Desde a tempestade Hércules que o mar não causava tantos estragos

Em Esposende, o problema da barra agudizou-se. No Algarve há registo de pelo menos vinte desmoronamentos em arribas na costa.

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PAULO PIMENTA

A previsão de ondulação do quadrante oeste, com vaga de 10 a 15 metros na costa ocidental é sinal de preocupação para zonas do país habitualmente sujeitas aos efeitos da erosão costeira, que se agudizam nestes períodos de tempestade no mar. Quando comparado com 2014, que ficou na memória por causa da tempestade Hércules, o Inverno tem sido menos duro, mas nas últimas semanas, quer a tempestade Emma, quer o temporal Félix, que este fim-de-semana afecta o Continente, obrigam a atenções redobradas.

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A previsão de ondulação do quadrante oeste, com vaga de 10 a 15 metros na costa ocidental é sinal de preocupação para zonas do país habitualmente sujeitas aos efeitos da erosão costeira, que se agudizam nestes períodos de tempestade no mar. Quando comparado com 2014, que ficou na memória por causa da tempestade Hércules, o Inverno tem sido menos duro, mas nas últimas semanas, quer a tempestade Emma, quer o temporal Félix, que este fim-de-semana afecta o Continente, obrigam a atenções redobradas.

Na verdade, este será, em termos de efeitos na costa, o pior Inverno desde o de 2014, segundo a Agência Portuguesa do Ambiente. Num levantamento provisório actualizado até esta semana, esta entidade descrevia que “de uma maneira geral, as zonas mais afectadas pelos recentes temporais (situações de erosão e/ou danos no litoral) foram algumas praias do litoral de Esposende, Ovar, Figueira da Foz, Cascais, Almada, Setúbal, Sesimbra, Portimão, Albufeira, Faro e Tavira". No Algarve, duramente fustigado pela tempestade Emma, desde o final de Fevereiro e até meados desta semana, “há registo de pelo menos 20 desmoronamentos em arribas rochosas”, explicou o gabinete de imprensa deste organismo.

Segundo a APA, as situações estão ainda ser analisadas caso a caso com as autoridades locais, mas, adianta, os casos da Praia de São João da Caparica e Praia de Faro “merecem especial atenção, sendo que na primeira foram já accionadas algumas medidas de reforço do cordão dunar (com sacos de areia) junto a um apoio de praia (acção efectuada pelo proprietário) e efectuada monitorização do estado da praia (dia 6 de Março) para avaliação dos impactos em termos de erosão e recuo da linha de costa”.

Se nuns lados é notícia o desaparecimento de areais, em Esposende, um dos concelhos do norte onde é mais visível o recuo da costa, este fim de Inverno com ar de ... Inverno agudizou os problemas da barra da foz do Cávado, onde se amontoam areias que, na maré baixa, criam uma praia indesejada. Na preia-mar, o mar galga esta muralha - que impede os pescadores de trabalharem - e chega a entrar na marginal, explica a vice-presidente da autarquia, Alexandra Roeger.

A vereadora, que detém os pelouros do Ambiente e da Protecção Civil, afirma que há uma intervenção de desassoreamento prevista para Maio, estando ainda agendada uma obra no molhe norte, também ele danificado, de modo a reforçar o seu papel de travão à acumulação das areias trazidas do quadrante norte. Mas até lá, se nada for feito, mesmo em dias de bom tempo a comunidade piscatória local vai continuar impedida de ir ao mar, dado o estado calamitoso desta barra. Uma situação que está por resolver há anos.

Perto dali, na restinga do Cávado,  mais exposta ao mar, a intervenção do Polis Litoral Norte, de reforço do cordão dunar com recurso a telas de geotêxteis, levada a cabo há um ano, vai ter de ser refeita, explicou a autarca. Uma escolha de materiais menos resistentes do que seria desejável, a acção do mar e até algum vandalismo, adiantou, puseram em causa o trabalho realizado. Em todo o caso, segundo Alexandra Roeger, depois de uma negociação com o empreiteiro é garantido que não será o Estado a assumir os custos com a repetição desta empreitada, que deverá decorrer até ao Verão.

A Câmara de Esposende, a Agência Portuguesa do Ambiente e a capitania local estão também atentas a situações já clássicas, como a da Praia de Cedovém, onde o mar tem andado a escavar as areias sob uma casa. Para além desta habitação em risco, o concelho tem ainda problemas que exigem atenção, nestes dias de Inverno mais forte, na praia da Bonança, em Fão, por exemplo.

No Algarve, a tempestade da semana passada deixou marcas bem visíveis em vários concelhos. Enquanto em Faro se pedia uma  intervenção urgente” na ilha homónima, onde o mar ameaça rasgar o cordão dunar em três pontos - frente ao parque de campismo, na direcção que dá acesso à ilha e no lado poente -  em Tavira, para além de um areal levado pelo mar, depois de uma operação de reposição de sedimentos que custou três milhões de euros, os estragos causados na Praia do Barril atingiram também um património importante: o cemitério das âncoras da antiga armação de pesca do atum, que ficou à mercê das águas.

A APA está a prestar especial atenção a esta zona do país, menos habituada à fúria do mar. A Leste de Tavira, em cacela Velha, Vila Real de Santo António, a movimentação das areias levou ao encerramento da barra que o mesmo mar tinha aberto em 2010. Neste caso, a flutuação de fases de abertura/fecho da comunicação com o mar faz parte da história local, mas o talude que sustenta o forte da localidade foi afectado, tendo motivado um pedido de reunião urgente à APA, por parte do município, noticiava a meio da semana o Jornal do Baixo Guardiana.