. Apetecia mais.

E há mais. Alguns metros acima, é hora de submergir literalmente na piscina interior de água termal a cerca de 34 graus centígrados. Ali, a ordem das coisas inverte-se e agora é a água que parece suspensa das árvores que nos espreitam da parede de vidro e se reflectem na água límpida. Uma piscina balouça nos ramos e já não sabemos se nadamos ou voamos.

Se algum músculo ainda está tenso, basta escolher entre a cascata, o pescoço de cisne ou as hidromassagens submersas, qual a que melhor se adequa à nossa anatomia. Ali mesmo ao lado, a sauna e o banho turco completam o tratamento detox do corpo e da mente.

Protagonista do spa, a quente água termal é também usada no duche Vichy, onde a massagem pode ser a duas ou a quatro mãos, no duche escocês e nos tratamentos de hidromel de rosto e corpo, praticados sobre um colchão que flutua com vista para a floresta e a serra, provocando uma sensação intensa de relaxamento.

O declive serrano foi aproveitado para uma outra surpresa. Entre o ginásio e outra piscina coberta, mas aberta ao exterior, há um duche frio cujo chuveiro está instalado a sete metros de altura, qual queda de água nascida nos píncaros da serra a caminho do rio, já sonhando com o mar. Gota a gota se encheu a alma de bem-estar.

A jornalista visitou o spa do hotel e fez a massagem a convite da Odisseias