Livraria Miguel de Carvalho fecha as portas em Coimbra

O livreiro ocupava um prédio oitocentista de três andares na Baixa coimbrã, onde também organizava exposições e vinha mantendo uma programação cultural regular.

Foto
Sérgio Azenha

A Livraria Miguel de Carvalho, que se mudara em 2001 para um edifício oitocentista da Baixa de Coimbra, na Rua Adro de Baixo, vai fechar as portas no próximo dia 31 de Março, anunciou o livreiro antiquário, que passará a comercializar o vasto fundo bibliográfico de que dispõe através da sua livraria on line.

A verdade faz-nos mais fortes

Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.

A Livraria Miguel de Carvalho, que se mudara em 2001 para um edifício oitocentista da Baixa de Coimbra, na Rua Adro de Baixo, vai fechar as portas no próximo dia 31 de Março, anunciou o livreiro antiquário, que passará a comercializar o vasto fundo bibliográfico de que dispõe através da sua livraria on line.

Com formação académica em Geologia – publicou vários trabalhos nesta área e prepara um doutoramento em Cartografia e Paleontologia –, Miguel de Carvalho dedica-se ao alfarrabismo desde 1995, quando abriu a sua primeira livraria em Coimbra, um pequeno espaço num primeiro andar próximo da Universidade. O negócio correu suficientemente bem para lhe permitir mudar-se, em 1998, para um novo espaço com quatro salas em plena Baixa. E em 2001 mudou-se finalmente para o prédio de três andares da Rua Adro de Baixo, onde não apenas disponibiliza um acervo de quase 50 mil títulos, como promove regularmente exposições e organiza lançamentos de livros e outras iniciativas.

“A ideia era obrigar as pessoas a largar os monitores dos computadores”, explica Miguel de Carvalho, “e felizmente até consegui, mas as políticas culturais de Coimbra confundem cultura com turismo e o público da cidade deixou de vir a um centro histórico que não tem nada a oferecer”. O “comércio de qualidade”, diz, “desapareceu da Baixa há cinco ou seis anos”, substituído “por lojas de artigos de cortiça e suposto artesanato”.

Na sua página no Facebook, o livreiro anunciou esta quinta-feira que encerrará definitivamente a livraria no final do mês e centrará a sua actividade no negócio on line, mas adianta que pretende também abrir a visitas o depósito de livros que possui na Figueira da Foz, onde vive, por enquanto apenas mediante marcações por email ou telefone, embora não exclua vir a criar “um possível e curto” horário de abertura ao público. 

Há muito que as vendas on line ultrapassavam de longe as que ia fazendo ao balcão, explica Miguel de Carvalho ao PÚBLICO, e, com o progressivo agravamento dos custos, era já só “por casmurrice” que mantinha as portas abertas.

No texto em que anuncia o encerramento, o livreiro esclarece que a medida não afectará a sua actividade enquanto editor da chancela Debout Sur l'Oeuf, onde tem publicado livros relacionados com o surrealismo e vários poetas contemporâneos, como José Carlos Soares, Rui Baião, Manuel Fernando Gonçalves, Jorge Aguiar Oliveira, Nuno Moura, Vasco Gato, Sandra Andrade ou André Domingues, entre outros.

Por coincidência, a Livraria Miguel de Carvalho fechará precisamente no mesmo dia que a Pó dos Livros, de Jaime Bulhosa, em Lisboa, juntando-se ambas ao considerável número de livrarias e alfarrabistas que têm vindo a desaparecer nos últimos anos, sobretudo nos centros históricos das principais cidades portuguesas, onde a pressão do turismo tem feito disparar os preços das rendas