Mona Lisa pode sair do Louvre pela primeira vez em 44 anos

A cidade de Lens, no Norte de França, lançou uma campanha para receber este retrato com cinco séculos, provavelmente o mais famoso do mundo. Ministra da Cultura quer a pintura a circular por vários museus, mas para isso terá de vencer as resistências dos conservadores do Louvre, que garantem que não está em condições de viajar.

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A obra está danificada: tem uma fissura na parte de trás que impede viagens Reuters/Jacky Naegelen

Mona Lisa pode vir a deixar o Museu do Louvre pela primeira vez em 44 anos. A ministra da Cultura francesa, Françoise Nyssen, deixou em aberto a possibilidade de fazer viajar a obra-prima de Leonardo Da Vinci por vários museus franceses. A câmara de Lens, cidade no Norte do país, já lançou uma campanha para receber a obra com cinco séculos, contrariando as críticas dos conservadores parisienses.

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Mona Lisa pode vir a deixar o Museu do Louvre pela primeira vez em 44 anos. A ministra da Cultura francesa, Françoise Nyssen, deixou em aberto a possibilidade de fazer viajar a obra-prima de Leonardo Da Vinci por vários museus franceses. A câmara de Lens, cidade no Norte do país, já lançou uma campanha para receber a obra com cinco séculos, contrariando as críticas dos conservadores parisienses.

Françoise Nyssen revelou, numa entrevista à rádio francesa Europe 1, estar a “considerar seriamente” enviar esta pintura com mais de 500 anos a outros pontos do país. A ministra disse estar a negociar com o Louvre de Paris o seu empréstimo a outros museus por considerar que obras-primas com tamanha importância cultural não devem estar restringidas a uma só instituição. “A minha prioridade é lutar contra a segregação cultural”, explicou, e por isso quer pôr em marcha “um plano em larga-escala para fazer movimentar [as obras de arte]”. Nyssen não especificou, no entanto, se a obra poderá voltar a sair do país.

Perante as críticas dos conservadores do Louvre, que salientam a fragilidade da pintura, Nyssen defende-se: “Tivemos a mesma reacção quando nos propuseram emprestar a tapeçaria de Bayeux”, disse a ministra à Europe 1, referindo-se ao empréstimo da tapeçaria com quase 950 anos que retrata a invasão normanda da Inglaterra por Guilherme, o Conquistador, em 1066, ao Reino Unido, aprovado pelo Presidente Emmanuel Macron e destinado a uma exposição marcada para 2022, que muito provavelmente terá por cenário o Museu Britânico (ainda não é certo o local).

Lens já lançou uma campanha onde se mostra disponível para receber a obra de arte de Leonardo, na qual se envolveram oito milhares de apoiantes. Sylvain Robert, presidente da câmara, escreveu uma carta a Emmanuel Macron a pedir que a pintura passasse pela extensão do Louvre naquela cidade assim que tomou conhecimento das palavras da ministra da Cultura, avança a Europe 1.

O pedido ecoa a vontade da população de Lens, que já tinha usado um jogo de futebol entre a equipa de Lens e o Valência, no dia 10 de Fevereiro, para mostrar uma bandeira com uma reprodução deste célebre retrato de uma dos grandes mestres do Renascimento  — “Mona Lisa, o coração do povo de Lens bate por ti”, lia-se.

A obra-prima de Leonardo começou a ser pintada em Florença algures entre 1503 e 1504, de acordo com a cronologia da PBS, e foi depois transportada para a sua última casa, quando o rei de França, Francisco I, mecenas do artista, fez dele seu pintor oficial e o instalou no Palácio de Clos Lucé, no Vale do Loire, a escassos 700 metros do castelo de Amboise, uma das residências do monarca. Mona Lisa permaneceu no atelier do mestre até à sua morte, em 1519, porque, dizem os biógrafos, Leonardo quis, até ao fim, aperfeiçoá-la. Francisco I vai levá-la, depois, na década de 1530, para o seu Palácio de Fontainebleau.

No século XIX, a pintura estava na posse de Napoleão, que o mantinha no seu quarto no Palácio das Tulherias. Em 1797 terá chegado ao Louvre. A partir daí, só saiu do museu em raras ocasiões. Durante as duas grandes guerras, a obra foi guardada noutro local por razões de segurança. Foi emprestada duas vezes: uma em 1963, altura em que viajou para os EUA e passou por Washington e Nova Iorque, e outra em 1974, quando foi emprestada ao Japão, tendo sido exposta também em Moscovo. Durante esta viagem, a obra foi danificada de forma grave: abriu-se uma fissura na parte de trás da placa de madeira onde foi pintado o retrato enigmático de Lisa Gherardini, mulher do mercador florentino Francesco del Giocondo. A partir daí, a pintura foi colocada numa caixa isotérmica, de onde nunca sai por mais de duas horas.

Em 1911, Mona Lisa foi roubada por um funcionário italiano do museu do Louvre, Vicenzo Perugia, que levou a pintura de novo para Itália. A obra foi encontrada em Florença dois anos depois. Este roubo parece ter estado no centro da decisão do governo de François Hollande quando, em 2011, rejeitou um pedido de Florença para fazer regressar o trabalho à terra natal de Leonardo.