Ruas de Berlim mudam de nome para apagar referências ao passado colonial

A proposta vai ser votada em breve, mas não passa de uma formalidade: os três partidos necessários para a aprovação lançaram uma moção conjunta onde apelavam à mudança.

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CORTESIA Afrika Medien Zentrum

As ruas do Bairro Africano berlinense que fizerem referência ao passado colonial vão mudar de nome. Depois de mais de uma década de debate, a mudança vai finalmente a votos. Na verdade, a votação é uma mera formalidade: os conselheiros locais já concordaram com a mudança e os três partidos necessários para a aprovação lançaram uma moção conjunta nesse sentido, por isso os media alemães já dão como certa a sua aprovação.

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As ruas do Bairro Africano berlinense que fizerem referência ao passado colonial vão mudar de nome. Depois de mais de uma década de debate, a mudança vai finalmente a votos. Na verdade, a votação é uma mera formalidade: os conselheiros locais já concordaram com a mudança e os três partidos necessários para a aprovação lançaram uma moção conjunta nesse sentido, por isso os media alemães já dão como certa a sua aprovação.

“O Bairro Africano ainda glorifica o colonialismo e os seus crimes”, lê-se na moção escrita pelos Verdes, Sociais-Democratas e partidos de Esquerda. “Isto é conflituoso com a nossa percepção de democracia e prejudica, de forma duradoura, a imagem da cidade de Berlim”, cita a BBC.

“É uma chapada na cara das pessoas negras de cada vez que andam por estas ruas, que honram aqueles que cometeram crimes tão sérios em África”, disse Tahir Della, responsável pela organização sem fins lucrativos "Iniciativa de pessoas negras na Alemanha", que apoiou a mudança de nome, ao Guardian.

Mas há quem não concorde. Karina Fulusch, porta-voz de uma comissão de residentes que se opõem à mudança (que dizem ser “politizada e ideológica”), alegam que apenas vai promover a “amnésia histórica”. “O simples desaparecimento dos nomes controversos da malha da cidade não vai encobrir o facto de ser necessária uma discussão profunda sobre o legado colonial alemão”, disse Fulusch ao diário britânico.

Animais e pessoas "exóticas" vindos das colónias

A história do Bairro Africano remonta ao século XIX, no qual a maioria dos Estados europeus se gabava das suas colónias africanas. O bairro nasceu porque Carl Hagenbeck, comerciante de animais, tinha um plano para Berlim: queria instalar um jardim zoológico permanente, com animais e pessoas “exóticas”, vindos das colónias, em jeito de celebração do sucesso do projecto colonial alemão. Hagenbeck morreu antes de conseguir tornar real o seu plano (em 1913, pouco antes de estalar a Primeira Guerra Mundial), mas por essa altura já o nome das ruas estavam decididos – e eram todos de países africanos ou de heróis coloniais alemães.

A colonização alemã de países africanos, como a República Central Africana, Namíbia, Togo, Tanzânia ou Burundi durou entre 1884 e 1919. Durante esses anos, os colonizadores alemães linchavam e escravizavam os homens, violavam as mulheres e raparigas e matavam aos milhares em campos de concentração.

Só entre 1904 e 1908 morreram cerca de 100 mil indígenas Herero e Nama, naturais da Namíbia (quase 80% da população total), e os que não morreram foram para campos de concentração. Esta foi uma das maiores repressões de uma revolta popular de que há memória. Para os historiadores foi o primeiro genocídio do século XX, mas os alemães só o reconheceram em 2016.

Actualmente, vários nomes de ruas fazem referência a heróis do passado colonial, como Adolf Luederitz, “fundador” da colónia da Namíbia, ou Carl Peters, um homem tão violento que ganhou os cognomes “Carrasco Peters” ou “Mãos Sangrentas” no país da África Austral – e a admiração de Adolf Hitler.

Entre as sugestões de substituição estão Avenida Maji Maji, referência a um grito de guerra usado pelos indígenas; Avenida Anna Mungunda, em celebração da primeira mulher Herero a liderar um movimento independentista ou Rua Cornelius Frederiks, líder da luta dos Nama contra os alemães.

Apesar do nome, o Bairro Africano é um bairro multiétnico, de classe média e os moradores de origem africana constituem apenas 6% da população deste bairro.