Por que não te Callas?

Os trâmites do documentário sobre figuras musicais, entre a recolha de imagens de arquivo e a ocasional pontuação de um “intermezzo” musical, algo que parece apontar mais ao consumo via televisão do que numa sala de cinema.

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Exclusivamente para devotos de Callas, mas mesmo esses serão os primeiros a ficar decepcionados

O filme de Tom Volf sobre Maria Callas não é muito diferente, nem na forma nem na substância, de um filme por cá estreado há poucas semanas, “Chavela”, sobre a homónima cantora mexicana. “Diva” por “diva” (ou sem aspas no caso de Callas), são os trâmites habituais do documentário sobre figuras musicais, entre a recolha de imagens de arquivo e a ocasional pontuação de um “intermezzo” musical, tudo feito de uma maneira que parece apontar mais ao consumo via televisão do que propriamente numa sala de cinema.

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O filme de Tom Volf sobre Maria Callas não é muito diferente, nem na forma nem na substância, de um filme por cá estreado há poucas semanas, “Chavela”, sobre a homónima cantora mexicana. “Diva” por “diva” (ou sem aspas no caso de Callas), são os trâmites habituais do documentário sobre figuras musicais, entre a recolha de imagens de arquivo e a ocasional pontuação de um “intermezzo” musical, tudo feito de uma maneira que parece apontar mais ao consumo via televisão do que propriamente numa sala de cinema.

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VIDEO_CENTRAL

Mas se partilha com Chavela uma virtude de base (o contacto com o documento de época é sempre inerentemente valioso), é um filme muito mais pobre e muito mais fetichista. Adjectivos que se reúnem na sua fixação pela figura de Callas, abstraindo de tudo o resto: vêem-se muitas imagens do mundo em Maria By Callas, dos anos 50 aos anos 70 (até imagens de Lisboa), mas esse mundo fica sempre à porta, é uma abstracção. No outro filme que citámos ficava-se com uma ideia precisa do mundo em que Chavela se movimentou, e do que é que ela representou dentro dele. Em Maria by Callas, não: nem há mundo nem há um grama de reflexão sobre o lugar de Callas nele.

Sem isso, e apesar de Volf reconstituir com alguma habilidade (isto é, sem recurso a grandes explicações off) os anos do apogeu de Callas até à sua prematura morte, ficamos só com uma espécie de personagem de telenovela, entre as crises profissionais e as crises sentimentais, numa falta de profundidade que, pese todo o desejo de homenagem subjacente ao projecto, não podemos deixar de sentir como insultuoso para a figura da cantora — “não, ela não pode ser só isto”. E obviamente não era, mas a montagem de Tom Volf, que parece uma compilação do YouTube, nivela tudo, como se todas as imagens e todos os episódios tivessem a mesma ordem de importância e significado intrínsecos, e imagens de um cruzeiro indistinto no veleiro de Onassis valessem o mesmo que a footage da rodagem de Medea (o encontro de Callas com Pasolini para um filme genial). Exclusivamente para devotos de Maria Callas, mas mesmo esses, estamos em crer, serão os primeiros a ficar decepcionados.