Os bonecos do momento “têm alguma coisa que vicia”: eis os Pop!

São bonecos cabeçudos, dentro de caixas, que podem valer mais do que um ordenado mínimo. Criados em 2010, os Funko Pop! são o “fenómeno de coleccionismo” pop do momento

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Diogo Gaspar já era fã de The Walking Dead há muito tempo, mas mal sabia ele onde é que esta paixão o iria levar. Estava o jovem de 25 anos "na Internet à procura de figuras [de acção]" desta série de zombies, quando os Pop! se atravessaram à sua frente. A partir daí foi "coleccionando" — sim, no gerúndio, porque deste então, Novembro de 2015, nunca mais parou. 

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Diogo Gaspar já era fã de The Walking Dead há muito tempo, mas mal sabia ele onde é que esta paixão o iria levar. Estava o jovem de 25 anos "na Internet à procura de figuras [de acção]" desta série de zombies, quando os Pop! se atravessaram à sua frente. A partir daí foi "coleccionando" — sim, no gerúndio, porque deste então, Novembro de 2015, nunca mais parou. 

"A ideia inicial era coleccionar apenas [as figuras de] The Walking Dead, mas claro que não conseguimos ficar por aí", conta Diogo, no plural, incluindo a namorada, que com ele partilha o vício pelo coleccionismo. Hoje, estes cabeçudos de dez centímetros (maiores, em casos particulares) fazem parte da vida do jovem, actualmente à procura de trabalho na área de Gestão. The Walking Dead, Harry Potter, Avengers estão entre os seus maiores interesses. Tenta ficar com todos os Jokers e Harley Quinns a que consegue deitar a mão, personagens dos universos da Disney, das Tartarugas Ninja e do Pacman também não lhe escapam. "Tenho muita coisa", confessa ao P3. No total, já acumula 290 bonecos. Não vai ficar por aqui. Como diz o slogan da loja onde Diogo Gaspar compra "99,99 por cento" da sua colecção, "Once you Funko Pop! you just can't stop".

Localizada no número 292 da Rua Gonçalo Cristóvão, no Porto, a Pop-Addiction é um paraíso para geeks, nerds e fanáticos pela cultura pop. Partilhando o espaço com a Ingruccia, uma outra marca de merchandising, o espaço, no seu todo, dá pelo nome de Oporto Geek Center — e no mundo do coleccionismo Pop! é hoje um dos mais procurados. O proprietário Tiago Santos, também ele um coleccionador, conta-nos que começou a investir neste segmento "aos poucos", à medida que o interesse das pessoas "foi aumentando". Tal como o dele — é o orgulhoso detentor de uma colecção de bonecos do Star Wars, bem como de alguns super-heróis e respectivos vilões.

A sua relação com os Pop! começou em 2014, quando deu de caras com os bonecos na Internet. Foi, confessa, o "coleccionismo que originou o negócio". Alguns meses depois da descoberta, após averiguar fornecedores e a viabilidade do produto no mercado português, decidiu arriscar e colocar estas pequenas figuras à venda na sua própria loja. Qual é, então, a magia destes bonecos que, muitas vezes, são preservados dentro das próprias caixas? "Existem Pop! para um bocadinho de tudo", explica Tiago Santos. De séries de animações, filmes, super-heróis, "há sempre um com que a pessoa se vai identificar". E esse é mesmo o propósito da Funko, a marca norte-americano que lançou esta linha de figuras em 2010 e que só no ano passado facturou mais de 430 milhões de euros, segundo os dados divulgados pela empresa em Março deste ano. Com os bonecos Pop!, e não só.

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A colecção de Nuno Santos DR

Quando comparados com outras figuras, os Pop! têm uma outra vantagem: o preço. Geralmente, salvo edições especiais, não custam mais de 15 euros. "Os bonecos articulados custam o dobro e se formos para as estátuas são três, quatro, dez, vinte vezes mais caras", elucida Tiago. É, por isso, "uma forma relativamente barata de as pessoas terem as figuras que gostam e as suas personagens favoritas" em casa. E é mesmo por aí que a Funko quer pegar. Actualmente com o slogan "Everyone is a fan of something" ("Toda a gente é fã de alguma coisa", em tradução livre), a marca de coleccionáveis pretende chegar a todos os públicos, não tivesse obtido já mais de 200 licenças que lhe permitem reproduzir as mais variadas personagens dos mais diversos universos pop.

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Nuno Santos já completou a série Harry Potter DR

Bonecos que valem milhares

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Os Beatles de Rui Pedro Mota DR

Em Lisboa, na livraria e editora Kingpin Books, especializada em banda desenhada, encontra-se Mário Miguel Freitas, fundador e proprietário que (também) tanto vende, como colecciona estas figuras. "Quando comecei a vender os Pop! nos eventos era o único a fazê-lo", recorda, ao telefone com P3. E isto em 2013, três anos depois do lançamento do primeiro figurino. Olhando para trás, muito mudou. "[Inicialmente] não encomendávamos muito", recorda Mário, "não sabíamos se ia pegar ou não". Mas depois "começaram a sair coisas com mais interesse", as lojas (e os mercados) começaram a aparecer como quem "dá um pontapé numa pedra". "Têm aparecido muitas pequenas lojas a vender os Pop! e muitos particulares também. Basta ir a um evento como a Iberanime ou a Comic Con e vê-se que cada vez há mais stands que só vendem estas figuras; agora, aliás, até a Worten já vende — apesar de a Fnac já vender há algum tempo." 

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Tiago Santos é o proprietário da loja Pop-Addiction, no Porto Nelson Garrido

Mas coleccionar estas figuras é um fenómeno de agora? "Não", responde Mário. E traça a cronologia. No início, em finais de 2010, os primeiros bonecos nem se chamavam Pop!, mas sim Funko Force. "Eram apenas [direccionados] para as personagens da DC Comics e os tradicionais coleccionadores de figuras de vinil e afins odiaram-nos porque só gostavam de coisas pseudo-realistas, articulados e assim", explica o lojista, que em 2014 chegou mesmo a fazer algumas palestras sobre esta tendência. Até que o mercado encontrou um nicho: as mulheres com cerca de 30 anos, que estavam afastadas do universo do coleccionismo.

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Existem Pop! para um bocadinho de tudo, diz Tiago Santos Nelson Garrido

"Depois", conclui Mário, "dá-se a mudança para o nome actual e para o formato da caixa que conhecemos hoje — e, a partir daí, é caso para dizer que a história fala por si." A estratégia actual passa por colocar no mercado coleccionáveis das "mais famosas séries de televisão, como Game of Thrones ou The Walking Dead; dos filmes mais populares, como Harry Potter ou Star Wars; e das personagens de filmes e bandas desenhadas da Marvel ou da DC". Um fenómeno que atingiu também o mercado japonês, com a reprodução de personagens de manga e anime — e que recentemente chegou até aos jogadores de futebol da liga inglesa.

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Once you Funko Pop! you just can't stop é o slogan da Pop-Addiction Nelson Garrido

São bonecos de vinil, mas "estilizados", o que muda tudo. "A Funko encontrou mesmo a fórmula ideal que combina o package [a embalagem] com o formato do boneco", concretiza o proprietário da Kingpin Books. A ideia pegou, de tal forma que já tem ramificações para todo o lado e mais algum. Para além das figuras básicas, que medem cerca de dez centímetros e têm uma cabeça de balão, a linha expande-se, tanto em termos de aparência, como de preço. "Se forem limitadas em número e tiverem grande procura, as figuras vão valorizar bastante", explica Tiago Santos. Às vezes, basta uma pequena variante: é o que acontece com as versões Chase, em que uma figura em cada seis é diferente, distinguindo-se das restantes por causa de um único elemento ou pela cor do boneco. Há ainda espaço para os Flocked, com pêlo, os Diamond, com glitter, os Black and White, a preto e branco, os Glow In The Dark, que brilham no escuro, os Metallic, pintados a tinta metálica. Já para não falar dos Super Sized (com 15 a 25 centímetros) e, mais recentemente, dos Movie Moments, que recriam num registo Pop! momentos de filmes e séries.

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No ano passado, a Funko facturou 430 milhões de euros Nelson Garrido

A parada sobe ainda mais quando são lançados bonecos exclusivos ou quando as figuras esgotam nos pontos de venda habituais: os chamados Vaulted, bonecos que a marca deixou de produzir. Actualmente, o Pop! mais raro do mundo é a personagem mais orelhuda da Disney: o elefante Dumbo, pintado como um palhaço. Lançado em 2013 durante a San Diego Comic Con, este boneco conta apenas com 48 exemplares que, naquele evento, foram comprados por quase dez dólares (o equivalente a oito euros, mais ou menos). Agora? Pode ser vendido pelo simpático preço de 4170 euros.

E como é que se estima o preço de um Pop! numa venda pessoal? É pelo preço que o vendedor lhe quer atribuir? Também, mas um verdadeiro coleccionador irá consultar o Pop Price Guide (PPG), um site que, segundo Tiago Santos, "faz um apanhado dos artigos vendidos no eBay", dando depois uma média do valor das figuras. E agora há a Popspedia, uma aplicação móvel com a mesma funcionalidade, mas com "um sistema mais fácil e mais actualizado".

"Não são bonecos, são bonecos de colecção"

Em 2014, Nuno Santos, formado em engenharia informática, emigrou para a Noruega; dois anos depois, surgiu o bichinho dos Pop!. Actualmente com mais de 780 figuras, o chef de cozinha de 29 anos confessa ao P3 que no primeiro ano comprou bonecos "por todos os anos para trás". Tudo começou depois de ver Rogue One, o filme da saga Star Wars lançado no final de 2016. "A minha ideia era comprar o drone do BB-8, só que fui à [loja] Game e não havia. Então acabei por comprar o Pop! que eles lá tinham." "Foi", brinca, "um grande erro". Agora, dedica-se a tentar "comprar figuras para completar colecções". Do Harry Potter já tem "todas as que saíram no mercado". Depois, não se cansa de Stranger Things e Rick and Morty. "São colecções que fazem mais sentido para mim porque são séries de que gosto."

Esta paixão pode levar a pequenas loucuras — ou a pequenas paragens durante as férias, melhor dizendo. "A minha esposa decidiu que íamos ver uma zona natural na Noruega, que fica mais ou menos a 600 quilómetros de nossa casa", conta Nuno. "E então fiz um roteiro de ida que passasse pelo máximo de lojas de Pop! possível." Até que descobriu que uma das figuras mais procuradas por si estava à venda numa loja. "Fiz um desvio de 120 quilómetros para ir buscar um Buzz [Lightyear, do filme Toy Story] pequeno e depois regressei ao roteiro", explica, entre risos. Com uma colecção avaliada, "mais ou menos", em 15 mil dólares (mais de 12.500 euros), Nuno diz que se pode "considerar viciado, não a comprar, mas a ver" — se estiver em casa, no Facebook, está sempre de olho nos Pop!. "Muita gente diz 'então, como é que vai essa colecção de bonecos?' e eu respondo 'não são bonecos, são bonecos de colecção'."

Deste lado do continente, contudo, foi a nostalgia que levou Rui Pedro Mota a coleccionar estas figuras de vinil. Natural de Lousada, o jovem de 33 anos, proprietário de um restaurante, ingressou nesta aventura do coleccionismo no início de 2014, depois de já coleccionar estátuas, livros e revistas de banda desenhada. Tudo por causa do SackBoy, o protagonista da série de jogos LittleBigPlanet da PlayStation. "Eu já tinha visto as figuras antes, já tinham aparecido nalgumas lojas, mas não houve nenhum que chamasse à atenção", explica Rui. "Naquela altura eu comprei o Pop! e já não jogava há anos, mas relembrou-me dos bons momentos que tinha passado a jogar com amigos — e aquilo transportou aquela nostalgia do jogo."

O mesmo aconteceu com outros Pop!. Ao ver que o preço por figura era relativamente baixo, "em média 15 euros", Rui começou a sua colecção numa altura em que o país ainda mal tinha acolhido estes bonecos. Encontrou uma alternativa na Internet. Começou a comprar através da Amazon e hoje conta com cerca de 750 figuras — uma colecção avaliada em cerca de 16.780 euros. "É como se diz muitas vezes entre coleccionadores: eles devem ter alguma coisa que vicia." Mas se um Pop! é barato, muitos tornam-se caros "e tu queres sempre todos". O próprio Rui que o diga.

Entre risos, conta ao P3 que chegou a dar 530 euros por um dos 480 Winnie The Pooh (Flocked) que foram lançados durante a San Diego Comic Con, em 2012. "Mas acabei por vendê-lo porque não achei que fizesse sentido ter dado aquele dinheiro pelo Pop!." Agora, aliás, até vendeu parte da sua colecção "para poder ter algum dinheiro, com vista a completar alguns dos sets". É um comportamento típico, sublinha Tiago Santos: "Todos os coleccionadores que são coleccionadores e não clientes pontuais, começam por querer comprar um bocadinho de tudo, mas, mais cedo ou mais tarde, acabam por sentir a necessidade de começar a reduzir [a colecção] para coisas de que gostam, devido ao espaço que as figuras ocupam."

Rui concorda: "Tornou-se um problema de espaço e um problema de exposição porque [a maior parte dos Pop! acaba por] não ser exposto." Há quem coleccione e exiba estas figuras fora das embalagens — os chamados coleccionadores Out of the Box — mas o jovem lousadense prefere mantê-los intactos. É que, diz, "a caixa faz parte da colecção em si". "Claro que acontece comprar um Pop!, abri-lo dois anos depois e só assim ver certos pormenores em que não tinha reparado, mas acho que o formato de janela da caixa, que permite veres o Pop! e toda a decoração, para mim faz parte da colecção."

Mas retirando as figuras da caixa o seu valor não deveria descer, como acontece com a maioria das figuras coleccionáveis? "Nim". As caixas dos Pop! permitem que os bonecos sejam retirados sem causar nenhum dano, mas normalmente tenta-se que estejam intocáveis (o chamado estado "mint condition", entre esta comunidade). Tiago Santos, proprietário da Pop-Addiction, conta que no início, quando começou a coleccionar, "as caixas assumiam um papel bastante importante": "Uma figura que valesse 100 euros no mercado de vendas pessoais, sem caixa valeria cerca de 20 ou 30 euros." Neste momento, contudo, a situação mudou. Apesar de os Pop! dentro das caixas continuarem a ser os preferidos (muitos coleccionadores também as guardam espalmadas), a quebra do preço já não é tão acentuada. Porque "é a própria figura o coleccionável e não a caixa", diz Tiago. E, enquanto lojista, explica porquê: "[Actualmente] existe, se calhar, uma perda de 20 por cento no valor de uma figura sem caixa, até porque a própria marca não permite que devolvamos o produto caso uma caixa chegue amassada porque o coleccionável não está partido."

E quem quiser começar a coleccionar agora, ainda vai a tempo? "Tem tudo a ver com o poder de compra de cada um", considera Rui, uma vez que as edições mais antigas valem agora centenas de euros. E depois temos o caso da Disney, por exemplo, que "está a reeditar alguns" bonecos, o que coloca certas figuras, antes inalcançáveis, ao alcance dos coleccionadores mais tardios. Certo é que o "fenómeno se está a espalhar e a atingir uma proporção gigantesca", aponta Mário Miguel Freitas. "É, sem qualquer réstia de dúvida, o maior fenómeno de coleccionismo mundial do momento — e que ninguém tenha dúvidas disso."