Braga expõe a paixão do casal Buehler-Brockhaus pela cultura clássica

Museu D. Diogo de Sousa prepara exposição com 200 peças representativas de cinco décadas de incursões por vários países.

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A um mês de comemorar o centenário, o Museu Regional de Arqueologia D. Diogo de Sousa, em Braga, começou a receber, esta sexta-feira, as 200 peças de um conjunto arqueológico que se estende por cerca de mil anos, desde o período arcaico da Grécia Antiga até à fase tardia do Império Romano, recolhido pelo casal alemão Buehler-Brockhaus, radicado em Portugal desde 2006. O material doado destina-se a uma exposição que vai ser inaugurada no Outono.

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A um mês de comemorar o centenário, o Museu Regional de Arqueologia D. Diogo de Sousa, em Braga, começou a receber, esta sexta-feira, as 200 peças de um conjunto arqueológico que se estende por cerca de mil anos, desde o período arcaico da Grécia Antiga até à fase tardia do Império Romano, recolhido pelo casal alemão Buehler-Brockhaus, radicado em Portugal desde 2006. O material doado destina-se a uma exposição que vai ser inaugurada no Outono.

O espaço reservado pelo Museu D. Diogo de Sousa para a exposição já começou a ser ocupado por alguns dos artefactos coleccionados por Marion Buehler-Brockhaus e Hans-Peter Buehler desde o princípio dos anos 60, nas excursões pelo território mediterrânico, desde o que hoje corresponde à Turquia até Portugal. Este casal percorreu os núcleos romanos de Faro até ao Porto em 1994, e mudaram-se de Munique para Setúbal, em 2006.

Uma ala da sala exibe recipientes gregos de cerca de 700 a.C: uns em vidro azul-esverdeado, recolhidos nos solos calcários da Apúlia e da Campânia, no sul de Itália, outros em cerâmica, figurados e encontrados em túmulos, pelo que, segundo a directora do museu, Isabel Silva, estariam ligados a “significados mais sagrados” no âmbito da mitologia grega. Pelo resto da sala veêm-se algumas esculturas sem cabeça ligadas ao Império Romano, do século I e II d.C., incluindo uma figura feminina num trono, em mármore, recolhida na Turquia, e, numa parede, um mosaico do século III e IV d.C., oriundo do Norte de África.

Essa peça foi uma das últimas que o casal adquiriu, conta Marion.  “Depois da reforma, tivemos mais tempo e meios para comprar as peças. As grandes só as comprámos recentemente, depois dos 65 anos. As pequenas, de vidro, já as temos há muitos anos”. Depois de ter estudado história da arte e arqueologia na Alemanha, tal como o marido, a coleccionadora ainda mantém viva a “paixão" pela arqueologia, alimentada pelas escavações e pelas visitas aos museus arqueológicos em cidades como Nova Iorque, Paris e Madrid, ao longo dos anos, e acredita que o conjunto doado, sem restrições, ao museu arqueológico tem peso internacional.

Destino de cerca de 75 mil visitantes no ano passado, o D. Diogo de Sousa tem o centenário à porta – foi fundado a 28 de Março de 1918 -, mas a exposição deve ser apenas inaugurada no último trimestre do ano, visto ser ainda necessário construir toda a museografia da sala e valorizar a colecção com informação complementar, que dê origem a estudos mais aprofundados no futuro, revelou Isabel Silva.

Segundo a directora, o espólio do casal Buehler-Brockhaus – que inclui ainda, por exemplo, a cabeça em mármore do imperador Trajano, que governou de 98 d.C. a 117 d.C. – contrasta com a cultura atlântica do noroeste peninsular, expressa nas cerca de duas mil peças da colecção permanente do museu. “Enquanto esta colecção vem do mundo do Mediterrâneo, a nossa colecção tem a ver, no mesmo período histórico, com o traço característico da cultura na faixa ocidental, na região mais afastada do Império Romano”, observa.

Presente aquando da chegada dos primeiros artefactos, a vereadora da cultura da Câmara de Braga, Lídia Dias, frisou que a colecção vai tornar o museu num lugar de “novas interpretações”, que vão proporcionar uma “outra viagem pelo mundo romano”.