Visando a imigração, a Liga ambiciona ocupar todos os cargos relativos à segurança

O acordo demora. Di Maio e Salvini admitem fazer uma proposta com nomes ao Presidente na segunda-feira. Mas nada é certo.

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Di Maio ainda pode ser primeiro-ministro? Salvini diz que não GIUSEPPE LAMI/EPA

Luigi di Maio, “chefe político” do M5S, voltou ontem a anunciar que a discussão do programa estava fechada e apenas faltava a indicação do nome do primeiro-ministro. Mas Matteo Salvini, secretário-nacional da Liga, logo garantiu que não.

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Luigi di Maio, “chefe político” do M5S, voltou ontem a anunciar que a discussão do programa estava fechada e apenas faltava a indicação do nome do primeiro-ministro. Mas Matteo Salvini, secretário-nacional da Liga, logo garantiu que não.

Salvini apontou a segunda-feira como o dia decisivo: ou fecham um acordo e vão comunicar o programa e os nomes ao Presidente Sergio Mattarella, ou acabam as negociações. Salvini consultará as secções do partido durante o fim-de-semana.

Um dos temas quentes diz respeito aos imigrantes, tanto mais que a Liga ambiciona ocupar todos os cargos relativos à segurança. A imigração e da ordem são os mais mobilizadores da Liga e o seu “bilhete de identidade”.

Matteo Salvini, a crer em “fontes próximas da negociação”, já teria garantido o Ministério do Interior e o seu “número dois”, Giancarlo Giorgetti, poderia vir a ser o próximo subsecretário da Presidência do Conselho, o cargo que controla os serviços secretos. Os adversários temem uma “deriva securitária”.

Em troca da segurança, Salvini poderia até aceder à eventual nomeação de Di Maio como primeiro-ministro. Mas isso não é nada certo: em declarações à Skytg24, ao fim do dia Salvini disse nem ele nem “Di Maio” estavam a ser considerados para o cargo de chefe do Executivo italiano.

O factor Europa

Uma “fuga de informação” com uma primeira versão do programa, na terça-feira, recentrou o debate público na questão europeia. Numa segunda versão, foi retirada a referência a um processo de saída do euro. O segundo texto continua a ser vago nos pontos mais polémicos.

Um exemplo: a alusão à saída do euro foi substituída por um curto parágrafo em que se diz que “no actual contexto e à luz das problemáticas que emergiram nos últimos anos, torna-se necessária uma rediscussão dos tratados da UE e do quadro normativo principal”.

Entretanto, as críticas e avisos de três comissários europeus reacenderam o debate, provocando uma enérgica reacção soberanista dos dois partidos.

A “ingerência europeia” reaproximou-os, numa base eurocéptica, sendo patente uma radicalização do discurso do M5S, que tinha sido moderado nas últimas semanas. Fontes do Governo italiano em funções avisaram Bruxelas de que os comissários devem aprender a fechar a boca e não lançar mais achas na fogueira.

O processo negocial está a ser longo, tal como muitas vezes aconteceu durante a “primeira República”. Mas os analistas reconhecem a extrema dificuldade com que Di Maio e Salvini se confrontram.

Lembram o exemplo das negociações na Alemanha para a formação do actual Governo: a distância programática entre a CDU e o SPD, no entanto, é muito menor do que aquela que separa a Liga do M5S. Para lá dos programas, trata-se de dois partidos com eleitorados e culturas políticas dificilmente conciliáveis. Esse é o ponto fraco desta aliança.